Obrigado a sentir

Mariah Rigaud
OIMOI
Published in
2 min readDec 2, 2021
Foto de Karolina Grabowska no Pexels

Olho ao redor, de olhos bem abertos, mas me sinto deslocado. Sei que é meu quarto, que é minha cama, que são meus livros ali na estante e meu cobertor tocando meus pés. Ainda me sinto distante.

Eu ainda existo?

Encarando a tela do celular vejo todos os nomes e rostos conhecidos. Passo pelas mensagens trocadas a poucas horas atrás e me recordo das piadas internas que temos. Ainda me sinto sozinho, solitário.

Eu ainda estou aqui?

Sei que tenho voz mas não consigo me lembrar como ela soa. Sei que tenho um rosto mas não me recordo de seus traços. Evito olhar em espelhos, a visão é perturbadora, incômoda. Ainda me sinto vazio.

Eu ainda posso sentir?

Disse que sinto muitas coisas mas não acho que eu realmente as sinta. Minha mente está confusa, dolorida, tão barulhenta que os ruídos se fundem num silêncio. Meu físico dói e eu sei, mas não faz diferença. As lágrimas não escorrem e qualquer sofrimento aparente é superficial. Ainda me sinto sem graça.

Eu ainda vivo?

A noção de viver e sobreviver sempre se confundem quando se fala muito rápido e sem pensar. Vivo já que respiro e sobrevivo pois devo. Preso em minha mente, sem forças o suficiente para lutar contra mim mesmo, apenas me deixo levar. Me sinto obrigado a sentir algo.

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