Crise hídrica revela problemas mais profundos no uso da água no Brasil

Escassez de água atinge sobretudo os mais pobres e evidencia a falta de um plano de consumo do recurso

Graziela Bezerra
Revista Brado
5 min readSep 13, 2021

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Imagem: ronymichaud/Pixabay

O Brasil enfrenta uma dura crise hídrica, que por sua vez gerou uma profunda crise energética, e ganha notoriedade com o crescente medo de que tenhamos que enfrentar novos apagões. Mas antes de entender os efeitos de uma crise hídrica é preciso compreender o que de fato caracteriza esse quadro.

Esse fenômeno está relacionado aos baixos níveis de água em momentos atípicos. Esse desequilíbrio pode ser ocasionado por diversos fatores, que vão desde o desperdício da água até os problemas ambientais, como as mudanças climáticas, que reduzem a quantidade de chuvas.

A preocupação com os apagões está relacionada ao fato de que quase toda a energia elétrica do país é proveniente das usinas hidrelétricas, movidas pela força da água. Logo, os baixos níveis de água influenciariam na redução de energia gerada pelas usinas, e a quantidade produzida pode não ser suficiente para satisfazer as necessidades de consumo da população.

Caso isso aconteça, um dos principais atingidos seria a população financeiramente mais vulnerável, considerando que o preço do consumo da energia elétrica e da água tende a aumentar, assim como os preços médios de outros produtos dependentes desses recursos.

Como é de praxe, os órgãos públicos também se verão obrigados a reduzir os gastos com energia elétrica. Para isso, uma das principais medidas a serem lançadas será a redução da jornada de trabalho dos servidores, o que mais uma vez pode afetar aqueles que mais necessitam dos serviços básicos disponibilizados pelo setor público.

Economicamente, as consequências também podem ser desastrosas. Com o aumento do preço da energia elétrica utilizada pelas fábricas, indústrias e comércios, o custo de produção ou serviço aumentará, influenciando o valor do produto final, que por sua vez será repassado para a população.

À medida que a quantidade produzida de energia se torna mais cara ou se torna insuficiente a ponto de influenciar o processo produtivo, muitos empreendimentos tendem a fechar as portas por não conseguirem se sustentar. De início, os primeiros empreendimentos que devem ser afetados são aqueles formados por pequenos e médios produtores, por possuírem uma capacidade financeira menor que os grandes.

Mas uma crise hídrica não afeta apenas os meios de produção de energia, e infelizmente o “buraco” pode chegar a ser mais fundo. A água é essencial para a vida e a maior parte das atividades dependem de sua existência, nem que seja para a realização de uma mera limpeza no ambiente de trabalho.

Foto: stevepb/Pixabay

A falta de água pode influenciar a redução da produção de alimentos e a produtividade industrial, o que consequentemente aumentará os índices de desemprego. Além disso, muitas famílias podem se deparar com a falta de água nas torneiras de suas casas. Vale ressaltar que a crise hídrica também é uma ameaça à segurança alimentar da população. Isso acontece já que, para manter a estabilidade do acesso de alimentos, é necessária a utilização desse recurso tão essencial para a sua produção, que pode ser afetada devido à escassez.

No fim do ano passado, o estado do Amapá ganhou notoriedade no país por ter ultrapassado um momento delicado em sua história. Em plena pandemia, os amapaenses se viram por dias sem energia, água e comunicação. Apesar da falta de energia elétrica no Amapá não ter ocorrido diretamente pela falta de água, a indisponibilidade de energia contribuiu para que muitas famílias não conseguissem ter acesso à água através dos meios de saneamento básico, e aquelas famílias que possuíam poços em casa não tinham como fazer uso deles, pois não podiam utilizar as bombas elétricas.

Muitos estados brasileiros encontram-se em um processo de racionamento de água dada a crise hídrica na qual o país se encontra. Muitas indústrias já estão economizando energia elétrica em busca de minimizar os efeitos da crise. Os esforços realizados pelo governo no combate a essa escassez são poucos e a única medida de combate apresentada foi a nova bandeira tarifária, chamada Escassez Hídrica, que visa uma cobrança de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos, e deve começar a vigorar em 2022.

Enquanto isso, pouco se fala sobre o papel da poluição nessa crise hídrica. Rios e mares são constantemente atingidos por toneladas de lixos e produtos contaminantes que inviabilizam o seu consumo em um momento em que um recurso tão essencial vem se tornando tão escasso.

O aumento das tarifas não é suficiente. Medidas de conscientização e de redução do consumo e a criação de um plano de segurança da água nunca se fizeram tão necessárias como hoje. A procura por alternativas de energia elétrica que reduzam o uso de água são pouco frequentes ou quase inexistentes.

Foto: _Marion/Pixabay

O Plano de Segurança da Água (PSA) é um exemplo que possibilita a criação de estratégias para o manejo seguro da água, desde o acesso à eliminação dos resíduos (esgotos domésticos, industriais e resíduos sólidos) de forma segura e sem agredir as suas propriedades. Porém, apenas o PSA não é suficiente, já que existem outros motivos causadores da crise hídrica, como as mudanças climáticas.

Em relação à crise energética brasileira, temos um grande potencial inaproveitado de alternativas de energias “limpas” apontadas em diversas pesquisas. Como o país é extremamente heterogêneo, cabe aos órgãos competentes buscar as melhores opções para cada região. Dessa forma, reduziremos os apagões causados pela baixa produtividade de hidrelétricas em momentos de racionamento da água, ao mesmo tempo que será possível uma melhor gestão desse recurso e a redução dos impactos ambientais ocasionados pelas usinas de energia hídricas.

O maior problema no combate à crise hídrica é o “esperar”. Esperar surgirem os impactos ocasionados pela crise, para então iniciar a procura por uma solução. As consequências estão chegando, e o momento agora é de antecipar os seus efeitos.

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Graziela Bezerra
Revista Brado

Bacharel em Ciências Econômicas, Mestranda em Desenvolvimento Econômico e Colunista na Revista Brado.