2021: o ano sem Carnaval

Samara Elisa
Revista Brado
Published in
4 min readFeb 19, 2021
Trecho do desfile da escola de samba Viradouro, campeã do Carnaval do Rio de Janeiro em 2020. (Foto: Fernando Grilli/Riotur)

O Carnaval de 2020 passou ileso pela pandemia do novo coronavírus, sendo o último grande evento que pudemos vivenciar antes da doença se espalhar de forma descontrolada. No entanto, o mesmo não aconteceu com o feriado de 2021. Com a vacinação caminhando a passos muito abaixo do desejado, as ligas das escolas de samba e prefeituras decidiram pelo cancelamento da grande festa brasileira a fim de preservar a saúde de todos os envolvidos.

A princípio, no Rio de Janeiro, a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) decidiu que os tradicionais desfiles seriam adiados para julho deste ano — no entanto, devido à lentidão da imunização entre os brasileiros, a festa foi cancelada de vez.

Em janeiro, assim que foi anunciado o cancelamento do Carnaval carioca, o prefeito Eduardo Paes, noticiou também que haveria um edital pela Secretaria de Cultura e Riotur para auxiliar os profissionais envolvidos neste ano tão difícil em que não puderam exercer seus trabalhos. O projeto, nomeado “Cultura do Carnaval Carioca”, irá selecionar 125 projetos inéditos que atuam no setor de Carnaval de rua. O edital para os trabalhadores de escolas de samba ainda não foi divulgado.

Bloco de rua carioca “O Cordão do Boitatá”. (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil)

Apesar de ainda não terem sido anunciadas medidas voltadas somente para as escolas de samba, Beija-Flor, Grande Rio, Mocidade e Viradouro foram selecionadas pelo edital Fomenta Festival RJ para a escolha dos samba-enredos. O edital é vinculado à Lei Aldir Blanc e as escolas deverão fazer quatro apresentações cada uma, com transmissão online.

Esses editais são muito importantes para reestruturar os trabalhadores do carnaval, para que sigam em frente com seu trabalho. Entretanto, não são somente as escolas de samba que sentem na pele os impactos negativos da pandemia: toda uma cadeia que faz parte do espetáculo pelos bastidores é afetada, como empresas de tecidos, adereços, armarinhos, bares, hotéis e, claro, toda a rede de turismo.

Com o cancelamento do Carnaval, o Rio de Janeiro deixará de faturar R$ 5,5 bilhões, de acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). Isso representa 1,4% do PIB do estado. Se não fosse pela pandemia, 88% desse valor que seria arrecadado viria dos próprios turistas brasileiros de outros estados visitando o Rio e 12% de visitantes estrangeiros.

Campeã do Carnaval capixaba de 2020: Independente de Boa Vista Carro abre-alas da escola Boa Vista (Foto: Anna Sabbatini/AT)

Já no Espírito Santo, foi definido pela Liesge (Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial) que não haverá desfile das escolas de samba. No entanto, está em curso uma negociação com a Prefeitura de Vitória para que haja apresentações online.

Enquanto não há definição, ocorreu nos dias 12 a 14 de fevereiro o primeiro Carnaval Online de Vitória. O evento não contou com escolas de samba, mas com bandas e artistas de estilos diversos, contemplados pelo edital Arte em Casa. As apresentações ainda estão disponíveis no YouTube da Prefeitura de Vitória. Para acessar, clique aqui.

Mesmo com tantas dificuldades, as escolas de samba encontraram uma forma de ajudar a si mesmas e também aqueles que mais precisam. Elas resolveram fazer uma “competição” para estimular a doação de sangue entre os participantes das escolas. Aquela que trouxer mais pessoas para doarem será premiada; o segundo e terceiro lugar também serão contemplados. A competição ajuda as próprias escolas, assim como o Hemoes, que apresentou uma queda no banco de sangue durante a pandemia.

A crise sanitária global gerada pela Covid-19 mostrou a importância e o tamanho dessa festa para a cultura brasileira, e como a sua falta impacta diversos setores da economia e da cultura, assim como deixa a saudade àqueles que vivenciam os desfiles e blocos de rua.

Apesar de incomodar tanto alguns setores — a exemplo do ministro do Turismo, que visivelmente desrespeita a própria pasta –, a falta do Carnaval incomoda muito mais. Isso porque a festa não apenas incorpora uma brasilidade latente, uma parte importante da identidade nacional, mas também gera aquilo que o Brasil tanto precisará no pós-pandemia: emprego, renda, turismo e, sobretudo, otimismo. Essa é a força dos patrimônios culturais brasileiros em todas as nossas regiões.

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