Usinas Virtuais de Energia: uma alternativa mais inteligente para o futuro

Pedro Fabriz
Revista Brado
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4 min readJan 20, 2021
Foto: Shutterstock

Melhores formas de se gerar e distribuir energia sempre serão pauta garantida quando o assunto é a preocupação com o meio ambiente. Por questões de custo e disponibilidade, o uso de energia no Brasil ainda está muito ligado a fontes não renováveis, sendo de 14,2% a participação de fontes renováveis na matriz energética mundial. Mudar a matriz energética não é uma atividade leve que ocorre da noite para o dia, exige amplas discussões de novos modelos para todas as etapas da geração e distribuição daquela energia. É claro que algumas iniciativas e ideias já estão se destacando, sendo uma delas o conceito de Usinas Virtuais de Energia (do inglês Virtual Power Plants — VPP).

Esse conceito, colocando em uma simples definição, é um modelo de gerenciamento da geração e distribuição de energia que consiste na instalação de centrais de controle que se conectam tanto com as fontes (geradoras de energia) quanto com as cargas (consumidoras de energia). Para entender um pouco melhor o conceito é necessário familiarizar-se com a micro e minigeração de energia, nas quais uma casa ou prédio, por exemplo, é produtora e consumidora de energia, utilizando fontes de energia renováveis, como painéis fotovoltaicos (Energia Solar). Essa prática tem sido facilitada com a Resolução Normativa nº 482 da ANEEL, de abril de 2012, que permite que o excedente de energia elétrica produzido seja convertido em créditos de kWh para dias chuvosos, por exemplo. Tal esquema permite que pessoas participem e interajam com a geração e distribuição da energia elétrica.

Fonte: https://vivagreen.com.br/greenarq/entenda-como-funciona-a-microgeracao-distribuida-conectada-a-rede/

Agora, de forma mais escalonada e impactando de maneira mais positiva a rede elétrica, surge a VPP. Imagine um cenário onde exista uma central agregadora que se liga às residências, comércios e indústrias — as demandas de energia nesse cenário — e também às unidades de geração distribuída, aquelas com potencial um pouco menor do que usinas hidrelétricas e termelétricas (com a potência na casa de até gigawatts). Essa central agregadora teria dados e informações suficientes para entender como todos os players (como são chamados os participantes nessa rede) interagem com a rede de energia elétrica.

Imagem: Statkraft, yale.edu

Essas informações, junto com dados de previsão de demanda, previsão de geração renovável, eventos climáticos, disponibilidade de energia pelas fontes, entre outros, formariam o input das agregadoras, as quais alimentariam algoritmos de controle para analisar e decidir como a rede elétrica “vai se comportar” no agora e nos próximos dias, isto é, quais são os locais que vão demandar mais em certos períodos e para onde deve-se despachar mais quantidades de energia de acordo com a geração, seja segundo eventos climáticos ou qualquer outra estratégia que se decida operar.

Fonte: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/171342/PFC-20151-DanielGomesMakohin.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Então, ao invés de simplesmente distribuir toda a energia gerada por usinas convencionais de acordo com o que cada carga consome, sendo que todas as cargas dependem unicamente da atividade das principais usinas, a VPP, com a ajuda de algoritmos de controle e informação, cria uma rede interligada onde todos os players (de todos os tamanhos e capacidades) têm participação na rede elétrica.

Esse modelo traz alguns benefícios, como: permite produzir energia a um custo mais acessível; gera maior flexibilidade na rede elétrica; se uma usina de energia renovável interrompe a atividade por conta de alguma falha ou questão climática, outras fontes de energia vão estar disponíveis até que tudo volte ao normal, sendo que tais fontes podem ser até mesmo as residências e comércios envolvidos na rede das VPP’s; redução da emissão de CO2; e também menos perdas por conta das pequenas distâncias em que a eletricidade é distribuída.

Comparação entre o modelo convencional (roxo) de geração e distribuição de energia e a proposta de uma VPP (verde) — Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Smart_grid

Exemplo de aplicação desse modelo foi feito pela Tesla em parceria com o governo estadual do sul da Austrália, instalando baterias (Tesla Powerwall) em mil residências, com planos de expandir para 50 mil até 2022. Com a VPP instalada, carregando e descarregando as baterias rapidamente quando ocorria problemas nas usinas principais, e também carregando as mesmas presentes nas residências antes dos picos dos preços, ajudou a reduzir em 20% as contas de energia elétrica para os residentes.

Tesla Powerwall — Fonte: https://southern-energy.com/guide-to-tesla-powerwall/

As VPP’s encontram-se como uma alternativa de tornar a rede de energia e seus participantes algo mais conectado e inteligente, trazendo benefícios estratégicos de consumo e geração mais sustentável. Muitos desafios serão encontrados pela frente, principalmente no Brasil, onde esse modelo não foi regularizado ainda. Porém, faz-se necessário entender quais são as nossas alternativas para uma melhor gestão de energia, impactando positivamente no cenário futuro.

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Pedro Fabriz
Revista Brado

Estudante de Engenharia Elétrica. Cofundador e Programador da Atitude Ubuntu e apaixonado por Ciência e Tecnologia. Colunista e Editor da Revista Brado.