Coletor menstrual: o alívio à natureza e os tabus que envolvem o corpo feminino

Foto: Divulgação/Korui

Ao me deparar com o coletor menstrual na internet, há um tempo, fiquei desacreditada. Buscando por mais informações, percebi que se tratava de uma opção melhor que as que fui apresentada durante a vida, pois além de reduzir consideravelmente o número de resíduos produzidos, ele proporciona uma liberdade maior à mulher durante o período menstrual.

Mesmo com tantos benefícios, demorei a conhecer esse produto e não conhecia ninguém que usava. Mas por quê? Pesquisando mais a fundo, compreendi o tabu que envolve o assunto. Por ser um produto que precisa ser introduzido no colo do útero, ele simboliza todos os preconceitos que envolvem a relação da mulher com seu corpo.

O coletor menstrual é um copo de silicone cirúrgico que coleta o sangue e, de acordo com especialistas, pode durar até dez anos. Além de reduzir drasticamente o lixo produzido pela comunidade feminina, ele permite um período menstrual muito mais livre, uma vez que é seguro para a prática de esportes e atividades aquáticas.

Durante aproximadamente uma semana por mês, mulheres de 11 a 54 anos menstruam, e a maioria delas utiliza absorventes descartáveis. Com isso, sabendo que 90% da composição dos absorventes é plástico, são aproximadamente 200 quilos de lixo plástico produzidos por mulher durante a vida. Além da enorme produção, esse lixo é difícil de ser reciclado. No Brasil, o descarte é feito em aterros sanitários, onde esse material demora pelo menos 400 anos para se decompor.

Visto isso, fica evidente o impacto positivo da substituição do absorvente convencional pelo coletor menstrual. Além dos benefícios já citados, o produto pode reduzir até 4,2 bilhões de quilos de lixo e, segundo o Instituto Akatu, evitar a emissão de 200 kg de CO2. Além disso, de acordo com uma matéria do Ecycle, por ser constituído geralmente apenas por silicone ou TPE, o copinho não contém substâncias contaminantes como as dioxinas presentes na produção do absorvente convencional.

Foto: Divulgação/Korui

Mesmo existindo uma opção mais segura, higiênica, libertadora e sustentável, o descartável se tornou o principal meio de combater o “monstro” que é a menstruação, devido a uma cultura de consumo e descarte, aliada a uma cultura na qual a mulher é instruída a não tocar e conhecer o próprio corpo.

Desde novas, nós mulheres somos condicionadas a não tocar nosso próprio corpo e crescemos com a ideia de que falar do “chico” é inapropriado. Essa falta de conhecimento sobre nossos corpos cria mitos e fantasmas que muitas de nós carregamos sem questionar. Quantas meninas já deixaram de fazer exercício físico por medo de acontecer algum imprevisto? Quantas deixaram de ir à praia ou à piscina por estarem “naqueles dias” ? A menstruação se torna algo abominável por que aprisiona.

A atriz Mariana Xavier compartilhou em seu canal no YouTube sua experiência de começar a usar o coletor aos quarenta anos. Ela pontua que o que mais gostou foi a oportunidade de conhecer o próprio corpo de forma mais real, e defende: “Nós mulheres somos criadas acreditando que nossa menstruação é algo sujo”. Assim como a atriz, muitas mulheres têm adotado o coletor em prol da causa ambiental e, de quebra, têm a oportunidade de conhecerem seus próprios corpos de maneira nunca antes experimentada.

Mesmo que o “copinho” não seja um produto muito acessível, já que geralmente não é encontrado largamente em farmácias (exceto pelo descartável), sendo vendido majoritariamente on-line. Já passou da hora de mulheres que têm acesso a esse tipo de produto questionarem os tabus em prol de um mundo melhor para a comunidade feminina e para o meio ambiente. Para as mulheres que não se sentem aptas a dar um passo tão grande — afinal, tudo tem um tempo de adaptação, e o do coletor pode variar bastante de mulher para mulher — , existem outras opções para ajudar o meio ambiente, seja a calcinha absorvente ou o absorvente de pano. Qualquer pequena mudança é válida e importante.

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