Declaramos que Existimos!!
Muitos foram e são os mitos construídos em torno de nós povos originários, dos ingênuos aos bárbaros. Olhares daqueles que buscavam reduzir nossas existências à uma justificativa para o extermínio ou submissão.
Como a história foi contada pelos invasores, nos autos da memória nacional constam as narrativas coloniais a nosso respeito, amplamente difundidas nas produções literárias, musicais, teóricas e artísticas em geral durante séculos. Em síntese, teríamos praticamente desaparecido do mapa. Pertenceríamos a um passado romantizado e nunca lamentado.
No entanto declaramos: EXISTIMOS! E com mais diversidade do que se supõe.
Sobram no imaginário popular as imagens estereotipadas das sociedades indígenas apresentadas como primitivas, carentes de desenvolvimento e ciência nos moldes ocidentais. Bem como as imagens dos próprios indígenas necessariamente nus, com peles escuras, pinturas corporais, adornados com penas, cabelos pretos e lisos, e olhos ‘puxados’.
Entretanto nossas sociedades eram e são complexas desde o ponto de vista ético-político-social até tecnológico. Também sempre fomos diversos quanto aos nossos tons de pele e traços fenotípicos como cabelos, lábios, estatura, assim como língua, medicinas e cultura em geral.
Nos especializamos em garantir a existência não apenas dos nossos parentes, como da natureza da qual somos igualmente parte. Nos especializamos em resistir e atualmente estamos nas aldeias e nas cidades, nas comunidades rurais, universidades, na política, nas artes, nas redes sociais.
Não existe indígena genérico a ser usado como referência para atestar a ‘originalidade’ dos demais.
A invasão desse território foi desigual e segue sendo, e esse fato é decisivo para entender a diversidade das experiências dos povos originários de Pindorama a partir de sua localização geográfica inicial e os desdobramentos regionais da colonização.
O que nos faz ser quem somos e de onde viemos não pôde ser apagado com os forçados batismos catequistas, a separação geográfica do nosso povo de origem ou mesmo o ocultamento para sobreviver. É preciso honrar as memórias e a preservação dos saberes e modos de vida ancestrais.