bell hooks e a luta por um feminismo que ultrapasse o ambiente acadêmico
Morre a teórica feminista estadunidense bell hooks, aos 69 anos
Desejava que seu conteúdo e suas ideias recebessem mais destaque do que sua pessoa, por isso incentivava a escrita bell hooks e não “Bell Hooks”. Em um mundo fragmentado e excludente, ela pensou em algo que fosse verdadeiramente para todo mundo. Há alguns dias a autora, crítica cultural e teórica feminista estadunidense faleceu aos 69 anos. Publicou mais de 30 obras, que foram traduzidas para 15 idiomas diferentes.
Seu nome de batismo é Gloria Jean Watkins. Nascida em Kentucky, no sul dos Estados Unidos, no ano de 1952. O pseudônimo bell hooks foi escolhido em homenagem à bisavó, Bell Blair Hooks.
Sua principal contribuição foi tornar a teoria feminista mais acessível e inclusiva, por meio de uma escrita direta e didática. Teve influência de Paulo Freire e lutou para que a educação feminista ultrapassasse o ambiente acadêmico e influenciasse o cotidiano de mulheres comuns. Em seu “O feminismo é pra todo mundo — políticas arrebatadoras”, afirmou: “Trabalhos que eram e são produzidos na academia muitas vezes são visionários, mas essas ideias raramente alcançam as pessoas”.
Nessa obra, a autora considera que questões de classe e raça são importantes na análise do histórico da luta das mulheres e na resolução de suas demandas atuais. Nesse mesmo livro ela explica por que os avanços do movimento feminista não chegaram da mesma forma para todas as mulheres.
Defendia o feminismo negro e porque acreditava que a luta antirracista era fundamental para estabelecer uma sororidade feminina verdadeira: “Sabíamos que não poderia haver sororidade entre mulheres brancas e mulheres não brancas se as brancas não fossem capazes de abrir mão da supremacia branca, se o movimento feminista não fosse fundamentalmente antirracista”.
A autora se formou em literatura inglesa na Universidade de Stanford, fez mestrado na Universidade de Wisconsin e doutorado da Universidade da Califórnia. Sua primeira obra publicada foi “E Eu Não Sou uma Mulher? Mulheres Negras e Feminismo”. O título do livro faz referência a um discurso proclamado na Convenção das Mulheres de 1851 por Sojourner Truth, uma mulher negra ex-escravizada:
“Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens, ou a saltar sobre poças de lama, e nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou uma mulher? Olhem para mim? Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, e juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à minha frente. E não sou uma mulher?”
O livro aborda a desumanização e a experiência de exploração sexual e física das mulheres negras durante o período escravocrata nos Estados Unidos. Além disso, faz um histórico do movimento feminista daquele país e discute como essa opressão feminina ainda se sustenta na atualidade.
bell hooks se engajou e foi figura central na construção de um feminismo de massa e seus livros são um convite para aproximar o povo do movimento. No prefácio de uma de suas obras, declarou: “Imagine viver em um mundo onde todos nós podemos ser quem somos, um mundo de paz e possibilidades. Uma revolução feminista sozinha não criará esse mundo; precisamos acabar com o racismo, o elitismo, o imperialismo…Aproxime-se e verá: o feminismo é pra todo mundo”. Que possamos levar seu legado e seus ensinamentos para frente.