Rodrigo Maia foi eleito na última quarta-feira para mandato tampão na Câmara. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Quem banca Rodrigo Maia?

Campanhas do presidente da Câmara foram financiadas pelo pai, empresas investigadas na Lava Jato e bilionário

Revista Apuro
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7 min readJul 18, 2016

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Reportagem: Michel Misse Filho e Pedro Muxfeldt

Entre as tantas polêmicas em que se envolveu desde que assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2015, Eduardo Cunha se notabilizou pela defesa intransigente do financiamento privado de campanha. Apesar das manobras regimentais do peemedebista, a Casa proibiu que empresas banquem candidatos já a partir das eleições deste ano. No entanto, a atual composição da Câmara é formada por deputados que tiveram suas campanhas financiadas por empresas nas últimas eleições.

Com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o lugar de Cunha na última quarta-feira, Apuro levantou, com base nas prestações de contas dos candidatos junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quem são as pessoas e companhias que investiram no novo presidente da Câmara nas três últimas eleições. Em 2010 e 2014, o democrata garantiu seu lugar em Brasília. Já em 2012, o filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, concorreu, sem sucesso, ao posto ocupado em três ocasiões pelo pai.

Ao todo, Rodrigo Maia arrecadou R$ 10.755.067,72 nos últimos seis anos. A campanha para prefeito foi a mais cara e custou R$ 6.450.000,00. Já as disputas para deputado federal em 2010 e 2014 arrecadaram, respectivamente, R$ 1.943.884,67 e R$ 2.361.183,05. Do montante, apenas R$ 403.000,00, ou cerca de 3%, foi oriundo de doações de pessoas físicas. Entre os financiadores pessoais, há nomes conhecidos no meio político e empresarial do país. Em 2010, o ex-presidente do Banco Central no governo FHC e hoje sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, doou R$ 50 mil para Rodrigo Maia.

Armínio Fraga doou R$ 50 mil para Maia em 2010. Foto Bel Pedrosa/Licença CC BY SA 2.0

Fraga também é sócio na empresa Energisa de outro grande doador do democrata: o bilionário Antônio José Almeida Carneiro, apelidado de Bode. O empresário e investidor, pouco conhecido do grande público, colocou R$ 180 mil na campanha de 2014 do presidente da Câmara. Antônio José controla a Sobrapar Organizações e Participações, dona da Construtora João Fortes e que doou R$ 20 mil para Maia em 2010.

Outros empresários de peso que apostaram em campanhas do fluminense são os irmãos Richard e Andreas Klien. Juntos, eles doaram R$ 110 mil em 2014. A família Klien é dona da Multiterminais Logística, que disputou na Justiça o controle da Santos Brasil — maior operadora de contâineres do país — com o grupo Opportunity, de Daniel Dantas, preso na Operação Satiagraha, em 2008. Além disso, os Klien são sócios de Armínio Fraga na Multiterminais.

As doações pessoais para Rodrigo Maia não se comparam ao volume do financiamento via empresas. Nos últimos três pleitos, 26 pessoas jurídicas bancaram as disputas do filho de Cesar Maia. Na lista, há construtoras, bancos e empresas de serviços de saúde: a trinca padrão do financiamento privado das eleições brasileiras.

O maior grupo é formado pelas empreiteiras. São dez empresas — Carvalho Hosken, OAS, UTC, Cyrela, Ribeira Empreendimentos, EPC Construções, LC Empreendimentos, Revita Engenharia, Labes & Labes Empreendimentos e Austrália Empreendimentos — que totalizaram R$ 1.016.000,00 na soma das três eleições. A maior doadora foi a UTC, que doou R$ 300 mil na campanha à Câmara em 2010. Seu dono, Ricardo Pessoa, foi condenado por envolvimento no esquema de propina na Petrobras.

A OAS, que deu R$ 50 mil na corrida à Prefeitura do Rio de 2012, também teve executivos condenados no âmbito da Operação Lava Jato e, segundo reportagem da Revista Época, a Polícia Federal identificou conversas entre Rodrigo Maia e o presidente da construtora, Léo Pinheiro, em que o político pede doações da OAS para sua campanha em 2014. A ausência do nome da empreiteira na lista de doadores oficiais do deputado federal levantou suspeitas de caixa 2.

Empreiteira envolvida na Lava Jato está entre maiores doadores de Rodrigo Maia.

Do setor financeiro vêm o maior doador e também o mais fiel. O Banco BMG, no qual Rodrigo trabalhou antes de iniciar sua vida pública, garantiu R$ 550 mil para o político nas eleições de 2014. Dois anos antes, o dono da instituição, Ricardo Guimarães, havia sido condenado por participar do esquema do mensalão. Fidelidade a Rodrigo Maia, no entanto, quem demonstra é o Banco Itaú que injetou R$ 100 mil, R$ 150 mil e R$ 50 mil, respectivamente, nas campanhas de 2010, 2012 e 2014. O Banco Máxima e a Bolsa de Valores de São Paulo também já doaram para Maia.

