Crítica | O autoritarismo do Estado em Os 7 de Chicago

Filme original Netflix de Aaron Sorkin relembra famoso julgamento de ativistas anti Guerra do Vietnã

Victor Malveira
Reviews on Time
3 min readApr 18, 2022

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Imagem do filme Os 7 de Chicago (Divulgação/Netflix)

Quem não gosta de filmes de tribunal? Advogados duelando para convencer o júri de seu ponto de vista prendem nossa atenção, embora não entendamos quase nada de leis e suas nuances.

O original da Netflix, Os 7 de Chicago rememora a luta de oito cidadãos americanos por seus direitos e pelo fim da Guerra do Vietnã. O filme é bem político e crítico quanto aos acontecimentos que se seguiram após as manifestações do ano de 1968.

O Estado que constitui os Estados Unidos usando a máquina estatal para corromper o sistema e perseguir cidadãos americanos inocentes. É isso, as características autoritárias do governo, que Aaron Sorkin enfatiza explicitamente em seu filme.

Ele baseia tudo em conflitos: conflitos entre os próprios réus, entre os réus e defesa e o juiz, conflitos raciais, culturais, entre outros.

Entre os acusados, o principal embate fica por conta de Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Tom Hayden (Eddie Redmayne). Ambos têm suas ideias revolucionárias para o país e maneiras diferentes de agir no tribunal.

A má vontade, para dizer o mínimo, do juiz Julius Hoffman (Frank Langella) é o embate com mais tempo de tela, pois é dele que os demais e principais conflitos surgem. Com grande competência, Sorkin deixa o público com uma sensação forte de impotência perante as injustiças cometidas pelas autoridades do governo.

O ápice do confronto é quando Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) é agredido, amarrado e amordaçado no tribunal após diversas violações aos seus direitos. Daí a exemplificação do conflito racial vivenciado naquele período.

O único representante do Estado que demonstra um mínimo incomodo com os rumos do julgamento dos 8, posteriormente dos 7, é o procurador geral Schultz (Joseph Gordon-Levitt). Representando a figura do bom homem, o personagem de Gordon-Levitt é o único que constitui o Estado que tem algum compadecimento pelos réus e senso de justiça. Mas as forças do sistema engolem qualquer boa vontade de Schultz.

As pouco mais de duas horas e o ritmo agitado dos eventos em Os 7 de Chicago, manifestações e cenas do julgamento, não cansam e desenvolvem os principais personagens de uma maneira que podemos conhece-los bem.

As críticas políticas do roteiro são claras e direcionadas, especialmente a gestão Nixon, que mais tarde se mostrou autoritária e corrupta quanto a Guerra do Vietnã (Watergate). Foi um momento de endurecimento de políticas públicas contra a esquerda norte-americana quando comparado a gestão anterior.

Os 7 de Chicago apresenta um pedaço da história dos Estados Unidos que não é muito lembrada: líderes e pessoas em posições de governo ou de autoridade com traços autoritários. Aaron Sorkin e o elenco recheado prendem nossa atenção e entusiasmo com uma reencenação de um momento importante pela paz e liberdade de ideias.

Nota: 4,5/5 (Ótimo)

Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Sacha Baron Cohen, Joseph Gordon-Levitt, Jeremy Strong, Eddie Redmayne

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Victor Malveira
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Um quase jornalista que tenta ser cinéfilo. O objetivo aqui é escrever resenhas de filmes, séries e de outras coisas aleatórias. Amante de futebol.