A comparação do incomparável: a adaptação de Dois Irmãos da literatura para a TV

Karine Silva
Bem-Te-Vi
Published in
4 min readJun 11, 2018
Foto: Reprodução Rede Globo

Por Lucas Drumond e Luiz Henrique Santos

Aadaptação de livros para o cinema e para a TV é uma prática cada vez mais comum. Junto a isso, são também mais frequentes as comparações entre a obra original e o produto gerado a partir dessa — com a produção secundária muitas vezes apontada como inferior. Os argumentos de críticos vão das diferenças entre os textos aos diferentes modelos de produção.

Estratégias de ampliação do público, que antes poderiam apenas ler mas agora também podem assistir à obra, são muitas vezes mal vistas, especialmente quando as adaptações são feitas para a TV.

Um exemplo disso é a série “Dois Irmãos”, baseada em um livro homônimo de Milton Hatoum, e escrita por Maria Camargo, dirigida Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 10 episódios. A trama se passa na Manaus das décadas de 1920 a 1980, quando a cidade estava tomada pelas transformações da modernidade.

O foco é na história da família dos gêmeos Omar e Yaqub, interpretados por Matheus Abreu na adolescência e Cauã Reymond na fase adulta, e de como as relações entre o grupo são afetadas pela rivalidade entre os irmãos. O problema se intensifica quando a mãe, Zana (Juliana Paes), impede apenas Omar de embarcar para o Líbano em meio à Segunda Guerra Mundial, deixando que o outro filho parta sozinho.

Trailer da série 2 irmãos

O rebaixamento da TV (e de quem assiste seus programas)

Dois Irmãos recebeu muitas críticas de analistas de TV. Apesar de bem recebida por alguns, mesmo pela fama de Carvalho em adaptações da literatura para a TV, a série recebeu comentários negativos de analistas que consideram o livro muito complexo para ser adaptado para o público da TV, que seria “muito popular”. Para compreendê-la, as pessoas precisariam de “muita atenção”.

Outros consideraram que a adaptação para a TV com forte investimento no estilo da obra foi inadequada para o público. O argumento é de que a audiência não se acostumaria às inovações estilísticas e a narrativas mais complexas.

Fonte: Na Telinha

Mesmo quem elogiou Dois Irmãos pelo ritmo, fotografia e direção próprios, acabou, em algum momento, rotulando que esse seria um estilo “de melhor qualidade”, comparado ao das obras de arte.

Os críticos e a diferenciação dos produtos

Não é errado formar opinião e criticar os produtos da TV — seja positiva ou negativamente. Porém, críticas devem ser embasadas, não apenas feitas. O que vemos em muitos comentários sobre Dois Irmãos são suposições baseadas em preconceitos do que seria melhor, do que seria pior, do que quem assiste TV é capaz de assimilar ou não.

Porém, essa comparação é tão injusta quanto inviável. Afinal, como comparar lógicas de produção e consumo tão distintos? E, por que não admitir que os públicos da TV podem sim consumir produtos que não se limitam aos planos e contraplanos clássicos do meio?

Mais do que comparar, é necessário olhar para o meio, sua natureza e sua história junto à audiência. Quem sabe daí partem críticas mais

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