As Fake News que matam

Júlia Barth
Revista 2021/1
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15 min readJun 19, 2021
Comunidade médica se sente refém das fake news | Crédito: Divulgação

O impacto da desinformação no combate à covid-19 revelou o despreparo da população e do governo em lidar com notícias falsas. Profissionais da área da saúde relatam dificuldades e cansaço mental.

Por Eduarda Ferreira, Júlia Barth e Nayara Souza

As fake news ganharam um papel aterrorizante na pandemia da covid-19, colocando à prova uma população que ainda está aprendendo sobre a desinformação. Os conteúdos falsos sobre o coronavírus já tiveram várias ondas, desde sua origem chinesa à real necessidade do uso de máscaras. Porém, com a evolução das pesquisas, o foco passou a ser a eficácia do tratamento precoce e a morte por vacinação. São boatos que colocam em risco a vida dos brasileiros, deixando-os à mercê de uma epidemia de mentiras.

A convivência com as fake news já virou rotina para milhares de brasileiros, por isso, a necessidade das agências de checagem. No site da Lupa, agência brasileira de fact-checking, no mês de março, dos 32 conteúdos falsos verificados sobre a covid-19, cinco foram sobre medicamentos ineficientes e dez foram sobre vacinação. Em abril, mesmo com a baixa em notícias verificadas (27), o número de conteúdos falsos sobre os temas se manteve igual.

Diante de tanta desinformação, é cada vez mais difícil para a população entender como as fake news funcionam. Por se espalharem, muitas vezes, de forma silenciosa pelas redes sociais, o conteúdo falso não afeta somente quem acredita, mas principalmente uma categoria que já se encontra exausta: os profissionais da saúde. Além de lidar com a situação dos pacientes, médicos e médicas têm a árdua tarefa de educar a população dentro dos consultórios.

Segundo o estudo, “Os médicos e a pandemia da covid-19”, realizado pela Associação Médica Brasileira em fevereiro de 2021, somam mais de nove entre dez (91,6% dos pesquisados) os médicos que citam interferência negativa das fake news. Os principais problemas relatados pela comunidade são o descrédito da Ciência, a dificuldade dos pacientes em aceitarem as decisões dos profissionais, o desprezo às medidas de isolamento e a pressão para que sejam receitados medicamentos sem comprovação científica de eficácia. O quadro abaixo mostra a opinião médica quando o assunto é fake news:

Fonte: Os médicos e a pandemia da covid-19, 2020.

A médica Mayara Floss, que fez residência no Hospital Conceição, relata o dia a dia cansativo de tratar pacientes que acreditam nas fake news. Segundo a profissional, muitos enfermos haviam feito o tratamento precoce e chegavam até o hospital com efeitos colaterais. Na tentativa de salvar vidas, a médica negociava a interrupção desse tratamento, mas muitos saíram insatisfeitos com a conduta.

Mayara conta que chegou a discutir com colegas que defendiam o kit covid e comenta ter dificuldades: “O quão difícil é você tentar pensar a Ciência num mar de desinformação e também como navegar a questão das fake news nesse mar de desinformação”. Para a médica, os boatos atrapalham principalmente os profissionais que trabalham nas comunidades carentes.

A jornalista e pesquisadora sobre fake news, Dayane Machado, chama a atenção para a influência que a desinformação exerce sobre a população quanto ao trabalho médico. Para ela, a desconfiança extrema em relação às instituições oficiais e as visões distorcidas da realidade impactam na adoção de medidas de proteção.

Outro dado da pesquisa da Associação Médica Brasileira corrobora para o questionamento da pesquisadora. Como consequência das fake news, cerca de 50,5% dos médicos entrevistados na pesquisa da Associação Médica Brasileira revelam que não existe adesão suficiente das medidas de proteção pela população. Logo, a falta de cuidados por parte dos pacientes oferece riscos principalmente para a segurança dos profissionais da saúde, conforme o quadro abaixo.

Fonte: Os médicos e a pandemia da covid-19, 2020.

Dessa forma, o Brasil caminha para o seu segundo ano de pandemia com poucas mudanças no combate a covid-19 frente a um crescente mar de desinformação. O médico José Luís Toríbio, que está na linha de frente como intensivista do Hospital Conceição, comenta que as fake news reforçam o comportamento negacionista das pessoas e evidencia que mais do que atrapalhar, a desinformação mata.

