O Pantanal como protagonista

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6 min readJul 7, 2022

Por Heitor Beluco, Fernanda Maria Saraiva e Mariana Mata do Nascimento*

Logotipo da vinheta de abertura da telenovela Pantanal (Rede Globo, 2022).

A novela “Pantanal”, inicialmente lançada pela emissora Manchete em 1990 retornou agora na TV Globo com novos recursos para compor a história e algumas inovações no roteiro.

Após uma série de reprises de novelas devido a pandemia do COVID-19 e a impossibilidade de realizar novas gravações, a maior emissora do Brasil se viu lutando para reconquistar o público com novos enredos, em especial diante da baixa audiência de “Um Lugar ao Sol”, sua última novela das nove.

Cumprindo sua promessa, Pantanal conseguiu atingir um ibope maior do que todos os capítulos de “Um Lugar ao Sol” já em sua estreia. Dessa vez, a Globo optou por trazer o remake de um conteúdo já conhecido pelo público desde a década de 1990, e anteriormente revisitado pela rede de televisão SBT.

Até então um sucesso, Pantanal segue atingindo números altos de audiência e sendo um tópico recorrente nas redes sociais. Não apenas pela história, mas também por seu elenco e atuações, que têm agradado bastante o público.

Se ainda não está por dentro do enredo por trás de Pantanal, vamos te explicar um pouco no tópico seguinte. Mas se você já está a par de toda a história, fique a vontade para pular este pequeno resumo que trouxemos.

O ENREDO

Em seu roteiro original, a novela traz como enredo dominante a vida de José Leôncio e seus relacionamentos, tanto com seus filhos e seu pai, quanto com sua esposa e sua namorada. Junto de seu pai Joventino, com quem chegou ao Pantanal, ele caça Marruás, uma espécie de boi da região. Até que um dia seu pai sai para caçar sozinho e nunca mais é visto. Assim, José Leôncio é obrigado a seguir a vida apesar de não se conformar com o desaparecimento do pai. Em uma viagem ao Rio De Janeiro, ele conhece Madeleine, por quem se apaixona e se casa, levando-a para o Pantanal. Apesar de tudo, sua esposa não se adapta à nova vida no meio rural e mesmo após engravidar e ter um filho do peão, decide voltar para a sua casa no Rio.

Maria Marruá (Juliana Paes) e sua transformação em onça na telenovela Pantanal (Rede Globo, 2022).

Em paralelo, também temos a história de Maria Marruá. Ela foi vista pelo seu marido, Gil, ao se transformar em uma onça para defender sua filha recém-nascida, Juma, de uma sucuri. O homem espalhou a notícia sobre a sua esposa e todos ao seu redor passaram a ter medo de Maria Marruá. A história avança alguns anos e, em sua segunda fase, traz grande destaque para Juma e para o bebê de Madeleine e José Leôncio, Jove. O rapaz ficou longe de seu pai por anos, sem que um soubesse da existência do outro, até que sua tia provocou a união dos dois e, daí em diante, acompanhamos novas conexões familiares, romances e histórias.

O PANTANAL

Um dos pontos chave da nova versão é a principal personagem da novela: o Pantanal. Tendo uma participação maior que apenas como um cenário, o bioma toma lugar de protagonista e tem suas questões culturais, ecológicas e políticas realçadas. Para isso, foram usados diversos recursos estilísticos, já usados na versão anterior, mas também alguns novos que contribuíram bastante para a relevância do tema.

A fim de trazer maior destaque e importância para o ambiente, a fauna e também a flora, a filmagem foi feita através de ângulos que permitem apresentar todos os detalhes e que trazem, de fato, a experiência de visitar as paisagens. Algumas técnicas e recursos de gravação já tinham forte presença na versão da Manchete, mas foram aprimoradas a partir do uso de drones e outros recursos de câmera possíveis nos dias de hoje. Assim, um dos primeiros pontos que podemos apresentar em comparação com as duas novelas é o uso do Plano Aberto, para apresentar o máximo de detalhes possíveis nas cenas, aliado ao ângulo Plongée, em que é possível visualizar as cenas de um ponto de vista superior, passando a experiência de sobrevoar os rios e árvores da região.

