Liderança feminina e maioria mulheres: Como construímos o time de Growth da Revelo

Camila Yamashiro
tech.revelo
Published in
6 min readFeb 22, 2021

Principais pontos abordados:

  • A construção do time de Growth da Revelo com maioria mulheres foi permitida pela cultura da empresa e pela gestão focada em criar um ambiente seguro e acolhedor para as mulheres;
  • Existe uma série de boas práticas que temos para formar e fortalecer o nosso time majoritariamente feminino, sendo a partir da própria cultura da Revelo, no processo de recrutamento do time, em ações da liderança e das gestoras, e em rotinas criadas;
  • A nossa estrutura de um time com mais mulheres nos fortifica para aumentarmos a nossa autoconfiança e visibilidade na empresa;
  • A liderança feminina é extremamente importante para fomentar um ecossistema mais diverso e inspirar mais mulheres a avançarem em suas carreiras.
Fonte: Revelo

O time que você faz parte é composto por maioria homens ou mulheres? Se você for da área da tecnologia, posso supor, mesmo sem te conhecer, que você vai me responder: homens. De acordo com o IBGE, a representatividade de mulheres na área de tecnologia é de apenas 20%.

Felizmente, venho com muito orgulho, falar sobre o time de Growth aqui na Revelo, que está construindo uma história totalmente diferente e que deve ser contada: somos maioria mulheres! E quando eu digo maioria, quero dizer que somos todas menos 1 pessoas mulheres!

E não acaba por aí. Além de maioria mulher, a nossa liderança também é feminina, temos mulheres em todos os níveis de senioridade e com backgrounds diferentes que requerem alta capacidade analítica, com formação em Engenharia, Matemática, Administração, Contabilidade e Marketing.

Time de Growth da Revelo durante uma reunião — Fevereiro, 2021

Essa conquista é muito importante no cenário do mercado de trabalho e precisamos entender como chegamos até aqui.

Por que é difícil ter mulheres na área de Growth?

No livro “Faça Acontecer” de Sheryl Sandberg (chefe de operações do Facebook), a autora relata que as mulheres tendem a se candidatar para uma posição somente se acharem que possuem 100% dos critérios exigidos pela vaga, enquanto os homens se candidatam se atingirem pelo menos 60%, ou seja, no geral, as empresas consequentemente acabam recebendo mais candidaturas de homens.

Em geral, posições que exigem capacidade analítica requerem formação na área de “STEM” — termo em inglês que agrupa carreiras dentro da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática -, áreas dominadas por homens. A representatividade de mulheres é baixíssima, em Engenharia, por exemplo, a ocupação a nível global das mulheres é de apenas 8%, como mostra a pesquisa do World Economic Forum.

Além disso, as nossas próprias estruturas sociais reforçam o gap existente entre mulheres e homens na área de STEM, através dos estereótipos presentes a respeito da capacidade de performance entre mulheres e homens em determinadas carreiras, como aponta essa matéria do The Guardian.

Como estamos formando o nosso time com maioria mulheres?

A formação do time de Growth de maioria mulheres ocorreu através de um processo natural que foi permitido, principalmente, pela cultura da Revelo, e pela gestão, desde o início com o Mateus Pinho e atualmente com a Juliana Uechi, focada em criar um ambiente seguro e acolhedor para as mulheres.

Boas práticas do nosso time de Growth

Vamos listar algumas práticas e vivências aqui na Revelo que contribuem para a nossa estrutura de time composta por maioria mulheres:

1. Cultura da empresa

  • Onboarding com os fundadores (Lucas e Lach) ressaltando a importância da diversidade na Revelo a todos os novos funcionários;
  • Programa de Mentoria para Mulheres para capacitação profissional e pessoal das mulheres;
  • Edições do A.M.A (roda de conversa no formato “ask me anything”) sobre diversidade, como por exemplo, mulheres no mercado de trabalho.

2. Recrutamento

  • Fazer mudanças no formato e avaliação das entrevistas para serem menos enviesadas possíveis (um ótimo recurso é utilizar a checklist sobre vieses do Google disponível aqui);
  • Ter entrevistadores homens e mulheres, do nosso time e de outros times, para também diminuirmos os vieses existentes.

