O Brasil está promovendo um genocídio

Cem mil vidas foram perdidas para a negligência. Ainda estamos longe do fim

Revista Brado
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3 min readAug 8, 2020

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Foto: Michael Dantas / AFP

O que já era óbvio se tornou concreto: o Brasil atingiu a triste marca de 100 mil mortos por Covid-19, e ainda não há evidências de que tenhamos passado do pico da pandemia. Também não entramos na chamada “segunda onda” e estamos muito longe da “imunidade de rebanho”. As autoridades e veículos de mídia não consideram mais a possibilidade de lockdown e, na maioria das cidades, o comércio já está aberto e considera-se o retorno das escolas. Somos um caso único no mundo.

Enquanto se fala em “novo normal” e o presidente aconselha a população a “tocar a vida”, dezenas de milhares de famílias sentem a dor da perda de seus entes queridos. Cem mil pessoas. Em números absolutos, isso representa mais do que o total imediato de mortes pela explosão da bomba nuclear sobre Hiroshima, que completou 75 anos há dois dias. Também é como se toda a população do município de Guarapari (ES), ou quase um terço da população da capital Vitória, simplesmente desaparecesse em um intervalo de 4 meses.

Embora se tente, de todos os lados, fazer da pandemia uma questão política — brincando com vidas humanas como em um jogo de queimada –, a culpa dessa triste e cruel estatística é comunitária. Do governo chinês aos estados e municípios; da OMS às secretarias de Saúde; do presidente da República à parcela da população que, podendo aderir, rejeitou o isolamento.

Muito se fala em “guerra contra um inimigo invisível”, e alguns países, de fato, trataram a questão como uma guerra. Não é o caso do Brasil. Uma guerra faz com que governos e sociedade se unam; ideologias políticas percam força; economias — embora extremamente importantes — sejam curvadas ao interesse nacional; e governos ajam de forma estritamente responsável, buscando o menor dano possível à sua população. No Brasil, tudo foi feito ao contrário disso.

Esse é o motivo pelo qual a forma com que o Brasil — em especial o governo federal — tratou o vírus se assemelha mais a uma política de genocídio do que a uma política de guerra. A polarização política cada vez mais profunda; a demissão de 2 ministros da Saúde durante a maior crise sanitária em mais de 100 anos; o desprezo pelo isolamento e distanciamento social; a falsa dicotomia entre vida e economia; a politização de tratamentos e medicamentos; e as falas antiéticas, imorais e desumanas de desrespeito e desprezo pela vida humana matam. Matam e mataram 100 mil brasileiros; cem mil trabalhadores, estudantes, professores, médicos, enfermeiros, pesquisadores, aposentados.

As guerras, situações nas quais a vida humana se torna mero instrumento de batalha, trazem consigo um valor de união e de sacrifício. Um genocídio, situação na qual o governo ou um grupo de poderosos pratica diretamente a morte em massa de seu próprio povo, não traz consigo valor algum.

100 mil brasileiros foram entregues a uma morte evitável pela negligência de tantas figuras e entidades que não cabem neste editorial — à esquerda; à direita; ao centro; internas e externas. E ainda estamos longe do fim.

A nós, veículos de mídia e sociedade civil, só cabe a espera; a esperança; a revolta; a cobrança; e também a promessa: os responsáveis por esse genocídio não serão esquecidos. E a história, a justiça e as urnas cobrarão o preço por essa catástrofe.

A Revista Brado está de luto.

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