As mulheres de Maid

Minissérie de grande sucesso da Netflix, “Maid” retrata violência psicológica e patrimonial contra mulheres e mães solo

Thays Moreira
Revista Brado
4 min readNov 21, 2021

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Foto: Divulgação/Netflix

Maid, minissérie lançada na plataforma de streaming Netflix em 1º de outubro, ocupa o top 10 em séries até hoje. O drama conta com 10 episódios e cada um deles possui, aproximadamente, 50 minutos de duração. Baseada na obra autobiográfica “Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo” de Stephanie Land, a produção estadunidense versa sobre uma jovem (mãe solo) que foge de um relacionamento abusivo e começa a trabalhar como faxineira.

Seu elenco conta com Margaret Qualley, Andie MacDowell, Nick Robinson, Billy Burke, Anika Noni Rose e Tracy Vilar. Uma criação de Molly Smith Metzler, que também é produtora executiva ao lado de John Wells, Erin Jontow, Margot Robbie, Tom Arckerley, Brett Hedblom e Land.

Alex

Alex (25 anos) vivencia uma rotina de agressões verbais, psicológicas e até patrimoniais: quando o seu direito de ir e vir é totalmente usurpado por seu companheiro Sean (Nick Robinson). Vivendo em um trailer, sem acesso a dinheiro ou ao carro da família, Alex chega ao seu limite quando tem que tirar cacos de vidro do cabelo de Maddy, sua filha, após um acesso de fúria de Sean.

“Antes de morder, ele late. Antes de bater, o soco é na parede.” (alerta uma personagem)

Depois de fugir, Alex queria estar em qualquer lugar que não fosse perto de seu companheiro. Buscou auxílio do governo, sem muito sucesso, e conseguiu ficar em um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica. Totalmente sozinha e com uma filha prestes a fazer três anos, foi na empresa terceirizada de faxinas (Value Maids) que Alex começou sua jornada exaustiva de trabalho.

Faxina, faxina e mais faxina!

A série tem muito sucesso em mostrar a precarização do trabalho doméstico terceirizado, pagando o mínimo e explorando ao máximo mulheres em situações de vulnerabilidade social. Alex contava com um veículo, cedido por seu amigo Nate (Raymond Ablack), uns produtos de limpeza comprados com seus últimos trocados e um aspirador de pó fornecido pela Value Maids.

Entre uma limpeza e outra, a protagonista observa a vida das pessoas que residiam naquelas casas tão luxuosas: pessoas vazias, infelizes e mesquinhas. Põe-se a escrever crônicas do seu dia a dia. Aliás, uma das grandes aspirações de Alex é retornar à universidade.

Entretempo, Alex tentava restabelecer contato com sua mãe Paula (Andie MacDowell) que, curiosamente, é também mãe da atriz Margaret Qualley na vida real.

Paula

MacDowell, dona de uma interpretação impecável, dá a vida a uma mulher de espírito livre e amante da arte: Paula teve uma história de violência quando sua filha ainda era uma criança e, assim como Alex, fugiu de casa para garantir sua integridade física e mental.

Sofrendo de um distúrbio mental não diagnosticado, Paula vive rodeada de relacionamentos tóxicos sem que Alex consiga ajudá-la. Trata-se de uma mulher mais velha sem residência fixa, sem interesse em seguir um tratamento psiquiátrico adequado e com medo de viver sozinha, se submetendo a relacionar-se com homens que se aproveitam de seu trabalho. Paula é, tristemente, o retrato de muitas mães solo que vivem fugindo para sobreviver e que lidam de maneira dolorosa com a solidão. Paula não sabe nomear suas relações, como Alex consegue, e acaba reproduzindo, sistematicamente, um ciclo de relações ruins.

Regina

Interpretada por Anika None Rose, Regina é, dentre muitas, uma cliente muito rica de Alex que se destaca na série. Mulher financeiramente independente, dona de uma mansão luxuosa e cheia de exigências, vive um contexto de solidão e frustração por suas inúmeras tentativas de ter um bebê.

Talvez Regina acreditasse que sua realização como mulher dependeria de uma ação final: ser mãe! Depois de muitos abortos e tratamentos caros para tentar engravidar, conseguiu manter uma moça que gestou seu filho.

Sua relação com Alex começou um pouco ríspida, com poucas palavras e um tanto quanto abusiva. Entretanto, em meio a um divórcio, Regina estreitou relações com a faxineira, mas sempre mantendo um distanciamento próprio das relações de classes.

Há de convir que, posteriormente, a cliente rica de Alex se tornou peça fundamental para a conquista de seu tão desejado sonho de voltar a estudar.

Para finalizar…

Maid está longe de ser uma série em que no final a protagonista encontra um homem bacana que a trata bem. A figura masculina como salvadora de garotas solitárias não ganha destaque porque seu mote reside no fortalecimento e na superação de relações doentias por mulheres e pelas mulheres!

A vida de Alex Russell, como ela mesma imagina em suas epifanias, é uma grande escalada numa montanha de trilhas rochosas e espinhosas. Maddy, sua pequena, é sua companheira e elas, somente elas, as trilham de maneira gradual e libertadora até o topo. E a vista de lá deve ser linda!

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Thays Moreira
Revista Brado

Mulher negra, historiadora, especializada em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Raça, Gênero, Direitos Reprodutivos e Sexualidade. Bem Vindes!