A infodemia

Existe uma frase que diz que uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade. É exatamente o que se espera quando as fake news, ou seja, as notícias falsas, são criadas. Na pandemia, as pessoas estão sempre em busca de notícias que possam trazer segurança a elas, por isso, o conteúdo falso, na maioria das vezes, é real para quem compartilha. A necessidade de buscar uma saída através da informação agravou ainda mais a situação, tornando a população mais vulnerável à desinformação.

As fake news ganharam força nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, onde o candidato Donald Trump, logo depois eleito, contribuiu para disseminação de notícias falsas durante a sua campanha eleitoral. Já no Brasil, esse tipo de notícia começou a circular nas eleições de 2018, onde os apoiadores do candidato, e atual presidente, Jair Bolsonaro, compartilhavam essas informações como verdadeiras.

Com a pandemia, esse tipo de publicação ganhou uma grande força com desinformações sobre a vacina e principalmente a indicação de remédios que seriam eficazes no pré-tratamento da doença. O chamado kit covid, comercializado no Brasil com o apoio do governo de Bolsonaro, contém comprimidos de quatro medicamentos: sulfato de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida.

A comparação entre quem compra esperando uma cura e quem precisa advertir contra evidência o obstáculo que são as fake news no combate a covid-19. De acordo com levantamento da Agência Pública, foram vendidos mais de 6,6 milhões de frascos e caixas desses quatro remédios de março de 2020 a março de 2021. Frente a esse dado, o quadro abaixo revela que 65,3% e 58,6% profissionais da saúde, qualificam, respectivamente, os medicamentos hidroxicloroquina e ivermectina como ineficazes.

Fonte: Os médicos e a pandemia da covid-19, 2020.

Para a enfermeira Andréia Barcellos, que trabalha há 28 anos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, alguns pacientes acreditam veementemente em medicações ineficientes porque foram divulgadas na mídia. Especialista em Enfermagem do Trabalho, ela explica que medicamentos foram testados, mas que ao mostrarem ineficácia, foram descartados. Porém, para os pacientes, o fato de não receberem a hidroxicloroquina ou ivermectina era um sinal de que o hospital é de esquerda e contra o presidente.

Além disso, a enfermeira também conta que, muitas vezes, as pessoas não querem tomar a vacina por serem de origem chinesa e acreditarem que a China quer matar a população ou controlar implementando um chip através da vacinação. De acordo com a Lupa, 81% dos conteúdos falsos sobre vacinação verificados pela agência circularam nos últimos seis meses.

O dado vai de encontro ao que a enfermeira Andréia chama de “questão cultural brasileira’’: “O serviço social fala em vulnerabilidade cultural que é a falta de acesso à educação. Nos bairros mais pobres as pessoas não aderem às medidas porque não entendem da sua importância”. O fato das pessoas não acreditarem na doença ou nas vacinas, mostra a falta de conhecimento popular acerca da pandemia.

A pesquisadora Dayane Machado explica que, entre os cinco principais tipos de desinformação sobre a vacina, existem aquelas que questionam sua segurança, a efetividade, associam à moralidade e também criam teorias da conspiração. São estratégias que incentivam a circulação dos conteúdos falsos e visam principalmente evocar reações emocionais, como identificação, validação, indignação e raiva na população.

Outro fator para o agravamento da desinformação durante a pandemia é o fato da população estar mais propensa a acreditar em fake news, como conta Dayane: “O cenário de ansiedade e incertezas torna as pessoas mais vulneráveis à desinformação. Para fazer sentido a realidade e se proteger, elas buscam o máximo de informações”. Em uma cartilha publicada em abril de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a pandemia está acompanhada de uma enorme infodemia.

A palavra se refere a um grande aumento no volume de informações associadas a um assunto específico, que podem se multiplicar em pouco tempo. Nessa situação, rumores e desinformação manipulam a população através da internet. Segundo a pesquisadora, as pessoas encontram fake news ao consumirem conteúdos de determinados espaços, como sites de manipulação de informação, grupos de Facebook e redes de colaboração do YouTube. Logo, também passam a receber através de grupo de WhatsApp ou canais de Telegram compartilhados com os próprios amigos e familiares.