Fechando o trio, o setor de saúde investiu R$ 320 mil, verba totalmente empenhada na campanha de Rodrigo Maia a prefeito em 2012. A Amico Saúde, do grupo Amil, deu R$ 100 mil, mesmo valor pago pelo Hospital das Clínicas de Niterói. Já os Laboratórios Sérgio Franco e a Preslaf Serviços Hospitalares deram R$ 60 mil cada uma.

Há ainda companhias de outros setores com investimentos pesados no presidente da Câmara. Investigada na Lava Jato, a JBS, controladora da Friboi, doou R$ 100 mil em 2014. Na mesma campanha, a CRBS S/A, subsidiária da Ambev, também passou cheque de R$ 100 mil para Maia e a Praiamar Indústria e Comércio, da Cervejaria Petrópolis, que está sendo investigada tanto na Operação Lava Jato quanto na Operação Zelotes, investiu R$ 200 mil.

Rodrigo Maia também recebeu dinheiro repassado pelos diretórios estadual e nacional do Democratas e da campanha de Cesar Maia. Os valores podem ser oriundos de empresas, mas não há comprovação da sua fonte. Depois de doar pouco mais de R$ 6 mil para o filho em 2010, o ex-prefeito fez doações que totalizaram R$ 284.343,05 nas eleições de 2014. Na ocasião, Cesar concorreu ao Senado e sua frustrada tentativa de chegar à Brasília foi bancada por nomes conhecidos de Rodrigo, como a família Klien, Antônio José Almeida Carneiro, Banco BMG e Austrália Empreendimentos.

União entre as famílias Maia e Picciani foi selada em 2014 por conta do movimento Aezão. Foto: Gustavo Miranda/Agência O Globo

Já o Democratas foi o grande fiador das campanhas de 2010 e 2012 do novo presidente da Câmara. Há seis anos, R$ 1 milhão dos quase R$ 2 milhões arrecadados por Maia saiu dos cofres do partido. Na disputa para prefeito do Rio, os valores pagos pelo DEM explodiram e chegaram a R$ 5,725 milhões, o que equivale a 88,7% das receitas de Rodrigo Maia naquela eleição.

Porém, há duas doações partidárias inusitadas na prestação de contas de Rodrigo Maia. Na última eleição, o Comitê Financeiro do PMDB repassou R$ 24.790,00 para a campanha do democrata. Além disso, houve também doação por parte do comitê de campanha de Rafael Picciani, que disputava vaga de deputado estadual, para Maia no valor de R$ 4.050,00. Os clãs Maia e Picciani estiveram unidos nas eleições de 2014 por conta do apoio ao Aezão, movimento capitaneado por Jorge Picciani para eleger Aécio Neves e Luiz Fernando Pezão. Cesar Maia chegou inclusive a participar de carreata de outro filho de Picciani, Leonardo, ex-líder do PMDB na Câmara dos Deputados e atualmente no Ministério dos Esportes.

A eleição para a presidência da Câmara é o ponto alto da trajetória política de Rodrigo Maia. E o auge chega num momento em que seu apoio junto aos eleitores parece em baixa. Nas eleições de 2014, quando assegurou seu quinto mandato na Câmara, ele recebeu a menor votação de sua carreira. Foram 53.167 votos, que o colocaram apenas como 29º mais votado do Estado. Quatro anos antes, o candidato do DEM teve 86.162 sufrágios, nível quase três vezes menor do que os mais de 230 mil votos recebidos em 2006, quando foi o 3º deputado federal mais votado do Rio.

Já na campanha à Prefeitura, o insucesso foi ainda mais duro. Na primeira disputa majoritária de sua carreira, Rodrigo teve apenas 95.328 votos — ou menos de 3% dos votos válidos — ficando atrás de Marcelo Freixo (Psol) e Eduardo Paes (PMDB), que se reelegeu no primeiro turno.

A relação entre os gastos de campanha e os eleitores conquistados mostram que o voto em Rodrigo Maia tem ficado cada vez ‘mais caro’. Em 2010, o democrata recebeu um voto para cada R$ 22,50 investidos. O aumento dos gastos e a perda de eleitores fez a relação passar para R$ 44,11 por voto quatro anos depois. A proporção em 2012, porém, é a maior das últimas três eleições disputadas pelo democrata. Apesar do alto investimento feito, o mau desempenho nas urnas fez com que cada um dos 95.328 votos alcançados pelo deputado custasse R$ 67,66. Como comparação, Marcelo Freixo conseguiu um voto para cada R$ 1,13 investido na campanha.

Com a proibição ao financiamento privado de campanha, Rodrigo Maia — e a maioria dos políticos brasileiros — precisará alterar seus métodos de captação de verba para as próximas disputas eleitorais e buscar dinheiro entre os eleitores. Como a queda em suas votações vêm demonstrando, tal missão poderá ser mais difícil para o deputado do que angariar os quase 300 votos que lhe garantiram o posto de presidente da Câmara até fevereiro de 2017.

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