Crítica | O autoritarismo do Estado em Os 7 de Chicago
Filme original Netflix de Aaron Sorkin relembra famoso julgamento de ativistas anti Guerra do Vietnã
Quem não gosta de filmes de tribunal? Advogados duelando para convencer o júri de seu ponto de vista prendem nossa atenção, embora não entendamos quase nada de leis e suas nuances.
O original da Netflix, Os 7 de Chicago rememora a luta de oito cidadãos americanos por seus direitos e pelo fim da Guerra do Vietnã. O filme é bem político e crítico quanto aos acontecimentos que se seguiram após as manifestações do ano de 1968.
O Estado que constitui os Estados Unidos usando a máquina estatal para corromper o sistema e perseguir cidadãos americanos inocentes. É isso, as características autoritárias do governo, que Aaron Sorkin enfatiza explicitamente em seu filme.
Ele baseia tudo em conflitos: conflitos entre os próprios réus, entre os réus e defesa e o juiz, conflitos raciais, culturais, entre outros.
Entre os acusados, o principal embate fica por conta de Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Tom Hayden (Eddie Redmayne). Ambos têm suas ideias revolucionárias para o país e maneiras diferentes de agir no tribunal.
A má vontade, para dizer o mínimo, do juiz Julius Hoffman (Frank Langella) é o embate com mais tempo de tela, pois é dele que os demais e principais conflitos surgem. Com grande competência, Sorkin deixa o público com uma sensação forte de impotência perante as injustiças cometidas pelas autoridades do governo.
O ápice do confronto é quando Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) é agredido, amarrado e amordaçado no tribunal após diversas violações aos seus direitos. Daí a exemplificação do conflito racial vivenciado naquele período.
O único representante do Estado que demonstra um mínimo incomodo com os rumos do julgamento dos 8, posteriormente dos 7, é o procurador geral Schultz (Joseph Gordon-Levitt). Representando a figura do bom homem, o personagem de Gordon-Levitt é o único que constitui o Estado que tem algum compadecimento pelos réus e senso de justiça. Mas as forças do sistema engolem qualquer boa vontade de Schultz.
As pouco mais de duas horas e o ritmo agitado dos eventos em Os 7 de Chicago, manifestações e cenas do julgamento, não cansam e desenvolvem os principais personagens de uma maneira que podemos conhece-los bem.
As críticas políticas do roteiro são claras e direcionadas, especialmente a gestão Nixon, que mais tarde se mostrou autoritária e corrupta quanto a Guerra do Vietnã (Watergate). Foi um momento de endurecimento de políticas públicas contra a esquerda norte-americana quando comparado a gestão anterior.
Os 7 de Chicago apresenta um pedaço da história dos Estados Unidos que não é muito lembrada: líderes e pessoas em posições de governo ou de autoridade com traços autoritários. Aaron Sorkin e o elenco recheado prendem nossa atenção e entusiasmo com uma reencenação de um momento importante pela paz e liberdade de ideias.
Nota: 4,5/5 (Ótimo)
Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Sacha Baron Cohen, Joseph Gordon-Levitt, Jeremy Strong, Eddie Redmayne