Imagens do pantanal na telenovela (Rede Globo, 2022).

Percebemos que além de trabalhar com ângulos e planos, a edição também foi um elemento essencial para passar a mensagem ecológica e política associada à novela, reforçando a questão ambiental, visto que o Pantanal foi um dos biomas mais devastados no Brasil nos últimos anos. Como forma de realçar essa problemática, a equipe de edição parece tentar contribuir para reforçar a ideia de um bioma que aos poucos está sumindo e até mesmo perdendo parte de sua beleza e potencial ecológico. Para isso, foram usados elementos como a cor da imagem, mais quente e escura, colaborando para a associação com as queimadas e a destruição do bioma. Muito diferente do que vemos na primeira novela, em que as imagens são muito iluminadas, com vários elementos verdes e aparentemente mais naturais.

Mesmo com planos mais próximos, como o médio, a câmera busca manter uma certa distância dos elementos, sendo possível enquadrar o cenário e contextualizar os personagens no ambiente. A edição segue tornando o visual mais amarelado, o que além de contribuir para a ideia de uma paisagem mais explorada, como já ressaltamos, conversa com a ideia da produção de um remake e da nostalgia despertada no público. Mas vamos deixar isso para o próximo tópico!

Imagem da telenovela Pantanal (Rede Globo, 2022)

A NOSTALGIA

Outro fator interessante e que ganhou muito destaque na nova produção foi o uso dos mesmos ambientes de gravação utilizados em 1990 e a reprodução de cenas de forma extremamente semelhante. Assim, a novela conseguiu trazer uma certa nostalgia para aqueles espectadores que acompanharam a primeira versão e esperaram ansiosamente por essa nova versão.

Um exemplo destes recursos pode ser observado na famosa cena do nascimento de Juma. Maria Marruá, sozinha no rio, sofre com a gravidez que ela não desejava e dá à luz a próxima protagonista da segunda fase. Muitos espectadores se lembraram deste momento marcante, ao passo que as cenas também foram amplamente divulgadas como uma forma de valorizar a produção atual e a fidelidade do conteúdo. Além deste, outros momentos também trouxeram essas semelhanças, como o encontro entre Juma e Jove, que tem até mesmo falas idênticas, demonstrando que a emissora tem acompanhado e revisitado a produção original.

Juma em Pantanal de 1990 e Pantanal de 2022.

Fugindo do clássico de câmeras estáticas, a nova direção também trabalhou com muito movimento e com ângulos em contra-plongée (com um enquadramento de baixo para cima). Isso permitiu que o espectador tivesse a sensação de estar “espionando” a história e acompanhando os acontecimentos de maneira mais próxima. Foi possível perceber esse recurso na maior parte das gravações, que contavam com um enquadramento que acompanhava as falas dos personagens e a sua mudança dentro das cenas.

Ainda assim, a nova produção não deixou o público com saudade dos antigos atores e trouxe alguns que estavam presentes na versão original da novela. Isso chamou bastante atenção do público e da crítica, com os maiores destaques para a presença de Almir Sater e Selma Egrei.

Com todo esse investimento e produção, a novela tem sido um grande sucesso da emissora e atraído muitos olhares. Se você ainda não assistiu ao menos um capítulo, recomendamos que assista, agora com um olhar ainda mais técnico em relação aos incríveis recursos utilizados!

*Graduandos em Comunicação na UFMG, alunos da disciplina Dramaturgia e Estilo ministrada pela Profa. Dra. Simone Maria Rocha.

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Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura em Televisualidades, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG. grupocomcultufmg@gmail.com