EDITORIAL: É hora de proteger a democracia

Nunca, em 35 anos, estivemos tão perto de um rompimento institucional

Revista Brado
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2 min readJul 27, 2020

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O presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, exibe a nova Constituição. Foto: Célio Azevedo/ Fotos Públicas

Planos econômicos, crises financeiras, escândalos de corrupção, dois impeachments e tensões institucionais marcam as 3 décadas de eleições diretas para presidente no Brasil. Nossa democracia é, para a história, extremamente jovem, mas, ainda assim, estamos diante do período mais longo de normalidade democrática ininterrupta de nossa história.

A democracia brasileira foi conquistada a duras penas. Golpes, prisões, exílios, torturas e assassinatos fizeram do caminho para as liberdades civis uma estrada tortuosa. Mas, no fim, chegamos.

Se hoje podemos ler um jornal que não concorde com o governo; se podemos expressar nossas opiniões publicamente; se podemos confiar ou desconfiar de uma coisa ou outra e buscar, livremente, a verdade; se podemos exercer o simples exercício da discordância, isso é uma dádiva que só a democracia pode proporcionar.

Milhares de pessoas — guerrilheiros, mas também artistas, jornalistas, intelectuais, estudantes, políticos e até crianças — morreram para que hoje possamos desfrutar da democracia. O Brasil viveu, entre 1964 e 1985, uma severa ditadura, e qualquer tentativa de relativizar isso é desonesta.

É preciso que nos lembremos disso todas as vezes que nos direcionamos às urnas, a passeatas, a comentários políticos em uma mesa com amigos ou em uma página nas redes sociais. É preciso que nos lembremos disso para que não se torne normal ou tampouco aceitável que pessoas se dirijam às ruas com faixas e cartazes pedindo intervenção militar, fechamento das instituições democráticas e a volta do AI-5.

As instituições de nossa democracia estão, 35 anos depois da posse do primeiro presidente civil, sob forte ataque, e não devemos menosprezá-lo como fizeram alguns em 1964. Os ataques à democracia são sérios e precisam ser respondidos de forma séria, certeira e incisiva pelas instituições democráticas.

Comício durante a campanha das Diretas Já, em 1984, reunindo nomes de todos os espectros políticos mobilizados pela redemocratização. Na foto: Ulysses Guimarães, Orestes Quércia, Leonel Brizola, Franco Montoro e os ex-presidentes Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Foto: Orlando Brito/Veja

Por isso, esta revista, como parte de uma instituição do Estado Democrático de Direito — os veículos de mídia –, adere à campanha lançada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 26 de junho, aniversário da Passeata dos Cem Mil. A #UseAmarelo pela democracia resgata a outra campanha promovida pelo mesmo jornal no início dos anos 1980, conclamando os cidadãos a vestirem amarelo pelas Diretas Já!

A democracia, como dizia o político brasileiro Octávio Mangabeira, é uma plantinha tenra, que deve ser regada dia após dia. A democracia brasileira, com seus inúmeros defeitos, é forte, é sustentável e é valiosa, e não cairá nas mãos perversas da tirania, senão por descuido daqueles, como nós, dedicados a protegê-la.

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