As ilustrações desse texto são de Alexandra Rubinstein

Na hora do sexo, rebole

Os homens e a estranha repulsa por rebolar na hora do sexo. Menos, meninos.

Ricardo Silva
Retalhos de Tudo
Published in
5 min readOct 12, 2015

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Foder todo mundo fode. Se foder então, nem me fale. Mas parece que mesmo nesses nossos tempos onde a liberdade sexual é tão bem defendida, há quem teime em achar que sexo é meter e tchau; há quem ache que sexo é só meter — dar tchau já é demais; há quem não consegue entender que sexo não resume a 10 minutos; tem quem ache que é vai e vem, acabou e nem. Pior do que tudo isso: há quem não saiba de que sexo é um exercício. Não só físico, mas um exercício de alteridade, de se projetar no outro.

Ainda considerado como sexo “natural” — os naturalistas choram sangue! -, o pior dos sexos é o hétero. Dizer porquê talvez seja uma obviedade, mas vale dar uma razão pra isso. É porque no sexo hétero há o pior personagem de qualquer relação sexual: o homem hétero. O homem, aquele ser clássico, é bicho ruim de foda. Aprendeu que o que está valendo é meter e sair correndo. Conseguiu meter? Pronto, continue num movimento só até o menino cuspir e segue adiante. “Em quem você estava metendo? Ah tem isso né?”

A educação — se isso pode ser chamado de educação — sexual masculina foi desenvolvida com base na mentalidade da cabeça que não pensa, da cabeça de pica. E pica, meu velho, só serve pra uma coisa, não é? “Mas porra Ricardo, qual é a tua cara?" A minha não é tua. Venho, não é de hoje, na luta solitária e silenciosa da boa foda. Todo mundo gosta de foder, não? Sexo é a base da satisfação humana na terra, confere? Então por que porras a macharada teima em se satisfazer com tão pouco, em mirar no próprio umbigo e foda-se? É sério isso de que vale bem mais uma boa gozada do que fazer sua (seu) companheira(o) conseguir chegar primeiro e gozar melhor ainda? Há quem defenda que sim. Mas não, cara, não é não. Sexo é brincadeira, e brincadeira boa é quando todo mundo está gostando de brincar.

Elas reclamam de que eles não sabem transar. Elas estão erradas? Não, não estão. Não se esqueçam de que elas que estão lá na brincadeira também — aliás, é desse esquecimento que elas reclamam. Mas por que estão putas com a macharada? Porque elas estão vendo vocês querendo brincar sozinhos às custas delas. Nas últimas semanas o que mais apareceu na timeline de todos foi texto dando o be-a-bá para os machos do que fazer na hora H. Viram qual é o problema? Vocês não se tocam de que estão fazendo errado e ainda querem se resguardar de não serem criticados pela atuação pífia. Se tem a necessidade de ensinar, é porque tem alguém que não está sabendo fazer. Mas aqui não vai ter tutorial, porque quem tem que dizer como o lance todo deve ser não é o macho, são elas. Mas só queria falar de uma coisa muito importante que percebi nessa minha vida sexual por aí: homem não rebola na hora de foder.

É um clássico da geração educada sexualmente pelo limitado mundo pornô de que mulher que sabe transar tem que rebolar. Rebola quando tá por cima, rebola quando tá por baixo, rebola quando tá de lado, rebola quando tá de pé, rebola quando tá de quatro. Mas, aqui pra gente, você já viu homem rebolando na hora de transar? É aí que mora a raiz do mal.

Há uma espécie de medo na macharada em rebolar. Vocês sabem, o maior medo de um homem (ridículo) é ter alguém achando que ele é menos homem em alguma coisa. Se aquilo pode afetar a masculinidade dele, ele vai criar algum mecanismo de defesa pra isso. E sempre o mecanismo de defesa é uma saída esdrúxula.

Os homens foram levados a construir um conjunto de comportamentos do que eles julgam “coisa de macho”. Claro, todas essas coisas de macho são na real “coisa de frouxos”. Uma dessas “coisas de macho” é saber como se comportar na hora de fazer sexo: precisa “estar no controle”, tem que estar “por cima”, tem que meter “com força”, e mais um monte de outras asneiras. Todas as “coisas de macho” se preocupam com elementos rasos da relação sexual. Os machos ainda não entenderam — e olha que estamos por aqui há uns bons milhares de anos! — de que sexo é troca: sensorial, afetiva, sentimental (esse último elemento aqui pode ser opcional, ok? Os dois primeiros não). Por isso é preciso entender o básico: sexo é jogo de cintura. São dois — ou mais — corpos interagindo entre si. Passada as preliminares — que devem durar muito mais tempo do que o período de “penetração em si” -, é hora de saber como agir lá dentro. E amigão, não é só dar uma de João Bobo indo pra frente e pra trás, todo duro, todo reto. Rebole, meu velho. Pode rebolar sem medo.

As vantagens de rebolar são inúmeras, mas fiquemos só com a principal: é a elevação máxima da sensibilidade — para os dois ou mais participantes da brincadeira. Os primeiros centímetros do canal vaginal são os mais sensíveis — então aquela máxima de que tamanho é documento não é válida -, por isso rebolando na penetração você explora muito melhor a sensibilidade da amiguinha da sua companheira de sexo. Não precisa rebolar como fosse segurar o tchan. Não precisa pressa — se não for uma rapidinha decidida pelos dois -, pode ir alternando o ritmo, ora mais rápido, ora mais devagar, sempre estando atento ao feedback da companheira. O importante é não perder o jogo de cintura, e rebolar.

Muito melhor do que eu, Joelma dá a letra: “Pra me conquistar você tem que dançar / Pra me conquistar você tem que balançar / Pra me conquistar você tem que suar / Pra me conquistar você tem que rebolar”. Pronto, se precisava de algum manual do homem moderno, a deusa do brega pop já resumiu tudo que você, macho, precisa fazer. Então repete comigo, na hora do sexo — e em qualquer hora da vida — você tem: dançar, balançar, suar e, o mais importante de todos, rebolar. Isso sim é coisa de macho!

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