Cautério
Minh’alma tem se desolado
Tenho andado mui triste
Meu sonho vaga por campos estéreis
Não mais vive, só existe.
Da terra angustiada, ouvi uma prece
Na minha fronte, senti o ardor
Palavras em tom abrasivo
Recitadas de um plano superior.
A cada verbo, uma ferida na minha pele
Do Maldito Sol Escarnecedor.
“Tudo é dor”, dizia ele num gemido
Há tristeza no astro que me escarnece?
Era como se tão triste fosse
Quem tudo visse e soubesse.
Da preponderância de sua altivez
O celeste infernal exprimia:
“Só há dor e morte adiante
Vejo teu fim na próxima esquina.”
“Para agora, viajante
Acorda dessa epifania
Se causares a mim mais dores
Amaldiçoo tua família!”
Dissuadia-me ao longe
Com erupções em minha pele
Desencorajava a minha sina
Num ato de quem o filho protege.
Mas não posso ficar aqui
Então, por favor, não me impede.
“Que sabes tu da dor que sentes
Se nada da dor que me causas?
Maldito Sol, posso morrer aqui
Mas não voltar para casa.”
“Preciso ir, ó Sol
Esta via é toda minha
Dela me assiste a missão
Tanto quanto a agonia
Vai-te embora, ó Sol
Que minha vida é minha.”