Ela é Flor de Maio

Yuri Fidelis
OIMOI
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3 min readSep 23, 2021
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“Ah… não chore minha querida. Estou aqui! Lembra de mim?” disse Roberto a uma senhora que se encontrava em prantos. “Me acompanhe, por favor.” E assim, Dandara acompanhou o senhor até a porta. Ao abrir, eles se encontravam não mais naquela sala branca, com macas e leitos, agora caminhavam em um belo jardim.

Em um canteiro de plantas que beirava o caminho em forma de trilha que o casal passeava, existia uma variedade imensa de flores e plantas. Ao redor do parque, haviam famílias, senhores, crianças, casais, todos brincando e aproveitando um dia fresco e ensolarado da primavera. Vestiam roupas antigas, claras em sua maioria, algumas pessoas estavam com vestimentas de outros tempos distantes, que somente a História poderia nos contar. “Dandara… há muito tempo não lembrava desse lugar, e finalmente consigo ver e entender a beleza que tanto dizem” Roberto, enquanto lacrimejava, contido, agarrou as mãos de sua esposa e continuaram caminhando. Dandara estava encantada, nunca na vida observara um lugar tão lindo como aquele.

Roberto se abaixou em um pequeno viveiro de plantas e arrancou do chão um ramo de flores rosas lindo e comprido que ele chamava de “Flor de Maio”. Entregou a Dandara que ficara feliz ao ver uma espécime tão vívida e bonita, como se fosse de mentira. “Agora precisamos ir a outro lugar” disse o rapaz com um tom mais sério. Roberto aparentava ter aproximadamente 35 anos, usava roupas do tempo da República Velha, era um cabra elegante, moreno, pele negra clara, utilizava um monóculo que lhe dava um tom de nobreza.

De repente, Dandara se encontrava num salão de velório. Dezenas de pessoas, todas de preto. Estavam dirigidas ao caixão que comportava o corpo de seu grande amor. Ao lembrar dessa cena, começou a soluçar de choro… lembrou de todo vazio, de toda mágoa, ódio e sentimento de remorso por ter tirado seu único vínculo de amor que sentira com tanta veemência. Subiu as escadas até o segundo andar e abriu a porta do quarto principal e lá se viu sentada de frente ao espelho. Estava beirando seus 33 anos, era vaidosa, bonita, seus cabelos eram ondulados e davam a impressão de serem ondas do mar em cascata. Mas ali, ela só via tristeza.

Enquanto via a si mesmo sentada, lembrou de algo inesquecível e que pensara ser loucura. Em alguns instantes, quando se via no espelho, ela lembrou de sentir um toque singelo em seu ombro. Um toque gentil, que lhe dava conforto, enxugava suas lágrimas e aquecia seu coração, agora ela entendia. Era Roberto que estava ao seu lado. Não pôde se conter, ajoelhou-se e começou a chorar. Cada sentimento de mágoa, de tristeza e de profunda depressão que sentiu ao longo de sua vida, sempre que cessava e sentia uma presença meiga ao seu lado inexplicável, era na verdade Roberto. Seu marido nunca a abandonou, na verdade, esteve ali presente mesmo depois da vida tê-lo levado.

“Dandara… continua chorona como sempre meu amor” disse Roberto com um sorriso simpático à sua amada esposa. Agora, ambos se encontravam emocionados, afinal, ela sabia o porquê da visita. Já estava senhora, viveu como uma verdadeira guerreira, estava feliz da vida que tivera aqui em terra. “Vamos?” estendeu a mão para Dandara foram para outro lugar.

Os enfermeiros entraram na sala da paciente e notaram algo bastante peculiar. A senhora que estava deitada em seu leito, estampava um sorriso de felicidade em seu rosto enquanto lágrimas saíam de seus olhos ininterruptamente. “Dandara, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?” Os enfermeiros perguntavam para a senhora deitada. “Não aconteceu nada, meu querido. Só estou feliz que retornarei ao meu lar.” respondeu a senhora ao enfermeiro que ficou contagiado com a alegria de Dandara.

No dia seguinte, os enfermeiros notaram que Dandara segurava uma Flor de Maio em seu peito. Ela partiu com um sorriso no rosto, ela partiu com um toque em seu ombro.

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Yuri Fidelis
OIMOI
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