Eleições 2020: o melhor laboratório eleitoral para 2022

Lívia Bastos
Revista Brado
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4 min readMar 27, 2021
Foto: Tania Rêgo/Agência Brasil

Em novembro de 2020 tivemos a mais recente eleição do país e os resultados das prefeituras e câmaras municipais servem como a melhor pesquisa eleitoral para 2022. Conseguimos analisar quais partidos dominam o cenário político brasileiro, quais estão crescendo e quais estão decaindo. Essa análise é essencial para entender a tendência dos eleitores na eleição presidencial, e também para compreender como se dará a governabilidade do futuro chefe do Executivo e sua relação com os municípios.

Na corrida eleitoral municipal de 2016, o partido que mais elegeu prefeitos foi o PMDB, atual MDB, ocupando quase 20% das prefeituras do Brasil. Apesar de ainda ser o partido que mais elegeu prefeitos em 2020, o MDB está perdendo capital político, já que teve um resultado cerca de 25% menor do que na eleição municipal anterior.

Nas eleições de 2016, dos 10 partidos que mais elegeram, 7 estão entre o centro e a centro-direita: MDB, PSDB, PSD, PP, PL, DEM e PTB. Já para a esquerda os resultados não foram tão animadores: representando a centro-esquerda, os partidos PSB e PDT, ocuparam respectivamente o 5º e 6º lugar nessa lista. Já o Partido dos Trabalhadores, reconhecido como um dos maiores partidos de esquerda da América Latina e o segundo partido com maior número de filiados do Brasil (perdendo só para o MDB), foi o 10º partido que mais elegeu, tendo uma queda próxima de 60% em comparação com o resultado de 2012.

Já no período eleitoral do ano passado, os partidos que mais cresceram percentualmente foram: Avante (583%), Patriota (277%), Podemos (240%) e PSL (200%). Além disso, é importante reparar os resultados dos partidos nas capitais, já que são as cidades com maior influência e geralmente mais populosas, o que influencia mais nas eleições estaduais e nacionais.

Gráfico. Fonte: G1.

Nas capitais, o MDB lidera com 5 prefeitos eleitos, seguido pelo DEM e PSDB com 4. Já na esquerda, PDT e PSB lideram com 2 prefeitos cada e o PSOL com apenas a Capital Belém (PA), com Edmilson Rodrigues.

O PT, que já chegou a ter 9 prefeitos de capitais em 2004, encontra-se sem nenhum representante, apesar de ter chegado ao segundo turno em duas capitais, como em Vitória (ES), com João Coser, fundador do PT no Espírito Santo e ex-prefeito da cidade, que perdeu para Lorenzo Pazolini (REPUBLICANOS), candidato de direita, repetindo o cenário de polarização entre petismo e bolsonarismo que tivemos nas eleições presidenciais de 2018, mostrando que o antipetismo ainda é bastante vivo na capital.

É possível perceber que a tendência da polarização de 2018 se manteve presente nos segundos turnos das capitais, e que os partidos mais à esquerda, como PCdoB, PSOL e PT, tenderam a perder dos candidatos da direita, inclusive a bolsonarista, no segundo turno. Já os partidos posicionados mais à centro-esquerda tenderam a ganhar dos candidatos bolsonaristas e dos candidatos da esquerda mais radical, como Edvaldo Nogueira em Aracajú, José Sarto em Fortaleza — ambos candidatos do PDT que disputaram com direitistas –, ou até mesmo João Campos (PSB), que ganhou de sua prima Marília Arraes (PT) em Recife, mostrando que a centro-esquerda tem se tornado uma tendência se comparada com partidos como o PT.

Ou seja, as eleições de 2020 demonstram que ainda vivemos uma polarização como a de 2018, porém mais tímida, abrindo espaço a passos lentos para a centro-esquerda e a centro-direita marcarem presença no cenário atual. Fato é que os partidos mais radicais, tanto de esquerda como de direita, ainda têm a maioria dos votos numa futura campanha presidencial em 2022, no entanto, é notável que esses possuem também as maiores rejeições.

A má gestão de Bolsonaro frente à pandemia da Covid-19 deixa clara a necessidade do diálogo entre prefeituras e presidente, assim como os governadores, para que o país enfrente seus problemas de forma unida. Já que vivemos no presidencialismo de coalizão, esse diálogo entre os poderes e os representantes é de extrema importância, principalmente no momento de crise que vivemos.

(Miguel Schincariol/Evaristo Sá/Getty Images)

Em 2022, precisamos de um presidente que consiga estabelecer esse diálogo, principalmente com o centro, já que esse, como demonstrado, concentra o maior número de prefeituras e capitais. Os nomes que mais se destacam nessa corrida deixam a desejar nesse aspecto: de um lado o atual presidente Jair Bolsonaro, que se destacou internacionalmente por colocar o Brasil como o pior país no enfrentamento do coronavírus; e de outro lado o ex-presidente Lula (e não, essa não é uma escolha nem um pouco difícil), que acabou de ter suas condenações anuladas, no entanto, 56% dos brasileiros discordam dessa decisão.

Além disso, para o candidato petista a situação do país não se encontra a mesma dos seus últimos mandatos. Como exposto aqui, seu partido perdeu muito capital político nas últimas eleições municipais, além de encontrar o maior índice de rejeição entre os candidatos: 43%, seguido de Jair Bolsonaro com 38%, segundo pesquisa feita pela Exame/Ivest.pro em março.

A questão é: mesmo Lula sendo o favorito contra o bolsonarismo, será que tem capital político para vencer Jair Bolsonaro no segundo turno, ou seria melhor apostar em algum candidato da terceira via?

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Lívia Bastos
Revista Brado

Escrevo sobre gênero na Revista Brado. Aqui você vai encontrar menos teoria, mais pragmatismo. Acadêmica de Direito, envolvida na Política.