6 das 17 maiores redes sociais do mundo são chinesas
Do tiktok ao We Chat, como os gigantes asiáticos têm remodelado as tecnologias ocidentais
Não é de hoje que o mundo enxerga o rápido crescimento e desenvolvimento das tecnologias em países asiáticos. Em 2022, o Data Reportal por meio da Digital 2022: Global Overview Report fez uma listagem das maiores redes sociais do mundo. As quatro primeiras posições da lista são ocupadas pelo Facebook (2,91 bilhões), YouTube (2 bilhões), WhatsApp (1,47 bilhão) e Instagram (1,26 bilhão), mas o que pode surpreender é o fato de que, apesar da liderança dessas quatro estadunidenses, do total de 17 empresas listadas pelo relatório, 6 são chinesas. Na quinta posição, logo após as já citadas, está o We Chat (1,26 bilhão), seguido pelo Tik Tok (1 bilhão) na sexta e a Douyin (600 milhões) na oitava, que por sua vez é seguida pelo QQ, Sina Weibo e Kuaishou.
O fenômeno das redes sociais se deve ao aumento de assinantes móveis, além da implantação antecipada de redes 4G e 5G, bem como ao comportamento do consumidor asiático diante das mídias sociais, tornando a região terra próspera para o crescimento dessa tecnologia. A GSMA Intelligence prevê que a região Ásia-Pacífico tenha a taxa de penetração móvel única aumentada de 67% (dados de 2017) para 73% em 2025, obtendo pouco mais da metade dos novos assinantes móveis do mundo também em 2025. Dessa forma, aplicativos ocidentais como o Facebook têm se preocupado em remodelar suas redes para se tornar um super-aplicativo, na qual as pessoas podem fazer detudo por ele, como o We Chat e Kakao Talk que falaremos mais adiante.
O Douyin é uma versão chinesa e original do Tik Tok, que veremos adiante. Foi lançado em 2016 e superou em 2018 o Facebook, o Instagram e o YouTube como o aplicativo mais baixado no mundo nos primeiros 3 meses do ano, com um montante de 45,8 milhões de downloads. Essa rede social se popularizou pelo layout dinâmico de visualização e compartilhamento de vídeos curtos, sendo feito para uso móvel e execução de vídeos verticalmente, de modo a focar na forma como os clientes olham para a tela. Apesar de ter a mesma função do Tik Tok, elas são vistas como duas plataformas distintas, e o Douyin só pode ser baixado na China continental. A primeira marca de moda de luxo a fazer parceria com a Douyin foi a Michael Kors, trabalhando com um desafio de Hashtag (#KorsShanghai#), que arrecadou mais de 5 milhões de visualizações em somente 3 vídeos de influenciadores digitais e mais de 30 mil vídeos gerados por usuários somente nessa campanha. Em contrapartida, o seu maior concorrente é o Kuaishou (573 milhões), lançado em 2011 pela empresa Beijing Kuaishou Technology Co, que tem se popularizado em países ocidentais, como o Brasil, com o nome de Kwai, contando com publicidade feita por influenciadores digitais, a exemplo do ator e youtuber Whinderson Nunes.
Já o QQ (574 milhões) foi uma das redes sociais chinesas mais populares, pertencente à companhia Tencent, detentora do We Chat e Qzone. Atuou por muito tempo como um programa de mensagens instantâneas gratuito, cujo login era usado também para jogos online — saudades dessa época. Enquanto isso, a Sina Weibo (573 milhões), atual Weibo (微博), é um microblog da Sina Corporation, lançado em 2009, que possui um estilo semelhante ao do Twitter, uma vez que o país bloqueia o acesso a redes externas, como o Facebook, YouTube, Twitter e Instagram. Apesar da sua inspiração inicial ter sido o passarinho, hoje ele apresenta recursos semelhante aos do Facebook, a partir do aumento do limite de caracteres para duas mil palavras em 2016, além de recurso para mídias audiovisuais.
Além das fronteiras da China, na Coreia do Sul tem se destacado o uso do Kakao Talk Messenger. É o principal meio de contato dentro do país, sendo capaz de sincronizar automaticamente a lista de contato do celular para encontrar amigos que também o utilizam, além de ser possível encontrar outras pessoas sem que se tenha o número: um aplicativo como o WhatsApp, mas com alguns implementos. Além de conversar, o aplicativo permite fazer ligações em grupos e individuais, mensagem de voz, vídeo e envio de presentes para amigos, como cosméticos, roupas e calçados. Dentro do aplicativo tem o KakaoStyle, que apresenta perfis de lojas com publicação diária de seus produtos para compartilhamento, além do KakaoTV, que dá acesso a programas de esportes, músicas, doramas, entre outros exibidos pelas emissoras coreanas. E caso o usuário queira, ainda pode usar o Kakao Pay para compra de ingressos de shows, cinemas e até mesmo passagens aéreas.
