Amargo Como Vodca

Jules Rey
OIMOI
Published in
2 min readAug 17, 2021
Foto de Gabirel (@whileimout) no Unsplash.

Entre tantas multidões, eu vou cortando as pessoas.
Cortando grupos e grupos de amigos, navegando entre risadas e conversas.
Divido meu tempo entre uma barraca de bebida, uma papo curto e alguns beijos.
Ninguém me conhece aqui e eu também não conheço ninguém.

Cada música é um ritmo de diálogo, dança e curtição diferente.
É difícil distinguir quem ri e quem chora.
Mais ainda, quem sou eu e quem é essa pessoa lavada pelo álcool.
Nada que me preocupa existe e nada do que eu preciso acontece.

Todos os toques parecem muito urgentes.
Quem empurra quer ferir e quem beija quer amar.
No fim, ninguém sai ileso.
No fim, todo mundo vai embora vazio.

Quando meu humor não está tão melancólico, tudo parece diferente.
Tem alegria nesses escapismos e diversão no fundo de cada copo.
Talvez o único problema aqui seja eu.
Ou, talvez eu seja a única coisa que não está errada.

Quanto mais o tempo passa, mais eu me entrego.
Quanto mais eu me deixo entregar, mais latas e copos eu esvazio.
Quanto mais eu termino bebidas diferentes, mais minha visão sobre tudo muda.
Quanto mais minha visão muda, menos eu consigo enxergar luzes e pessoas direito.

Quando tudo é um borrão, é quando eu consigo sorrir.
A paz que me inunda pode ser medida com precisão em um bafômetro.
Eu já nem posso mais dirigir, mas quando foi que eu soube dirigir minha vida?
Agora, isso parece engraçado pra mim, e muitas coisas também.

Acho graça de como você fala comigo e te beijo como se não houvesse mais ar.
Todo meu oxigênio vem dos seus lábios.
Toda minha alegria vem do seu toque na minha pele.
Todo meu arrependimento é guardado pra outro dia.

Quinze minutos depois, você nem existe mais para mim.
Eu caminho até meu ônibus, quase caindo na calçada.
Ele chega e eu só percebo no último instante.
As luzes dessa rua me dão um “adeus” que soa muito como “até logo”.

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