Avanço tecnológico na medicina e o papel da Inteligência Artificial

Pedro Fabriz
Revista Brado
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5 min readSep 13, 2020
Imagem: Reprodução/lsensino.com.br

Já é difícil pensar em alguns procedimentos médicos específicos sem a tecnologia do exame de raio-x, seja para uma triagem e análise preventiva ou mesmo para o tratamento de doenças como a pneumonia. Também já é normal assumir que um acompanhamento médico correto durante a gravidez envolve exames de ultrassom, permitindo o profissional ficar ciente do que ocorre durante o desenvolvimento do feto de uma forma não invasiva.

Imagem: Pesquisadores estudam identificação da Covid-19 por raio-x. Reprodução/Freepik

Além dessas tecnologias que já são consideradas comuns, outros aparatos e procedimentos são desenvolvidos e estudados todos os dias para que problemas de saúde sejam tratados de uma forma mais rápida e fácil. Assim como um conhecimento maior do espectro eletromagnético permitiu a utilização do raio-x para a radiografia e o uso de conceitos como Eco e Efeito Doppler são a base da ultrassonografia, o ser humano nunca vai parar de estudar a natureza e seus detalhes para conseguir tomar proveito disso no dia a dia. Graças a isso, um profissional da saúde pode ter um acervo de exames para analisar e conseguir decidir o melhor procedimento a se tomar em relação ao caso. Mas quais serão os próximos passos? Como podemos facilitar e aprimorar mais o atendimento e o exercício da medicina?

Como o mundo está se tornando cada vez mais digitalizado e as informações — de exames, por exemplo — são registradas e gravadas na rede de forma digital, a tecnologia pode atuar de forma diferente, buscando novas abordagens para facilitar o dia a dia de um profissional da saúde, principalmente quando se trata de tarefas que envolvam análise de uma grande quantidade de dados e históricos de pacientes e doenças.

Nesse contexto entram a Inteligência Artificial e os algoritmos de processamento de dados, que estão cada vez mais inseridos na medicina, se alimentando de uma quantidade considerável de dados presentes na rede e, a partir de cálculos estatísticos e regras matemáticas (criadas pelo homem para descrever aspectos da natureza), auxiliam na análise e na tomada de decisão do profissional.

Imagem: Toninho Euzébio/Getty Images

Um grande exemplo de como essa tecnologia está sendo aplicada na área é o caso da Inteligência desenvolvida pela IBM (International Business Machines) chamada Watson, a qual foi aplicada em algumas soluções, como, por exemplo: sistemas de tempo real conectados na nuvem com informações dos pacientes de um hospital, com recomendações de medicamentos específicos e dosagens para cada caso, cuidando para que as informações chegassem a qualquer profissional de saúde daquele hospital de forma fácil (pelo celular, por exemplo). Esse caso reforça a ideia de um ambiente mais conectado e processos automatizados.

Quando se trata de análise de exames, a Inteligência Artificial tem apresentado grande performance também. Segundo estudo publicado na revista Nature, um algoritmo desenvolvido pela equipe do Google Health em parceria com o Imperial College London apresentou resultados melhores que muitos profissionais radiologistas no momento de leitura de mamografias e detecção precoce do câncer de mama. A leitura precoce da doença é dificultada pelo fato de que muitas vezes o câncer é mascarado na mamografia por tecido mamário denso. Mesmo assim, com um banco de dados contendo um total de 28.953 mamografias (dos Estados Unidos e Reino Unido), o algoritmo foi capaz, comparando com resultados de análises humanas, de reduzir de 5,7% para 1,2% o número de resultados falsos positivos e de 9,4% para 2,7% os resultados falsos negativos.

Imagem: Inteligência artificial prevê câncer de mama cinco anos antes. Reprodução/Sociedade Brasileira de Mastologia

Como todo atendimento médico, a melhoria do contato paciente-médico tem de ser sempre aprimorada, para que os resultados do atendimento sejam os melhores possíveis. Sendo assim, uma grande ajuda está sendo os algoritmos que unem exames, sinais vitais e prontuários de um paciente para dar feedback em tempo real ao médico responsável. As informações já chegam prontas no celular do profissional, com alertas sobre possíveis infecções ou recomendações de medicamentos. Isso tudo, é claro, como recomendação e suporte ao médico. Exemplo dessa aplicação é o Instituto Laura Fressato, que tem como produto um robô, o qual desde 2016 já monitorou cerca de 2,5 milhões de pacientes com alertas sobre SEPSE, responsável por 5 milhões de mortes por ano no Mundo. A inteligência monitora as informações do paciente a cada 3.8 segundos e emite alertas específicos para a equipe responsável na unidade médica, informando se há possibilidade de deterioração clínica.

Imagem: Jacson Fressatto, fundador do Instituto Laura Fressato. Reprodução/Tecmundo

Uma outra grande vantagem da Inteligência Artificial é a unificação do sistema, isto é, computadores, celulares e outros dispositivos que estão no perímetro da rede de uma unidade de saúde, por exemplo, estão conectados e compartilham informações. Não só isso: atualizações de medicamentos ou de procedimentos feitos em certos estados podem ser compartilhados em questão de segundos com outras redes de outras unidades. Podemos também estender esse fenômeno para outros países. Ou seja, as vantagens adquiridas pela adoção desse tipo de tecnologia são escaláveis para vários outros pontos de forma fácil e rápida (um caso de sucesso em algum tratamento de uma doença nova por meio de um medicamento específico em Londres é compartilhado imediatamente para São Paulo). Pense nas vantagens que teríamos em uma situação de pandemia como a que estamos vivendo em 2020.

Exemplos de sucesso é o que não falta. A Fleury Medicina e Saúde, junto com a IBM Watson Health, oferece o serviço Oncofoco, um exame de sequenciamento de DNA que utiliza computação cognitiva para gerar resultados que ajudem médicos na tomada de decisão no tratamento contra o câncer. Além disso, os dados do tecido tumoral do paciente vão para uma plataforma onde são cruzados com outras informações, como pesquisas, estudos clínicos e artigos científicos, e então relatórios são gerados e compartilhados com oncologistas no Brasil e no mundo.

Fica claro que existem muitos impactos positivos ao se usar esse tipo de tecnologia para auxiliar na medicina. O tempo de reação para certos tratamentos pode ser aumentado, uma vez que as técnicas de predição ficam cada vez melhores, incentivando cada vez mais uma medicina preventiva. É claro que o uso dessa tecnologia deve ser feita de maneira ética e com cuidado, não enfraquecendo o contato físico que existe com o paciente, sendo esse de grande importância. Ademais, apresenta-se como desafio às lideranças governamentais investirem em pesquisas na área e incentivarem cada vez mais a atualização do profissional da saúde para as novas tecnologias, democratizando o uso e o acesso às mesmas.

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Pedro Fabriz
Revista Brado

Estudante de Engenharia Elétrica. Cofundador e Programador da Atitude Ubuntu e apaixonado por Ciência e Tecnologia. Colunista e Editor da Revista Brado.