O contexto de incertezas criado pela covid-19 revela a inocência de uma população e a fragilidade de uma sociedade. Um estudo realizado pela organização Avaaz, em abril de 2020, entrevistou mais de 2000 pessoas no Brasil, entre 18 e 65 anos de idade, sobre as fake news na pandemia. De acordo com os índices, seis em cada dez pessoas citam o aplicativo WhatsApp como propagador de notícias falsas sobre a pandemia. Já o Facebook, segundo colocado no ranking, é responsabilizado por cinco em cada dez brasileiros.

Uma solução encontrada pela médica Mayara Floss para frear a disseminação de fake news nas comunidades que atende, foi a criação de uma rádio de comunicação via WhatsApp, que ainda funciona na Unidade Costa e Silva, em Porto Alegre. “Era a voz dos profissionais falando com a população e pensando em como combater as fake news com uma comunicação qualificada”, conta a médica ao enfatizar que a desinformação também atrapalha a vacinação. Para Mayara, as políticas públicas brasileiras foram ágeis em relação ao kit covid, porém, lentas em pensar nas vacinas.

Fake news e saúde mental

Se de um lado a população se sente frustrada por não ter vacinas suficientes, do outro, a busca por atualizações sobre a covid-19 na internet cresceu de 50% a 70% em todas as gerações, segundo a OMS. A infodemia afeta profundamente a saúde mental das pessoas que precisam separar o que é verdade e o que é mentira nas manchetes diárias.

Com a pandemia, médicos estão mais exaustos, ansiosos e estressados | Crédito: Divulgação

Porém, quem mais sofre com a pressão da pandemia frente a desinformação são os 520 mil médicos brasileiros com condições de atender a população. Segundo uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina que entrevistou 1.600 médicos, 22,9% dos profissionais de saúde relataram o aumento do nível de estresse devido à pandemia. O médico José Luís Toríbio conta que a carga emocional em lidar com pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é extremamente pesada.

A pandemia normalizou uma rotina de sobrevivência dentro dos hospitais que cada vez se torna mais cansativa para os médicos. Acerca da desinformação, o doutor relata que muitos pacientes que estão na UTI fizeram uso de tratamento precoce ou de outra medicação que foi recomendada em conteúdos falsos. “As fake news aparecem, às vezes, cobrindo uma falta de informação médica adequada. Talvez a nossa sociedade médica não tenha conseguido ainda chegar na população”, concluiu Tobírio ao lembrar do horror em precisar dar a notícia de falecimento do paciente à família.

O psicólogo clínico, Walter Perez, especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais, indica que a desinformação dos pacientes que acreditam em fake news, dificultando o trabalho médico, é um agravante para os problemas de esgotamento mental. Segundo Perez, os enfermos chegam em piores condições por má conduta devido às fake news, seja por automedicação ou negligência: “Além de trabalhar em cima da demanda clínica do paciente, o profissional se vê na difícil tarefa de tentar educá-lo, muitas vezes, sem sucesso”.

A frustração dos profissionais em lidar com pacientes que insistem nas mais absurdas medicações e na descrença da vacina, traz à tona uma série de distúrbios psíquicos que podem prejudicar o trabalho médico. Entre os principais quadros estão a depressão e ansiedade, assim como, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e a Síndrome de Burnout.

A Síndrome de Burnout é causada pela exaustão extrema sendo relacionada ao trabalho profissional do indivíduo, entre os principais sintomas estão o cansaço mental e físico excessivos. De acordo com a pesquisa do Conselho Federal de Medicina, 14,5% dos médicos entrevistados relataram menos tempo dedicado às refeições, família e lazer; já 7,6% dizem comprometimento de horas de descanso e qualidade de sono na pandemia.

Para o psicólogo, existe uma relação estreita entre a síndrome e os profissionais da saúde, visto que, sem os meios de amenizar a pressão do trabalho como, por exemplo, a socialização, o profissional se enxerga em um ciclo infindável de tensão. A enfermeira Andréia Barcellos conta que além do cansaço e ansiedade, também existe a “fadiga por compaixão” que é o estresse em lidar com a dor do outro.

O desgaste que os profissionais da saúde enfrentam no dia a dia podem virar marcas para sempre. Como conta a enfermeira, “O estresse acaba exacerbando problemas de saúde, problemas osteomusculares e desencadeando problemas psiquiátricos a longo prazo”. Ela comenta a importância de pequenos gestos de agradecimentos por parte da população e ressalta que muito desse carinho é o que dá força para os profissionais.

