Editorial: O mês foi do orgulho, mas a luta permanece diária
Enquanto uma parte da comunidade luta pelo direito de amar, uma parte significativa luta pelo direito de viver
No mês do Orgulho LGBT+, vimos as cores da bandeira do movimento expostas por diversas marcas e personalidades em comemoração à luta travada todos os dias por quem sofre na pele a dor do preconceito.
As cores destinadas por Gilbert Baker, em 1978, para representar a comunidade LGBT+, possuem significados e um peso para quem a carrega. Porém, infelizmente, para os que compõem essa sigla, a cor vermelha do sangue dos irmãos que se vão pela intolerância se destaca. Na bandeira, a cor que representa a vida é vista em diversos ambientes como o fim dela para muitos LGBT+.
Foi por um triz que esse mesmo fim — que 329 pessoas, com famílias, futuros e sonhos tiveram em 2019, segundo o Relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) — não ocorreu para Cibelly Pâmela, ou Cibelly do Pará, como é conhecida, de 29 anos. Ela foi espancada de forma brutal por um grupo de homens, durante o Carnaval, em Belo Horizonte.
Felizmente, a vida ainda é uma esperança para ela, porém, por conta da violência sofrida, Cibelly, que havia saído para festejar com amigos, em fevereiro, agora, saiu do hospital — onde ficou por meses entre a vida e a morte — de cadeira de rodas e sem voz.
Cibelly representa uma das várias vítimas diárias da lgbtfobia no Brasil. Embora ser LGBT+ aqui não seja considerado crime como em muitos outros países, vivemos uma falsa impressão de que somos livres para ser e expressar. Uma vez que o Brasil é o país que mais mata travestis e transsexuais, prova de que tudo o que evoluímos até aqui ainda é pouco, corpos periféricos continuam sendo marginalizados e sendo vítimas de violência.
28 de junho foi o marco desse mês que celebra o orgulho de ser LGBT+. Nesse dia, houve muitas manifestações, tanto de agradecimento aos muitos que estiveram à frente e quebraram diversas barreiras para que os que vivem hoje possam estar onde estão, quanto para pontuar que era apenas mais um dia de sofrimento para muitos da comunidade.
Em uma das publicações do domingo (dia 28), Luca Scarpelli falou sobre a morte de Demetrio Campos, um homem trans, preto e periférico, que foi, segundo Luca, “suicidado pela nossa sociedade transfóbica e racista”. Demétrio, após anos convivendo com o preconceito e a intolerância, se suicidou no dia 17 de maio, dia da visibilidade trans.
Há o que se comemorar, é claro. Mas ainda há muito o que lutar também. E viver lutando cansa, gera uma extrema exaustão. Nem sempre é possível ser forte e querer sair. Ainda não se sabe se voltará vivo para pensar no próximo passo da luta pelo respeito.
Mas sair e lutar pelo direito de existir e se expressar de seus iguais é, sempre, um exemplo de coragem e, mais que isso: um motivo para se orgulhar.