Editorial: O Brasil que não aprendeu nada

Menos de 1 mês após o assassinato de George Floyd, jovem negro é asfixiado por policial em São Paulo

Revista Brado
Revista Brado
3 min readJun 24, 2020

--

De um lado, jovem de 19 anos que foi sufocado por joelho de policial em Carapicuíba (SP), e ficou inconsciente duas vezes. Do outro George Floyd, homem negro que foi morto sufocado por policial branco Minneapolis, nos Estados Unidos. (Imagens: Reprodução)

Os últimos dias do mês de maio foram marcados por protestos antirracistas em todo o mundo devido à morte de George Floyd, homem negro norte-americano que foi sufocado por mais de 7 minutos, até a morte, por um policial branco.

No último domingo (21), a cena quase se repete, dessa vez no Brasil. Em uma abordagem policial na cidade de Carapicuíba, na Grande SP, um jovem foi sufocado por policiais e chegou a desmaiar duas vezes. Gabriel, de 19 anos, pilotava uma moto sem habilitação e colidiu com a moto dos policiais.

Todo o ato faz lembrar diretamente o assassinato de George Floyd. Gabriel também foi asfixiado pelo joelho do policial que se prostrou sobre o pescoço do jovem, que na sequência recebeu um mata leão. Ele também teve suas súplicas ignoradas. Segundo relatos do próprio Gabriel em entrevista à CNN, momentos antes de ficar inconsciente, ele clamava por socorro.

“Eu não estava vendo o movimento deles. Eu só estava focado em chamar minha mãe”, relembra o jovem.

Assim como no caso Floyd, toda a ação de brutalidade foi filmada por testemunhas e publicada na internet. Esta parece ser a nova forma de se obter justiça. A brutalidade que antes era velada nas vielas das periferias ou escondida atrás de fardas e distintivos, agora é registrada e escancarada.

Dados das mortes causadas por policiais no Rio de Janeiro nos últimos 22 anos. Wagner Magalhães/G1

Enquanto nos Estados Unidos a morte de um homem inocente provocou o caos e revolta em todo o país, no Brasil, os casos de violência policial só aumentam. No Rio de Janeiro, só nos 5 primeiros meses de 2020 (janeiro a maio), foram registradas 741 mortes causadas por policiais, o maior número em 22 anos.

São quase 5 pessoas mortas por dia pela polícia carioca. Dessas, 78% são pretas e pardas, entre elas muitos inocentes, residentes de periferias, como o jovem João Pedro, de apenas 14 anos, morto pela polícia no morro do Salgueiro.

A pele negra e o endereço periférico são vistos pela polícia como um alvo. Não existe inteligência quando a ação é na favela.

Esses atos de racismo e brutalidade policial evidenciam a desigualdade e a estrutura arcaica e preconceituosa que imperam nas cidades brasileiras. É necessário elevar essa discussão a todos os níveis da sociedade, para que novos George Floyds não surjam nas ruas das periferias.

Por isso, é necessário e urgente trazer as pautas racial e social para o debate público. Esta revista, enquanto veículo democrático, que preza pela pluralidade de vozes e, sobretudo, pelo respeito aos direitos humanos, não se cala e não se calará perante qualquer injustiça ou desvio das finalidades de qualquer órgão ou agente da sociedade.

Os brados que se levantam contra a brutalidade e os crimes do Estado precisam tornar-se mais fortes e não podem, jamais, ser silenciados.

--

--

Revista Brado
Revista Brado

Perfil oficial da Revista Brado, onde você encontrará informações, opiniões e ideias, para que todos possam ouvir.