A democracia venceu a barbárie
E a esperança venceu o medo
Às 19h57 da noite de ontem, 30 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República. Pela primeira vez na história do Brasil, a mesma pessoa exercerá três mandatos de presidente. Também pela primeira vez, o ocupante do Palácio do Planalto não conseguiu se reeleger. Jair Bolsonaro é o primeiro derrotado no cargo.
A partir de primeiro de janeiro, Lula será o novo presidente. Em suas mãos, terá uma difícil missão: reconstruir um Brasil dilacerado pelo bolsonarismo. Será custoso. Jair Bolsonaro aparelhou o Estado ao seu bel prazer nestes quatro anos e deu luz a uma cultura política autodestrutiva e corrosiva.
Ainda assim, é tempo de celebrar. A democracia venceu a barbárie. A esperança venceu o medo. A paz venceu o ódio.
O pior presidente que este país já teve foi derrotado por um dos mais importantes líderes do melhor momento vivido pelos brasileiros. O mais bem-sucedido fascista que nossa história já forjou foi derrotado por um dos mais inegáveis democratas que já tivemos no poder. Lula, nesta eleição, simbolizou a própria democracia.
Hoje o Brasil amanheceu mais bonito, mais feliz, mais encharcado de esperança. O Brasil tem jeito, e nós começamos a dar esse jeito nele. O Brasil, a partir do próximo ano, voltará a ser um país melhor para todos os brasileiros. Aos poucos, aos tropeços, mas vai. Assim funciona a democracia. Ela é lenta, ela é falha, mas ela é o melhor que temos.
Não foi Lula quem venceu ontem. Foi a nossa liberdade, tão duramente construída. A liberdade de sermos quem somos, de vestirmos as cores e usarmos as bandeiras que quisermos, de pensar e agir como quisermos — desde que de acordo com a Constituição — , de nos relacionarmos com quem quisermos. Venceu o Brasil da tolerância, do respeito, do combate à fome, ao desmatamento, aos preconceitos e à violência. Venceu a nossa vontade de viver, a nossa sede de viver. Venceu o Brasil real, o Brasil brasileiro.
Por mais que o fascismo tenha tentado nos convencer de que era majoritário, ontem ficou claro o que sempre soubemos: o Brasil é democrata. Muito acima da brutalidade e da violência que, sim, infelizmente, também nos marcam, o Brasil quer voltar a sorrir, voltar a ter paz, voltar a comer bem, voltar a sonhar com o Brasil que ainda podemos ser — e seremos. Nós queremos voltar a combater o pior de nós com o melhor de nós. E nós já começamos a fazer isso.
Conforme prometido em editorial recente, nós da Revista Brado celebramos a derrota de Jair Bolsonaro como um gol de final de Copa do Mundo. Nós, enquanto indivíduos, sentimos o alívio de ver derrotado o projeto que nos enviava a caminho do obscurantismo e da tirania.
A Revista Brado se orgulha de ter escolhido o lado certo, e se orgulha também do Brasil, pelo mesmo motivo. Essa vitória também é nossa. Essa vitória também está traduzida em cada texto que nós já publicamos, sempre, todos eles, com a democracia, a liberdade e o direito como panos de fundo. Essa vitória é de todos que sonham com um Brasil melhor, mais livre, mais justo, de mais respeito, tolerância, igualdade e dignidade.
A democracia venceu. A liberdade venceu. A esperança venceu.
Agora, outra batalha terá de ser vencida: até 1º de janeiro, tentarão tumultuar a posse de Lula. Perderão de novo. Ele tomará posse e governará, como a Constituição garante a todos os escolhidos pelo povo. Lula tem em suas mãos a bênção do povo brasileiro para cumprir o papel para o qual o designamos. Não existe outra opção. Venceremos mais essa.
Em seguida, Lula terá o desafio urgente de refazer do Brasil um país de verdade. Ele precisará negociar e conciliar muito mais do que fez em 2003, e agora sim é que receberá do antecessor uma herança maldita. Ele terá de fazer um bom governo, melhor que os seus primeiros. Caso contrário, a extrema-direita retornará em 2026 com mais força.
A Revista Brado deseja ao presidente Lula um bom e próspero governo. Que o novo Brasil conte com cada um de nós no projeto de devolução aos brasileiros e de reinstitucionalização. E que também conte com nossa fiscalização e crítica sempre que as julgarmos necessárias.
Outra grande vencedora desta eleição foi a imprensa livre. E ela fará juz à liberdade reconquistada. Nosso único compromisso com o presidente eleito é o de seguirmos nosso trabalho como sempre seguimos: com ética, rigor e coragem.
Parabéns ao Brasil e aos brasileiros. Viva a democracia.
Este texto representa toda a equipe da Revista Brado.