3. Ações da liderança do time

  • Uma das pautas principais é garantir que as pessoas do time se sintam seguras e acolhidas para falar sobre qualquer assunto: situações desconfortáveis, expor opiniões, pedir ajuda, tirar dúvidas;
  • Investir no desenvolvimento de mais lideranças no time;
  • Apresentar e divulgar o trabalho das pessoas da área para a empresa;
  • Promover pessoas através de avaliações de performance estruturadas — percebemos que as mulheres são mais cautelosas e acabam pedindo menos aumentos/promoções em relação aos homens.

4. Ações das gestoras

  • Feedbacks frequentes para crescimento profissional e pessoal;
  • Enfatizar, através da fala, que “está tudo bem pedir ajuda” — vimos que as mulheres tendem a resolver as coisas mais sozinhas quando estão com alguma dificuldade;
  • Incentivar apresentações e a presença ativa em reuniões — fazer a nossa voz ser ouvida nas reuniões com outras pessoas;
  • Participar das reuniões e advogar junto com a liderada quando uma mulher está com problemas de ser ouvida em alguma situação.

5. Rotinas de time

  • Health Checks quinzenais — reunião estruturada através de critérios específicos, inspirada nas rotinas dos times de Produto e Design, para que todas possam falar abertamente sobre como se sentem em relação ao trabalho;
  • One-on-ones quinzenais — tempo estruturado entre líder e liderada com foco em garantir o desenvolvimento da liderada e em ser um espaço aberto para falar sobre qualquer tópico que a liderada queira trazer.

Ocupando nossos lugares na mesa

Sheryl Sandberg faz uma metáfora muito poderosa a respeito do comportamento das mulheres no ambiente de trabalho através de uma situação em que viveu: em uma reunião com executivos, as poucas mulheres presentes optaram por sentar-se nos cantos da sala, enquanto todos os homens, naturalmente, ocupavam seus lugares na mesa. Com esse exemplo, Sheryl nos encoraja a buscar o nosso lugar na mesa, pois só assim vamos conseguir ser vistas e crescer na empresa.

Uma matéria da Forbes relata que 75% das mulheres em cargos executivos sofrem ou já sofreram a síndrome do impostor — a “autopercepção pela qual uma pessoa se considera menos qualificada para uma determinada função, cargo ou desempenho que seus companheiros”, definição trazida no artigo do jornal El País.

Em nosso caso, felizmente, a estrutura do nosso time com maioria mulheres contribui positivamente para a superação dos traços da síndrome do impostor:

  • Em primeiro lugar, a nossa voz é ouvida alta e clara — não é preciso tanto esforço para expor um ponto, uma ideia;
  • Nos sentimos seguras e confortáveis nas dinâmicas do time — não existem situações desconfortáveis e/ou constrangimentos;
  • Quando duvidamos de nossas capacidades, somos encorajadas em vez de sermos questionadas — reforçamos através de falas que somos muito capazes e habilidosas, e isso é imprescindível para sustentar a autoconfiança;
  • Somos reconhecidas e valorizadas — fazemos questão de dar visibilidade e parabenizar as conquistas de nossas colegas no dia a dia.

Ao estarmos em um time com uma forte presença de mulheres, conseguimos, cada vez mais, nos unir e reforçar a necessidade em firmar os nossos lugares na mesa.

Importância da liderança feminina

De acordo com a matéria da Fast Company Brasil, atualmente existem zero mulheres aspirantes a serem fundadoras de startups, e dos 30 fundadores de startups brasileiras que hoje são unicórnios, temos apenas 2 mulheres neste time. Neste cenário, a presença das poucas mulheres líderes se tornam referências poderosas para inspirar e transformar todo o ecossistema.

Por isso, também quero ressaltar a importância da liderança da Juliana Uechi em nosso time de Growth da Revelo, pois isso contribui para dois pontos muito relevantes:

  1. Construir uma empresa mais diversa em todos os níveis de senioridade
  2. Inspirar de maneira legítima a carreira de todas as mulheres da empresa

Dessa maneira, estamos colaborando para o avanço na equidade de gênero no mercado de trabalho construindo um movimento em looping: a representatividade de mulheres ocupando cargos mais altos na empresa empodera cada vez mais mulheres a avançarem em suas carreiras para que também venham a ocupar cargos de liderança.

Espero que a gente consiga inspirar cada vez mais empresas e times a refletirem sobre suas estruturas de gênero para caminharmos juntos para um ambiente de trabalho mais diverso no Brasil e no mundo.

Agradecimentos aos que contribuíram para a elaboração desse texto: Juliana Uechi, Patrícia Rocha, Mateus Pinho, Fernanda Chen e Will Sertório.

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