EDITORIAL: Incêndio na Cinemateca é sintoma do descaso com tudo que é retrato do Brasil

Revista Brado
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2 min readAug 1, 2021
Foto: Carla Carniel/Agência Brasil

A crise na gestão cultural brasileira não é novidade quando se trata do governo Bolsonaro. Enquanto parte de nossa classe política e da elite brasileira movia esforços para restaurar a estátua do bandeirante Borba Gato, na última quinta-feira (29), o prédio da Cinemateca, na Vila Leopoldina/SP, foi tomado por um incêndio que deixou parte da nossa história às cinzas — era lá que estava reunida parte do maior acervo cinematográfico do Brasil.

Embora o caso pareça um acidente, o risco já era conhecido pelo governo há cerca de 10 dias e nada foi feito. Não é exagero dizer que apagar nossa cultura é um plano de (des)governo. Foi assim com o Museu Nacional, com o Ministério da Cultura e assim segue com a Cinemateca.

Desde 2016 a instituição vem sofrendo com cortes de verbas que resultam em uma segurança defasada e em manutenções menos frequentes. Os prédios da Cinemateca são alvos de alagamentos e incêndios desde meados de 2019 e o governo federal parece fechar os olhos para isso — em 2020, o Ministério Público Federal em São Paulo chegou a entrar com ação contra a União, alegando abandono de uma das principais entidades culturais do Brasil, no entanto, nada foi feito. Na verdade, tudo piorou: funcionários sem salário — posteriormente demitidos de uma hora pra outra — e uma gestão que passou a cinemateca de mão em mão entre uma seleção de pessoas cujo critério é o despreparo.

Mário Frias, secretário da Cultura, se manifestou dizendo que lamenta profundamente e que tem um compromisso com o acervo ali guardado. Lamentar profundamente, para o ocupante do maior cargo da Cultura, não é suficiente. A ele, cabe não permitir que isso aconteça. Cabe proteger, incentivar, fomentar e preservar a nossa identidade. Mas, no Brasil de 2021, isso é pedir demais.

Um povo sem cultura é um povo sem memória, um povo que não se reconhece, não reivindica, não luta por dias melhores. Sabemos a quem isso interessa, e não podemos continuar fechando nossos olhos e deixar que levem o que temos de mais precioso: o próprio Brasil — ou os diversos Brasis que formam o nosso país.

O incêndio na Cinemateca não é um simples acidente; é mais uma evidência do desmonte da cultura, das artes, da história e de tudo que nos faz quem somos. Um desmonte do que há de melhor no Brasil. Uma evidência de um projeto de aculturação que segue em curso acelerado.

Este texto representa toda a equipe da Revista Brado.

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