Nem um pouco distante do aplicativo coreano, os chineses possuem o We Chat — que afirmo com toda certeza que é meu favorito. É um aplicativo onde você pode fazer de tudo, desde o simples enviar e receber mensagens com diversas interações, como criar seu próprio sticker e interações do aplicativo desencadeadas por palavras-chave em datas comemorativas, como uma chuva de bolos quando escreve “Feliz aniversário”, mensagens de voz, videochamadas e ligações. O aplicativo alcança cerca de 1 bilhão de pessoas, dando a possibilidade também dos usuários jogarem (lembrando que a empresa responsável é uma gigante dos games também), pedir comida (como o iFood e Uber Eats), consultas médicas, compra de passagens, pedido de táxi (como Uber e 99), bem como usar como um blog para ver, postar e compartilhar, como o Facebook, tendo sua privacidade mantida entre seus contatos, de forma que só podem ser visualizadas as interações por amigos e amigos em comum que estejam em sua lista de amigos. Além disso, é capaz de realizar pagamentos de forma rápida e segura, além de transferências por sua carteira digital, de maneira que os chineses pouco andam com dinheiro e cartão: fazem tudo pelo We Chat e praticamente todas as lojas possuem seu QR Code. Os restaurantes personalizam seus serviços, de modo que o cliente não precise pedir a conta para o garçom e nem ir ao caixa, realizando o pedido e o pagamento direto da mesa pelo app, apresentando somente a nota fiscal na saída.
Ademais, está em testagem o We Chat ID, já em uso na cidade de Guangzhou, na província de Cantão (Guangdong), e em alguns distritos de Pequim, que permite ao usuário o armazenamento de dados de documentos para que possa usar como uma forma de identificação oficial. É um aplicativo divertido e fácil de usar, permite interatividade, segurança e praticidade, de modo que tem seu charme ao permitir o envio dos pacotes vermelhos, tradicionais do costume chinês. A empresa responsável pelo We Chat é a Tencent, fundada em 1998 em Shenzhen. A empresa é avaliada em 500 bilhões de dólares e é considerada um centro de inovação digital. Devido à sua experiência com o QQ e o entendimento do mercado consumidor em ascensão, a empresa obteve sucesso ao criar um serviço leve e atraente para usuários de celulares.
Por fim, e como a mais popular no mundo ocidental, temos o Tik Tok. A rede social foi lançada em 2016 na China e posteriormente ganhou uma versão para o público internacional. É um aplicativo que vem da fusão feita em 2018 com o Musical.ly (2014), no qual usuários dublavam vídeos curtos com áudios e músicas famosas, mantendo o nome original. Desde então, o TikTok se popularizou internacionalmente, enquanto a Douyin predomina dentro do país. Em novembro de 2021, a empresa chinesa responsável, Byte Dance, declarou que o aplicativo possuía mais de 1 bilhão de usuários ativos por mês, com uma valorização de mais de US$ 100 bilhões no mercado. Ainda segundo a empresa, o volume de anúncios no aplicativo cresceu 500% em 2020 durante a pandemia. Somente em 2019, o Tik Tok foi baixado 750 milhões de vezes, levantando debate para a sua segurança e impacto na saúde, com ênfase no impacto na neuroplasticidade dos jovens. O aplicativo é recomendado para usuários com 13 anos ou mais, sendo necessária a criação de um mecanismo gerenciador do conteúdo direcionado para a segurança dos usuários menores de idade. Diante da sua popularidade, outros aplicativos têm buscado concorrer com o seu sucesso, lançando o YouTube Short e o Reels no Instagram, enquanto o Google anuncia o lançamento do Tangi, para que as pessoas possam compartilhar vídeos de até 60 segundos.
Não só essas as redes sociais que fazem sucesso nessa região do mundo, mas são bons exemplos para nos mostrar o potencial dessa região e como o ocidente tem reagido ao seu sucesso.
Este texto faz parte da campanha que a Revista Brado iniciou em 30 de junho sobre o Dia das Mídias Sociais.
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