A oposição que se opõe à oposição

As disputas internas do bloco que luta contra a ditadura de Nicolás Maduro

Gustavo Dantas
Revista Brado
3 min readSep 11, 2020

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À esquerda Henrique Capriles e à direita Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela. Capriles se opõe à maioria oposicionista, liderada por Guaidó, e defende ir às eleições em dezembro. Foto: Getty Images

No começo de setembro, Juan Gauidó, com outros 27 partidos, oficializaram um comunicado dizendo que não iriam às eleições parlamentares de dezembro, alegando ser um processo fraudulento, já que essas eleições foram convocadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), comandado pelo Tribunal Supremo de Justiça, que por sua vez é controlado pelo chavismo. Segundo eles, isso só “legitimaria” mais uma vez Nicolás Maduro na presidência da Venezuela. Entretanto, Henrique Capriles, um dos principais líderes oposicionistas ao chavismo de Maduro, se mostrou extremamente insatisfeito com a decisão de “dar de bandeja” a reeleição do atual ditador, defendendo a participação da oposição nas eleições e criticando a falta de clareza dos resultados das políticas de Guaidó.

Capriles defende a ida da oposição às urnas por não ver mais opções cabíveis ao atual momento. Desde o começo da liderança de Guaidó, critica o “governo da Internet” e vê pouca movimentação em um momento tão importante que pode decidir o futuro da Venezuela por mais 6 anos.

Há alguns meses, Maduro vem tentando buscar apoio popular com discursos populistas sobre paz, liberdade e democracia, e nas últimas semanas aceitou o monitoramento europeu e da ONU sobre as eleições e aprovou um indulto a dirigentes políticos, deputados exilados, ativistas civis e jornalistas, após uma negociação com os partidos de oposição para participarem de uma eleição mais “honesta”. Esse foi um movimento estratégico muito bem pensado de Maduro, já que a aprovação desse indulto expôs ainda mais uma divergência de ideias dentro dos partidos de oposição, o que acaba por legitimar a soberania do atual presidente.

Henrique Capriles em discurso. Foto: AP

Há menos de 2 anos não se ouvia falar de Guaidó no cenário internacional. A autoproclamação como presidente deu a nova cara da oposição, que viu nele uma esperança de mudança. Mas, ao longo do tempo, já se percebem grandes fragilidades nele. Muito se fala de sua incapacidade de governar, e muitos eleitores veem Capriles como a melhor opção da oposição, que já concorreu com Maduro duas outras vezes.

O que muito se critica na política de Juan Guaidó é sua aproximação com Washington. Muitos o enxergam como uma marionete do Estado americano, enquanto Capriles busca sua aproximação com o governo espanhol, fator que agrada uma parcela maior da população.

Maduro discursando no palácio de Miraflores. Foto: Reuters

Hoje, a Venezuela é o país com a maior inflação do mundo, fruto de uma política chavista que, dentre muitas medidas, aparelhou toda a estrutura governamental para favorecer a política vigente.

Com menos de 100 dias para a eleição, a população está confusa sobre o que fazer. Uma grande parcela apoia as escolhas da oposição, mas se vê em um fogo cruzado da própria ala ideológica. Um governo que controla os principais meios de comunicação e pode oprimir quem vai contra ele não pode ser combatido ramificações. A frase “a união faz a força” nunca foi tão pertinente na história venezuelana desde a tentativa do golpe de Estado em 1992. Mostrar aos cidadãos que as pessoas que lutam contra o governo procuram dar uma vida melhor aos cidadãos, e não ser mais um que chega ao governo para usufruir das regalias, é de extrema importância. Torço por um alinhamento dentro da ala oposicionista, para que consigam bater de frente com a ditadura de Maduro e implementem uma forma de governo mais confiável que a atual.

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Gustavo Dantas
Revista Brado

Estudante de Relações Internacionais, colunista da revista Brado