A impunidade de estupradores em uma sociedade que odeia mulheres

Mylena Ferro
Revista Brado
Published in
2 min readAug 14, 2021
Foto: Pixabay

No Código Penal brasileiro o estupro é um dos crimes cuja penalidade é mais longa: pode ir de 6 a 30 anos, de acordo com a gravidade e consequências. No entanto, mesmo assim, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil. Acredito já estar mais do que claro que investir apenas em sistemas punitivos nunca será a melhor alternativa para nenhum problema social, mas, neste caso, arrisco ir ainda além: os números são tão alarmantes porque, além de tudo, os homens não têm medo de estuprar pois se sabem salvos.

Segundo pesquisa divulgada pela Metrópoles, apenas 1% dos casos de estupro no Brasil são punidos. Quando meninas e mulheres conseguem reunir forças para denunciar, são desacreditadas seja pela família, pela sociedade ou por autoridades legais. Os raros casos punidos são os que habitam o imaginário coletivo: monstros que se escondem em becos, sequestram e estupram em uma casa abandonada ou no meio do mato. Esses, no entanto, representam a minoria dos casos. Aos estupradores que são tios, primos, pais, amigos e conhecidos, a sociedade esquece e o judiciário releva.

Não é exagero dizer que a sociedade incentiva o estupro — e ainda vou além: ela finge se chocar quando um caso toma a mídia, personaliza a vítima, esquece alguns dias depois e fecha os olhos quando casos acontecem na casa ou quarto ao lado. À vítima, cabe carregar traumas que a acompanharão provavelmente por toda a vida, além de, muitas vezes, ser obrigada a continuar convivendo com seu algoz. Ao estuprador, é dada relativização e impunidade, embalada para presente, tendo como remetente a sociedade que finge não tolerar o crime.

Nos últimos tempos, começou a ser popularizado, inclusive, o termo “estupro culposo” — que seria, em tese, quando não se há a intensão de estuprar. Argumentos como sobriedade, idade e relacionamento com a vítima começaram a ser usados para tentar justificar, minimizar ou ressignificar o estupro. Não há ressignificação. Quem estupra, sabe o que está fazendo — tendo 14 ou 80, sendo namorado ou desconhecido, estando sóbrio ou não.

A violência que uma mulher sofre não para ali, no dia, nos meses ou nos anos em que ela foi estuprada, mas a acompanha sempre de um modo muito particular. Tentar arrumar desculpas, desacreditar ou ser indiferente é violentá-la mais uma vez — e é justamente isso que é feito com todas que fazem parte daqueles 99%.

Estuprar mulheres em uma sociedade misógina é ter a certeza da impunidade.

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