E viveram felizes para sempre…

Como os contos de fadas podem moldar aspectos importantes do nosso desenvolvimento

Alinemuniz
Revista Brado
4 min readMar 18, 2022

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Reprodução/A princesa e o sapo/ Walt Disney

Você com certeza já leu um conto de fadas. Aquelas histórias que nossos pais nos contavam antes de dormir, onde uma moça doce e delicada se apaixona por um cavalheiro que ela misteriosamente conhece num passeio pelo bosque. Eles se casam e vivem “felizes para sempre”. Lendo esse pequeno resumo, tem-se a ideia de que contos de fadas são apenas histórias sem pé nem cabeça, o que não é de se estranhar, uma vez que beijar um sapo não é algo normal do nosso cotidiano (eu espero). Mas apesar de parecerem estranhos, os contos de fadas possuem um significado muito mais complexo do que imaginamos.

Há alguns dias assisti “A pequena sereia”. Se você conhece essa história, sabe que Ariel, uma sereia que vive no reino de Atlântida com seu pai e suas irmãs, se apaixona por um príncipe ao vê-lo velejando. Para viver seu sonho de se tornar humana, Ariel faz um acordo com a vilã Úrsula e troca sua linda voz por um par de pernas.

Reprodução/A pequena Sereia/Walt Disney

Temos que concordar num aspecto: Ariel era corajosa! Mais que isso, ela tinha um objetivo. Traçou um plano, criou estratégias, enfrentou vilões perigosos (ainda sonho com os tentáculos da Úrsula) e foi em busca da sua história de amor. A personalidade forte de Ariel, que não queria ser apenas mais uma princesa assim como suas irmãs, fez com que ela abdicasse de um talento e de sua vida em Atlântida para dedicar-se a um sonho.

Outro exemplo é Merida, uma princesa fora do comum, que num deslize acaba por transformar seus irmãos e sua mãe em ursos. O mais legal sobre a história é que Merida não deseja uma história de amor, ela deseja ser livre. Valente, como o filme é chamado, traz lições importantes sobre compreensão, reconciliação, rivalidade e coragem. Merida enfrenta uma longa jornada em busca de transformar sua mãe e seus irmãos novamente em humanos antes que eles percam sua humanidade e se tornem ursos para sempre.

Tanto Ariel quanto Merida estão em processos de construção. Ambas jovens, querendo enfrentar e conhecer o mundo, insatisfeitas com uma realidade planejada. Para isso, elas precisaram passar por diversos desafios para que alcançassem os seus “felizes para sempre”.

Nossa infância possui uma grande influência em quem seremos no futuro. Cada aventura na escolinha, cada briga com o coleguinha do parquinho resultou no adulto que somos hoje. Os contos de fadas, a princípio inofensivos e um tanto ridículos, possuem o poder de auxiliar, mesmo que de maneira inconsciente, a moldar nossa personalidade. Cada dia que você viveu, cada história que escutou, ainda quando criança, foi um pedaço do gigante quebra cabeça da sua personalidade.

Quando crianças, não possuímos a capacidade de compreender a realidade de maneira concreta. Precisamos assimilá-la a algo simbólico. Sendo assim, de acordo com Piaget, a fantasia deve ser estimulada para que possamos chegar ao real.

Em nossa infância, costumamos dizer que somos como o personagem que admiramos, nos autointitulamos como eles. Quando os pequenos conflitos surgem, passamos os nossos problemas para o mundo da fantasia. Assimila-se, mesmo que de maneira inconsciente, que se podemos resolvê-los no imaginário, podemos resolvê-lo real.

Reprodução/Cinderela/Walt Disney

Agora, como adultos, entendemos que a realidade é tão cruel quanto a Rainha Má. Em busca do nosso “felizes para sempre”, como Cinderelas, trabalhamos dia e noite para a madrasta, que na vida real comandam grandes indústrias, nos sentimos humilhados por quem quer que sejam nossas irmãs malvadas, lutamos para alcançar a nossa chance de ir para o baile de gala.

Por fim, podemos, finalmente, compreender a importância de contar histórias para as crianças. Para manter a chama dos contos de fadas acesa, preciso da sua ajuda para guardar um pequeno segredo, assim como Linguado protegeu Ariel quando ela fugiu: não podemos contar isso para as crianças! Este é o nosso segredo. Afinal, não seria nada interessante para a criança ter seus problemas expostos.

Apesar da realidade não ser tão fantástica quanto a imaginação, não desista de correr atrás do seu “felizes para sempre”. Como dizia Dory: Continue a nadar!

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Alinemuniz
Revista Brado

Escrevendo poemas aleatórios sempre que possível