É possível ser sustentável e ainda gerar lucros?

Os desafios de um caminho mais sustentável para aqueles que visam lucro

Graziela Bezerra
Revista Brado
4 min readJul 12, 2021

--

*Mestranda em desenvolvimento econômico e candidata no processo seletivo da Revista Brado, Graziela Bezerra é convidada das editorias de Meio Ambiente e Economia.

Imagem: VanVangelis/Pixabay

Produzir para gerar lucro. Essa é uma das primeiras frases que vem em mente ao se pensar em desenvolvimento. Porém o desenvolvimento descontrolado abriu portas para as externalidades negativas que atingiram ao meio ambiente, com isso novos pensamentos sobre como o desenvolvimento surgiram. Suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as das gerações futura: esse é o mais famoso conceito de Desenvolvimento Sustentável, outro conceito bastante conhecido é o cunhado por Ignacy Sachs que aponta que o desenvolvimento deve ser Includente, Sustentável e Sustentado.

Essas ideias apontam que é possível praticar a sustentabilidade sem necessariamente haver perda de lucro. Sem dúvidas, esse é um dos pensamentos que mais circulam nas Instituições, principalmente na conjuntura atual, na qual o mundo sofre com diversos problemas ambientais, em grande parte ocasionados por poluentes liberados no processo de produção e/ou em consequência de como ocorre o descarte final dos produtos gerados.

Com o isso, o consumidor vem se tornando cada vez mais exigente em relação aos produtos que consome, verificando a procedência da matéria prima e até se a condição de seu material é biodegradável ou não. Ao satisfazer o consumidor a esse ponto, além de contribuir para a sustentabilidade, a instituição geradora de lucros também consegue se beneficiar, agregando valor ao seu produto.

Mas qual seria a “receita mágica” para se torna sustentável sem prejudicar os níveis de lucros atuais e ainda promover um aumento dos lucros totais? Dificilmente essa “receita” será encontrada em busca rápida na Internet. Esse processo de modificação interna tem como base principal a inovação. Para isso, o indivíduo que agirá como ator da sustentabilidade deve compreender os principais desafios que a instituição possui para promover o processo sustentável.

Imagem: Daria Shevtsova

Uma medida que vem ganhando espaço entre as instituições que se preocupam com seus produtos, evitando que se tornem resíduos e que não possuam o descarte adequado, é a utilização da logística reversa. Nesse processo, as empresas se comprometem em realizar o redirecionamento das embalagens dos produtos para cooperativas e outros setores responsáveis por sua reciclagem, para que ele retorne ao processo produtivo. Dessa forma, a cadeia produtiva, que antes terminava quando consumidor adquire o produto e o descarta em aterros sanitários, agora passa a ser concluída quando o seu resíduo retorna ao processo produtivo.

Um exemplo de empresa que utiliza a logística reversa é a Natura, uma empresa brasileira atuante no setor de cosméticos, que busca demonstrar em seus produtos a preocupação que possui em relação ao meio ambiente. Em 2020, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus, ela conseguiu atingir em 100% sua meta de coletar e reciclar 50% dos resíduos gerados.

Esse exemplo evidencia que além de utilizar a logística reversa, e também reaver uma matéria prima, que por sua vez pode se tornar mais barata para o processo produtivo, uma organização consegue contribuir com no mínimo quatro dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, sendo eles: Cidades e Comunidades (11); Consumo e Produção Responsáveis (12); Vida na Água (14); e Vida Terrestre (15).

Mas se engana quem pensa que o processo sustentável dentro das instituições ocasiona apenas custos. De fato, o processo de transição requer um certo investimento, que vai desde a pesquisa de técnicas sustentáveis até mudanças estruturais. Mas o custo benefício que essa transformação pode proporcionar ao longo do tempo se torna lucrativa.

Imagem: Min An

Um exemplo disso é a EDP Brasil e a medida de “carbono neutro”, que busca reduzir a quantidade de carbono gerada em seu processo produtivo. Com essa atitude, além de contribuir com o meio ambiente, essa holding brasileira está agregando valor ao seu produto à medida que procura adicionar processos inovadores que reduzirão a geração de resíduos. Esse investimento pode permitir que a médio e longo prazo suas despesas também sejam reduzidas.

Sendo assim, fica evidente que de fato não existe uma “receita” que possibilita a todas as empresas gerarem lucro e ainda serem sustentáveis, mas existem ações, medidas e instrumentos que possibilitam, e cabe a cada organização identificar os seus desafios internos e, partindo deles, promover uma ação mais sustentável.

Gostou deste texto? Deixe seus aplausos (vão de 1 a 50) e compartilhe.

Siga a Brado nas redes sociais: Instagram; Facebook; Twitter; e LinkedIn.

--

--

Graziela Bezerra
Revista Brado

Bacharel em Ciências Econômicas, Mestranda em Desenvolvimento Econômico e Colunista na Revista Brado.