O quarto de Giovanni

triz vieira
OIMOI
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2 min readAug 21, 2021

minha mão estica para te tocar

e ao mesmo tempo sinto meu estômago embrulhar

o desejo fervilha em meu corpo,

coloco mais uma dose no copo

eu tomo tudo como se com o álcool

eu fosse capaz de esquecer,

de esquecer você, e de esquecer o querer

que cresce em meu peito, queima tudo no caminho,

deixa minha cabeça ensurdecida com burburinhos

e me faz questionar se não seria melhor entregar

me ajoelhar, e deixar

deixar que suas mãos percorrem cada cantinho meu

deixar que sua boca percorra cada parte de mim, que quando ela pare de tocar meu corpo

eu sinta como se uma parte de mim fosse puro desespero.

como se meu ar fosse arrancado e ao imenso vácuo eu fosse deixado.

eu te desejo, mas eu tenho nojo

nojo do meu anseio

nojo da minha excitação

da minha paixão

da minha devoção.

se eu ficar, se eu ceder, se sobre meu joelhos cair

nunca mais vou me levantar, nunca mais vou me erguer.

não há nada mais amargo e mais doce que a queda

não há nada mais indesejado e desejado que o toque do seu corpo no meu.

não há nada que eu queira e não queira mais do que você

não há nada que eu odeie e ame mais do que o seu amor.

seu rosto uma hora me parece lindo, a face da própria afrodite, como se todos os conflitos fossem cessar, se olhassem para seu rosto.

ele parece angelical, calmo, belo, apaixonante, perfeito.

outra hora ele parece podre, depravado, sujo, imundo.

eu mergulho dentro de mim

minhas mãos vão ao fundo das minhas entranhas

desfazendo as montanhas

que eu criei para me proteger das minhas próprias vontades

e agora, onde está a verdade?

ela sumiu, evaporou, talvez nunca esteve aqui

talvez eu seja sempre um ser humano confuso

talvez nasci com uma parte faltando

e quando a encontro, encontro minha destruição junto.

o que eu quero?

o que eu desprezo?

a resposta para essas perguntas é mesma: você.

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triz vieira
OIMOI
Writer for

procrastinadora de sucesso, escritora meia boca.