O SIM Mental é um programa em defesa da saúde integral dos médicos | Crédito: Divulgação/SIMERS

Em dezembro de 2020, o Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul (Simers) lançou o programa SIM Mental, que visa oferecer suporte e proporcionar assistência psiquiátrica e psicológica para os profissionais da saúde. Segundo o presidente do Simers, Marcelo Matias, os médicos têm realmente passado por circunstâncias estressantes, conflitos de judicialização e péssimas condições de infraestrutura.

Além disso, o presidente disse que é impossível mensurar o impacto das fake news sobre a pandemia para a comunidade médica, mas que a falta de cuidado da população devido à crença nas informações inverídicas, faz com que as chances de recuperação dos pacientes diminuam. Para o psicólogo Walter, ainda existe o fator do desalinhamento governamental, que coloca todo o peso da pandemia sobre os profissionais da saúde. “Quando a maior prioridade (covid-19) é tratada com desdém, o que sobra para a saúde mental destes profissionais?”, enfatiza acerca do descaso governamental e estadual para com os médicos e médicas brasileiros.

Terra sem lei

As fake news sempre estiveram presentes ao longo da história e contar um boato nunca pareceu tão perigoso. Por isso, na ausência de uma legislação específica para a disseminação de fake news, autoridades passaram a usar a Lei de Contravenções Penais de outubro de 1941. O dispositivo já foi utilizado em ao menos três estados — Belo Horizonte, Recife e Vitória — para criminalizar a produção e o compartilhamento de fake news durante a pandemia como ameaça à saúde coletiva.

O texto estabelece pena de prisão de até seis meses para quem “provocar” alarme, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto. Mas, na prática, a punição é restrita à prestação de serviços comunitários ou multa. De acordo com o delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI), como as fake news em si não capitulam como crime, o mais provável é enquadrar o crime nas consequências que o conteúdo falso provoca.

Dessa forma, muitos crimes que ocorrem na internet nem são vistos sob a ótica de crime virtual. Primeiramente, são registrados como um crime contra a honra, injúria, difamação e calúnia, para então, no histórico do boletim, ser detalhado se a prática do delito foi de forma online ou não.

O delegado conta que no início da pandemia houveram muitas denúncias de notícias falsas relacionadas a prevenção contra à Covid-19, como a ingestão de álcool e trancar a respiração para verificar se houve contaminação. São boatos difíceis de serem verificados pela polícia, mas que chamam a atenção da população. No quadro abaixo, a pesquisa da Avaaz mostra que mais de 800 pessoas receberam através do WhatsApp ou Facebook a notícia sobre prender a respiração.

Fonte: O Brasil está sofrendo de uma infodemia de covid-19, 2020.

A jornalista Dayane Machado explica que o truque mais comum dos criadores de boatos é gerar medo e ansiedade na população, indo desde conteúdos sobre saúde alternativa, até questionamentos sobre a eficácia das vacinas. Logo, entra em ação o famoso pensamento: “Se todo mundo está falando disso, então, algum motivo deve ter”. Para a pesquisadora é um processo repetitivo de exposição a desinformações e teorias da conspiração que pode minar, ao longo do tempo, a confiança da população em instituições oficiais.

A necessidade e a urgência de enfrentar as fake news e tratá-las como crime, se intensificou com a pandemia da covid-19. A juíza do Estado do Rio Grande do Sul, Márcia Kern, relata que, atualmente, está em andamento o Projeto de Lei nº 2630 que, chamado de Lei das Fake News, visa combater a disseminação de conteúdo falso nas redes sociais. As medidas valerão para as plataformas com mais de 2 milhões de usuários, inclusive estrangeiras, desde que ofereçam serviços ao público brasileiro.

De acordo com o texto, os provedores de redes sociais e de serviços de mensagens deverão proibir contas falsas, entre outras transgressões. As sanções da Lei das Fake News vão desde multa à proibição de exercício das atividades no país. Para a juíza, que também é coordenadora do Curso Direito Digital e Redes Sociais da Escola da Magistratura do Rio Grande do Sul, é necessário ter leis específicas, entretanto, a legislação que já existe também pode auxiliar.

