As páginas da vida da secretária de Cultura

De grande atriz a ex-secretária de Estado: Regina Duarte e sua história de (des)amor com o atual governo

Mylena Ferro
Revista Brado
3 min readJun 9, 2020

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Criador: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS | Crédito: ESTADÃO CONTEÚDO

Desde a extinção do Ministério da Cultura durante o governo Bolsonaro, o Brasil enfrenta uma sucessão de fracassos na tentativa de administrar a Secretaria Especial de Cultura. Passando por 5 gestões em pouco mais de um ano, eis que é feita a nomeação de um rosto renomado e conhecido: Regina Duarte, a famosa “namoradinha do Brasil”. À primeira vista, causou espanto. Depois, soou como um afago, uma faísca de esperança. “Grande atriz, artista experiente e renomada — finalmente uma secretária pertencente à classe artística. Ela sabe das necessidades da cultura no Brasil. Entende de política cultural”. Esse foi o pensamento de muita gente — e, confesso, o meu.

Regina se posiciona politicamente à direita já há algum tempo — e, veja bem, isso não é um demérito. No entanto, foi grande a surpresa ao vê-la apoiar um candidato que não só se mostra despreparado e incapaz de governar uma nação, como também se esconde atrás de discursos anti-Brasil disfarçados de um patriotismo vazio e sujo, em que tudo que é verdadeiramente nacional é posto como supérfluo — inclusive os próprios brasileiros. A atriz foi contra a maioria da classe artística e, à época das eleições, fez campanha para o atual presidente.

Foto: Reprodução/Twitter

Jair Bolsonaro foi eleito e não demorou muito para demonstrar todo o seu despreparo em governar o país. Sempre que algo negativo sobre Bolsonaro vinha à tona, o que não é muito raro, Regina estava (e ainda está) prontamente disposta a defendê-lo nas redes sociais e veículos da mídia — mesmo que isso lhe custasse amizades, prestígio e fãs.

A Secretaria Especial de Cultura não estava indo bem. Nenhum secretário conseguia se manter. Surgem rumores de que Regina seria a próxima a ocupar a cadeira. Muita gente desacreditou que ela se submeteria a isso, que cancelaria o contrato com a maior emissora do Brasil em troca do cargo em um governo que já se mostrou descompromissado, entre tantas outras coisas, com a cultura. Para a surpresa de muitos, ela aceitou.

“Mas tudo bem, talvez ela esteja agindo de boa-fé… vai ser uma boa secretária!”… Não foi. Uma coisa não podemos negar: Regina é uma grande atriz. Enganou direitinho — mas não por muito tempo. Ao menos não enquanto secretária, para nossa sorte e nosso azar. Sem grandes atuações e com um grande repertório de discursos violentos, Regina não passou mais de três meses no cargo até ser demitida por quem tanto defendeu. Na verdade, não podemos dizer que nesse período ela não fez nada. A namoradinha do Brasil, uma das principais atrizes da televisão brasileira, fez uma façanha que poucos conseguiriam: enterrar uma até então brilhante carreira de mais de 50 anos.

Nem Malu, nem Viúva Porcina, as Helenas ou Raquel Acciole foram capazes de salvar Regina dessa lama em que ela se colocou. Uma pena para ela. Para nós, também. Perdemos uma grande atriz e continuamos sem secretária.

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