Crítica | Memórias de um Assassino é um suspense dos bons

Thriller de Bong Joon-ho relembra assassinatos cometidos por um misterioso serial killer na Coréia do Sul nos anos 80

Victor Malveira
Reviews on Time
3 min readJan 18, 2022

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Song Kang-ho e Kim Sang-kyung, em cena do filme Memórias de um Assassino (Divulgação)

Histórias de policiais que estão caçando um serial killer costumam atrair a atenção do público, ainda mais quando são baseadas em coisas que realmente aconteceram. Memórias de um Assassino, de Bong Joon-ho, relembra vários assassinatos ocorridos na Coréia do Sul durante os anos 1980.

Embora se trate de uma trama com mortes trágicas e estupro, Bong tem a proeza de incluir em seu filme um lado cômico sútil. O humor transparece na dupla de investigadores Park Doom-Man (Song Kang-ho) e Cho Yong-koo (Kim Roi-ha).

Os dois detetives fazem parte da força repressiva da polícia que atua na ditadura coreana. A forma caricata como a dupla é retratada suaviza a gravidade de suas ações, mas sem perder o lado crítico que a obra carrega.

O Estado policialesco é uma das causas para a ineficiência nas buscas do assassino. O diretor nos provoca ao explora a dualidade do lado caricato dos policiais e a caçada pelo serial killer com a repressão que eles simbolizam.

A chegada do detetive Seo Tae-Yoon (Kim Sang-kyung) vindo de Seul gera uma mudança no rumo que a investigação estava tomando.

Para contrastar com a maneira como os detetives eram — e os suspeitos que eles interrogavam — , Bong Joon-ho expressa os cadáveres das vítimas de um modo cru, o que transparece a crueldade do misterioso assassino. Também, ele acrescenta uma pitada de terror para reforçar o suspense por trás o serial killer.

A partir de certo ponto de Memórias de um Assassino já sabemos quem é o serial killer procurado pelos policiais, ou pensamos saber quem é. Tudo apontava para o jovem Park Hyeon-gyu (Park Hae-il), principal suspeito.

É nesse momento que o filme frustra nossas expectativas quanto ao desfecho e a captura do matador de mulheres.

A revelação ocorre se baseando em um pequeno detalhe que estava presente não só no detetive Seo Tae-Yoon, como também de forma subjetiva no contexto em que a história se passa.

Acreditar nos documentos porque eles nunca mentem é uma frase que Seo Tae-Yoon repete muitas vezes ao longo da obra. Documentos que são modificados ou desprezados em ditadura, algo que os personagens fazem muitas vezes no filme.

Contundo, não era possível não levar em consideração o teste de DNA que não comprovava a identidade do assassino. A cena final em que o detetive Park Doom-Man volta ao local que a primeira mulher foi achada deixa tudo mais em aberto.

Quando a menina fala que o homem que esteve ali observando o local tinha um rosto comum, subentende-se que poderia ser qualquer um.

Memórias de um Assassino não é tão sombrio quanto outros filmes do mesmo gênero, chegando até a introduzir uma camada leve e caricata de humor em seus personagens. A trama cheia de virtudes atrai a atenção de quem assiste sem precisar de muito esforço.

Avaliação: 4,5/5 (Ótimo)

Direção: Bong Joon-ho
Roteiro: Bong Joon-ho e Sung Bo Shim
Elenco: Song Kang-ho, Kim Roi-ha, Kim Sang-kyung, Park Hae-il

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Victor Malveira
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Um quase jornalista que tenta ser cinéfilo. O objetivo aqui é escrever resenhas de filmes, séries e de outras coisas aleatórias. Amante de futebol.