Redes sociais são os principais alvos de crimes online | Crédito: Divulgação

Dessa forma, a investigação para os crimes que ocorrem na internet e têm caráter de fake news acontece com a verificação de dados em páginas falsas nos perfis de Facebook, Instagram e números de WhatsApp. Como conta o delegado André Anicet: “Através da representação judicial e quebra de registros de acesso chega-se a quem publicou a notícia falsa. Mas, como a notícia não é passível de investigação para ser apurada, é necessário que alguma pessoa se sinta lesada”.

Acerca disso, a juíza Márcia Kern comenta que a jurisprudência nas redes sociais é considerada uma “terra sem lei”. Contudo, para Kern é necessário entender as redes sociais como parte da vida das pessoas e padronizar o mesmo comportamento do ambiente analógico no ambiente digital. Nesse sentido, a juíza destaca que denúncias de difamação por notícias falsas nas mídias são fáceis de identificar, o problema segue nas fake news feitas por anônimos ou robôs, pois necessitam de uma investigação ampliada.

Se de um lado o Brasil se prepara para começar a lidar com as consequências das fake news frente à pandemia, do outro, falta estrutura nas instituições oficiais e mais responsabilidade nas redes sociais. O delegado André Anicet enfatiza o fato das delegacias de crime informático no Rio Grande do Sul serem pequenas em vista do grande aumento de demandas.

Já a juíza Márcia Kern trás o fato das redes sociais ainda estarem se adaptando à situação com filtros que chamam a atenção para informações sobre covid-19. “O importante é que o judiciário tenha consciência para que possa haver o combate, porque esse é um direito em construção”, conclui ao ressaltar que as fake news sobre a pandemia coloca em risco a vida das pessoas e o direito como cidadão.

Milagres não existem

Ao longo da pandemia, o descaso com a população e principalmente com a comunidade médica ficou evidente. No quadro abaixo, 52,30% avaliam como péssima a atuação do Ministério da Saúde frente à crise. Para a enfermeira Andréia Barcellos, houve uma falha na comunicação com o órgão público que prejudica o país inteiro.

Os médicos e a pandemia da covid-19, 2020.

A médica Mayara Floss também compartilha o mesmo sentimento e diz haver uma displicência em relação ao governo querer enfatizar o kit covid sem nenhuma comprovação de eficácia. “As fake news viram uma política em que o tratamento precoce é a salvação, mas na verdade é um destratamento”, define a profissional de saúde em relação ao desserviço que os conteúdos falsos exercem sobre as pessoas. Para ela, os órgãos governamentais deixaram a desejar na pandemia por não se posicionarem de forma adequada.

O Conselho Federal de Medicina, por exemplo, vem defendendo a liberdade dos médicos prescreverem os tratamentos que considerarem necessários para os pacientes com covid-19, sejam eles eficazes ou não. Já o Ministério da Saúde tem incentivado a população a adotar comportamentos de risco, como automedicação e o uso de substâncias que não oferecem qualquer proteção contra a doença.

Segundo a jornalista e pesquisadora, Dayane Machado, as instituições oficiais estão sendo usadas como instrumento de manipulação e de desinformação deliberada da opinião pública: “Não é que algumas instituições estejam falhando na conscientização em relação aos boatos, algumas delas estão sendo usadas para desinformar a população”. A fala da jornalista exemplifica a sensação de imprevisibilidade que é o governo Bolsonaro.

Os médicos e a pandemia da covid-19, 2020.

Já o Simers avalia que o governo do Estado teve falhas no enfrentamento a covid-19, como o posicionamento contrário a abertura de um maior número de leitos e a falta de investimentos na capacitação de profissionais na segunda onda. Para 77,50% dos profissionais de saúde, o papel social dos médicos não está sendo reconhecido por gestores e governos.

De acordo com a enfermeira Andréia, o Hospital de Clínicas precisou se remanejar para ampliar leitos e atender a população, mas enfatiza: “Não podemos fazer milagres”. Por isso, a conscientização da população frente a epidemia de mentiras é de extrema importância. Pois, só assim, a população brasileira conseguirá entender a gravidade que possui um simples clique em “compartilhar”.

Reportagem produzida em junho de 2021 na disciplina de Revista na Faculdade de Jornalismo da UniRitter.

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Júlia Barth
Revista 2021/1

Perfil dedicado a escrever histórias. • Estudante de Jornalismo • Cinema • Cidadania • Política • História