Editorial: O mês foi do orgulho, mas a luta permanece diária

Enquanto uma parte da comunidade luta pelo direito de amar, uma parte significativa luta pelo direito de viver

Revista Brado
Revista Brado
3 min readJun 30, 2020

--

No mês do Orgulho LGBT+, vimos as cores da bandeira do movimento expostas por diversas marcas e personalidades em comemoração à luta travada todos os dias por quem sofre na pele a dor do preconceito.

As cores destinadas por Gilbert Baker, em 1978, para representar a comunidade LGBT+, possuem significados e um peso para quem a carrega. Porém, infelizmente, para os que compõem essa sigla, a cor vermelha do sangue dos irmãos que se vão pela intolerância se destaca. Na bandeira, a cor que representa a vida é vista em diversos ambientes como o fim dela para muitos LGBT+.

A transsexual Cibelly Pâmela, de 29 anos, carrega hoje as sequelas do caso de transfobia que sofreu durante o carnaval de Belo Horizonte. Foto: Jornal O Tempo

Foi por um triz que esse mesmo fim — que 329 pessoas, com famílias, futuros e sonhos tiveram em 2019, segundo o Relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) — não ocorreu para Cibelly Pâmela, ou Cibelly do Pará, como é conhecida, de 29 anos. Ela foi espancada de forma brutal por um grupo de homens, durante o Carnaval, em Belo Horizonte.

Felizmente, a vida ainda é uma esperança para ela, porém, por conta da violência sofrida, Cibelly, que havia saído para festejar com amigos, em fevereiro, agora, saiu do hospital — onde ficou por meses entre a vida e a morte — de cadeira de rodas e sem voz.

Cibelly representa uma das várias vítimas diárias da lgbtfobia no Brasil. Embora ser LGBT+ aqui não seja considerado crime como em muitos outros países, vivemos uma falsa impressão de que somos livres para ser e expressar. Uma vez que o Brasil é o país que mais mata travestis e transsexuais, prova de que tudo o que evoluímos até aqui ainda é pouco, corpos periféricos continuam sendo marginalizados e sendo vítimas de violência.

28 de junho foi o marco desse mês que celebra o orgulho de ser LGBT+. Nesse dia, houve muitas manifestações, tanto de agradecimento aos muitos que estiveram à frente e quebraram diversas barreiras para que os que vivem hoje possam estar onde estão, quanto para pontuar que era apenas mais um dia de sofrimento para muitos da comunidade.

O digital influencer trans Luca Scarpelli fez uma homenagem a Demetrio Campos em seu Instagram. Foto: Reprodução/Instagram/@transdiario

Em uma das publicações do domingo (dia 28), Luca Scarpelli falou sobre a morte de Demetrio Campos, um homem trans, preto e periférico, que foi, segundo Luca, “suicidado pela nossa sociedade transfóbica e racista”. Demétrio, após anos convivendo com o preconceito e a intolerância, se suicidou no dia 17 de maio, dia da visibilidade trans.

Há o que se comemorar, é claro. Mas ainda há muito o que lutar também. E viver lutando cansa, gera uma extrema exaustão. Nem sempre é possível ser forte e querer sair. Ainda não se sabe se voltará vivo para pensar no próximo passo da luta pelo respeito.

Mas sair e lutar pelo direito de existir e se expressar de seus iguais é, sempre, um exemplo de coragem e, mais que isso: um motivo para se orgulhar.

--

--

Revista Brado
Revista Brado

Perfil oficial da Revista Brado, onde você encontrará informações, opiniões e ideias, para que todos possam ouvir.