LGBTs e a Igreja Católica

A fala do Papa Francisco trouxe ou trará alguma mudança para a vida dos LGBTs?

Gaby Minchio
Revista Brado
4 min readNov 4, 2020

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Fonte: https://koinonia.org.br/programas-projetos-e-iniciativas/ecumenismo-dialogo-e-formacao

As discussões que envolvem religião e sexualidade não são de hoje e não surgiram apenas após o dia 21 de outubro de 2020, quando o Papa Francisco, atual líder mundial da Igreja Católica, teve revelada uma fala de “apoio” à comunidade LGBT.

“Os homossexuais têm o direito de ter uma família, pois são filhos de Deus […]. Você não pode expulsar alguém de uma família […]. O que temos que ter é uma lei de convivência civil. Dessa forma, eles são legalmente cobertos […]. Eu lutei por isso”.

“Francesco” teve sua primeira divulgação em 21 de outubro de 2020. Fonte: https://www.ofielcatolico.com.br/2020/10/21102020-em-documentario-papa-francisco.html

Inúmeras repercussões surgiram após tal discurso, o qual faz parte de um trecho que compõe o documentário “Francisco”, recém-lançado no Festival de Cinema de Roma. O material audiovisual discorre sobre os dramas que o mundo passa apresentados aos olhos do papa. Todavia — como era de se esperar — , apenas essa declaração ganhou eco e gerou impacto na sociedade.

Afinal, para que falar da miséria em países e continentes pobres se é melhor discutir e dar pitaco acerca de uma opinião sobre relacionamento e amor entre pessoas do mesmo sexo, não é mesmo?

O que ressalto é que tal demonstração de “suporte” dada pelo papa não passa de um argumento óbvio, como ressalta o vídeo que o Meteoro Brasil fez sobre esse assunto , visto que, em momento algum, Francisco ultrapassa o limite que a Igreja condena; e a não permissão de casamentos religiosos para homossexuais continuará acontecendo.

Só foi dada uma alternativa ao casamento religioso, que não é permitido hoje — e dificilmente será um dia — pela Igreja Católica a casais não héteros.

Ele segue a onda menos conservadora, isso é preciso pontuar, porém, não vai além do que já acontece e, até mesmo, posso dizer que pondera que essa relação não passe desse âmbito civil, já que não tem condições nem direito de ser mais que isso. Só casais heterossexuais possuem a autorização e são aptos a entrarem em uma igreja católica e serem abençoados a seguirem a vida a dois. Só esse amor é digno de tal ato.

Desde 15 de maio de 2013, a união estável homoafetivo é equiparada a feita entre casais hétero. Fonte: Polina Tankilevitch via Pexels

Não é sempre, mas é recorrente a religião possuir forte influência sobre diversas decisões cotidianas que seus seguidores tomam. E a orientação sexual também sofre com tais mediações religiosas. Como é argumentado, por meio de falas bíblicas interpretadas por seres humanos como eu e você, a não heterossexualidade é condenável e quem a pratica “arderá no fogo do inferno”.

Essas falas ressoam até hoje e o próprio papa emérito Bento XVI já fez tal discurso. Por isso que o atual pontífice dissipar contra o grupo conservador da Igreja Católica, sendo ele o ponto focal — o líder — de tal religião, é tão relevante para quem segue tal dogma e até para quem não segue mais ou nunca seguiu.

Em contramão, após vencermos uma batalha no ano passado — quando o Supremo Tribunal Federal (STF) enquadrou a LGBTfobia como um crime -, foi solicitado recentemente pela Advocacia Geral da União (AGU) uma revisão de tal decisão, questionando quais atos religiosos não podem ser considerados como crimes LGBTfóbicos, visto que julga essa criminalização como um ato contra a liberdade religiosa.

Fonte: Wallace Araujo via Pexels

Torna-se absurdo e inimaginável, em um país que se diz laico, passar por tal situação, ao ponto de, por conta do dogma que segue, alguém poder ter controle sobre acessos que LGBTs devem ou não ter a determinados espaços.

“não queimem as bruxas

mas que amem as bichas

mas que amem […]

clamem

[…] que amem as travas também

Amém”

Não desmereço essa ação, porque quem já viveu e ainda vive em um cenário católico religioso sabe o quão preconceituoso é esse meio. E um papa fazer essa afirmação é de extrema importância. Mas, pelo tanto que passei, passo e passarei, agradeço, mas, infelizmente, apesar de tal discurso, ainda permaneceremos lutando contra religiosos que apontam nossa existência como abominação.

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Gaby Minchio
Revista Brado

Comunicóloga pela Ufes | Pós-graduanda em Formação do Escrito pela PUC-Rio | Fui colunista da Revista Brado | Escrevo textos que surgem do nada também