Atenção, mulheres LGBT, nós também somos machistas

Somos parte da sociedade enraizada no patriarcado e podemos, sim, repercutir o machismo nas nossas relações

Gaby Minchio
Revista Brado
3 min readOct 30, 2021

--

Também podemos ser machistas infelizmente. Foto: Anna Shvets / Pexels

A ideia do amor a dois sempre foi uma aspiração para mim que vivi por muito tempo rodeada por casais héteros, constantemente mirados pela lente de poucas referências além das que eu via nos relacionamentos dos meus tios-avós, padrinhos e pais.

Com o tempo, fui percebendo que a idealização construída fazia mais parte do meu imaginário que só sabia aquilo que via a olho nu. E não era somente o que era exposto que fazia parte dessa realidade que foi expandida para mim no momento em que me vi como um alguém que passava pela fase de se entender como uma mulher inserida em uma sociedade machista e sexista.

E, em meio a todo esse turbilhão de revoluções internas — que chegaram a ser externalizadas em determinados momentos –, estive em relações heterossexuais, que me fizeram muitas vezes questionar se todos os incômodos e hesitações que vinham até mim envolviam inteiramente a descoberta da minha sexualidade. Para evitar o tilt na pensante cabeça de quem vos fala, preferi acreditar piamente que a motivação era apenas esta.

É gritante que sim, a não heterossexualidade foi um grande ponto. Mas não era só isso.

Depois de novas experiências e muita sessão de terapia, pude expandir os horizontes ao ponto de enxergar que as minhas questões se deram e ainda se dão também por conta de o relacionamento hétero envolver um homem e eu não querer passar pela possibilidade de me colocar em uma relação que o machismo possa se sobressair.

Em consonância, foi espantoso para mim ver que, ao me descobrir e ter a experiência de me relacionar com mulheres, havia completa normalidade ao dar e receber afeto sem todo o medo que me assombrava em um relacionamento com um homem.

No entanto, apesar da boa convivência em meus relacionamentos tanto com homens quanto com mulheres, esse privilégio não é comum e é possível encontrar o machismo em qualquer esfera romântica, até mesmo em um relacionamento lésbico. E até mesmo nos bons pares amorosos que tive, também houve machismo ali. Até da minha parte.

Eis aqui um ponto de atenção.

Ouvimos e reproduzimos esse ideal muitas vezes na brincadeira, mas que faz parte do cotidiano de uma mulher LGBT que é o de ser mais ameno com sua parceira e podemos acabar deixando passar indícios dessa problemática.

Por estarmos envoltas pela hegemonia do patriarcado, apesar de sermos vítimas, mulheres lésbicas compõem o quadro da reprodução do que muitas vezes repudiamos ao vermos casos de fora do que estamos vivendo.

Desde a ideia de querer padronizar sua parceira em um modelo que ache adequado — como definir comportamento, vestimenta etc. — até agressões verbais e físicas entram dentro do que é um ato machista.

Reprodução: YouTube canal LadoPan - “Lésbicas que reproduzem o machismo”.

Não dá para simplesmente apontarmos o dedo, mas há dicas e policiamentos possíveis de serem feitos para que não sejamos as reprodutoras daquilo que tanto lutamos contra.

Há uma linha tênue que precisa de desenvolvimento em uma relação com um homem para evitar qualquer abuso e fazer com que ela seja proveitosa e te satisfaça ao ponto de não querer ficar sempre em alerta para qualquer atitude do parceiro. E essa linha posso dizer que não é exatamente a mesma quando o relacionamento é entre mulheres, mas também devemos ter atenção à toxicidade da nossa parceira e à nossa.

Vivemos em constante evolução. E não é nosso dever ensinar a sensatez ao outro, mas é nosso direito poder sair de relações em que não estamos à vontade e bem com o que nos é oferecido

E, caso não saiba, a própria Lei Maria da Penha ampara os casos em que a agressora também é uma mulher.

Gostou deste texto? Deixe seus aplausos (eles vão de 1 a 50) e compartilhe.

Siga a Brado nas redes sociais: Instagram; Facebook; Twitter; e LinkedIn.

--

--

Gaby Minchio
Revista Brado

Comunicóloga pela Ufes | Pós-graduanda em Formação do Escrito pela PUC-Rio | Fui colunista da Revista Brado | Escrevo textos que surgem do nada também