Década das mudanças ou décadas de consequências?
Proposta pela ONU (Organização das Nações Unidas), esta década foi definida como a década importantíssima para a restauração do planeta e, caso isso não ocorra, a situação só tende a piorar, com uma cascata de impactos climáticos até 2030 previsto por cientistas.
Um estudo divulgado antes do início da cúpula climática COP 26 das Nações Unidas adverte que desastres climáticos como calor extremo, secas e furacões podem ter “consequências catastróficas” na próxima década.
A piora do clima até 2030 pode levar à insegurança alimentar, deslocamento e conflitos em países vulneráveis, o que pode ter um efeito devastador nas regiões e na economia global, de acordo com relatório da Chatham House do Reino Unido.
Os dez principais ‘fatores de risco’ dos últimos anos têm a ver com a África ou a Ásia, referindo-se a uma série de eventos causados pela mudança climática. No entanto, as consequências podem ser devastadoras.
O estudo, apresentado por mais de 200 cientistas do clima e outros especialistas, avalia quais riscos e impactos climáticos imediatos devem estar na mente dos tomadores de decisão na próxima década e que não se limitam ao local vulnerável onde acontecem.
As descobertas dos pesquisadores que antecedem a COP 26 em Glasgow (31 de outubro — 12 de novembro) indicam que os países ricos precisam tomar medidas imediatas para resolver os problemas socioeconômicos e climáticos nas áreas mais vulneráveis.
Desde a Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, os países ricos não cumpriram suas promessas de pelo menos US$ 100 bilhões para combate à mudança climática.
Com o advento da COP 26, todos os olhos estão voltados para o que pode ser alcançado, especialmente em termos de redução de emissões, pois se trata de uma das principais conclusões do relatório e uma das mais importantes no curto prazo.
Se não tomarmos medidas para ajudar os países vulneráveis a lidar com as mudanças climáticas na década de 2020, incorreremos em custos significativos no futuro próximo.
As preocupações levantadas por cientistas do clima e outros especialistas incluem o aumento da insegurança alimentar no Sudeste e Sul Asiático e na Austrálasia, bem como a insegurança alimentar global que leva a “falhas no celeiro”.
A falta de sustentabilidade no setor agrícola, bem como o aumento da pobreza e da desigualdade nos países em desenvolvimento, especialmente na África, já estão expondo os efeitos das mudanças climáticas e a acentuação do seu impacto para além das fronteiras.
Sem assistência adicional para adaptar e aliviar a pobreza, a insegurança alimentar irá variar a partir de altas temperaturas, secas, furacões e quebra de safras que resultarão em instabilidade política e conflitos, que, por sua vez, impulsionarão migrações para o sul da Europa.
O documento pede o desenvolvimento de uma visão abrangente dos riscos climáticos para as comunidades mais vulneráveis às mudanças climáticas, perigos potenciais e medidas a serem realizadas com o objetivo de potencializar a resiliência.
Ao abordar essas vulnerabilidades, seremos capazes de prevenir eventos climáticos verdadeiramente catastróficos nessas décadas, como informa o relatório.
O financiamento de ‘perdas e danos’ no clima seria uma das questões-chave a serem tratadas na COP26.
“Isso está acontecendo agora e países e comunidades vulneráveis ao redor do mundo estão perdendo suas vidas, seus meios de subsistência, suas casas — eles estão sendo deslocados. Esses problemas só aumentarão à medida que os impactos das mudanças climáticas pioram”. (Ritu Bharadwaj, pesquisador sênior de governança climática e finanças do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em entrevista a SciDev.Net).