EDITORIAL | Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes: uma responsabilidade de todos

Refletir sobre as estruturas que alimentam essa realidade é emergencial

Revista Brado
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3 min readMay 11, 2021

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Foto: Counselling/Pixabay

Em memória a Araceli Crespo, 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Araceli tinha apenas oito anos quando foi raptada, drogada, estuprada e morta em 1973 por jovens de classe média alta de Vitória (ES). Seus agressores nunca foram punidos e o caso permanece sem solução.

Em meados do último ano, o estupro de uma menina de dez anos, cometido pelo próprio tio, também mobilizou a opinião pública. Mas apesar de serem violências reprovadas pela mídia e pela sociedade em geral, esse caso e o de Araceli não são isolados. Pelo contrário: quase 50 anos se passaram e a violência sexual de crianças e adolescentes ainda é uma realidade latente e alarmante. Segundo dados de 2018, 320 crianças e adolescentes são vítimas de abuso a cada 24 horas no Brasil.

Não é diferente quando se analisa os dados de exploração sexual infantil. Entre os meses de março e julho de 2020, o Brasil teve mais de 40 mil registros de pornografia infantil na internet, mais que o dobro do número registrado no mesmo período em 2019. Além disso, uma pesquisa de 2003 aponta que existem mais de 200 rotas de tráfico para fins sexuais no Brasil, além de uma conexão dessa prática com o crime organizado e as redes internacionais.

Vale lembrar que em um contexto pandêmico as crianças ficaram mais restritas ao lar, passando a ficar mais expostas às possíveis violações, sobretudo em um contexto em que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas — o que dificulta a denúncia.

Ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais órgãos definam a pedofilia como uma doença, diante de números tão alarmantes não basta reduzir essa conjuntura social a um ‘estado de saúde alterado’ de alguns indivíduos, tampouco restringir as ações de combate à punição de agressores — quando há.

Não se trata de uma realidade distante, tampouco rara. São dados que, além de expressivos, são subnotificados. Crianças e adolescentes são expostos a diversas formas de violência diariamente, não em becos escuros, mas em ambientes que deveriam promover proteção, como a casa e a escola.

Refletir sobre essa estrutura social que segue nutrindo violências, sexualizando crianças e culpabilizando as vítimas é emergencial. É necessário que investiguemos o que perpetua essa realidade e que reavaliemos possíveis posturas que naturalizam tal violência.

Nós compreendemos que essa é uma responsabilidade de toda a sociedade civil, de forma que todos devem se envolver nas discussões e no combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Por esse motivo, a Revista Brado inicia hoje uma campanha com a publicação de uma série de textos até o dia 18 de maio, com o objetivo de alertar e mobilizar toda a comunidade sobre a necessidade da prevenção à violência sexual de menores.

Em muitos casos, as vítimas não têm a percepção do que é o abuso sexual. Portanto, atente-se aos sinais, suspeite de comportamentos estranhos e, se preciso, faça a denúncia por meio do canal Disque 100. A ligação é gratuita e funciona todos os dias, 24 horas.

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