Lindas maquiagens escondem tristes realidades

Uso de cosméticos atrapalha identificação de violência doméstica

Larissa Barrozo
Revista Brado
3 min readOct 15, 2021

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Foto: ivanovgood/Pixabay

Com a modernidade e o avanço da indústria de cosméticos, as maquiagens se tornaram presentes no cotidiano, principalmente das mulheres, visto que esses produtos fornecem uma aparência bonita e saudável, além de cobrir imperfeições na pele. Atualmente, seu uso é de grande importância nas artes e ato de se maquiar pode ser compreendido como uma forma de expressão artística.

Por outro lado, muitas mulheres em situação de violência doméstica usam esses produtos para esconder hematomas provocados por seus companheiros e esse ato coloca suas próprias vidas em risco, pois dificulta que terceiros identifiquem as marcas da violência doméstica.

Foto: Tumisu/ Pixabay

Durante a pandemia houve um aumento de 20% no número de casos noticiados de violência contra a mulher. Apesar da existência de políticas públicas para tentar diminuir esses casos e dar apoio à vítima através de uma equipe qualificada, muitas mulheres não se sentem seguras para denunciar seus agressores, devido a vários fatores próprios de cada situação.

Muitas mulheres que estão vivenciando situações de violência doméstica são silenciadas. Geralmente esses abusos se ramificam para a violência psicológica, e assim o uso da maquiagem para cobrir hematomas se torna uma forma dessas vítimas apresentarem normalidade perante terceiros que poderiam ajudar, mas desconhecem o que está realmente acontecendo. Há, inclusive, diversos conteúdos de canais e blogs ensinando mulheres a cobrirem seus hematomas com maquiagem, o que só contribui para que a violência não seja denunciada e efetivamente combatida.

A situação de isolamento social como medida efetiva para diminuir o contágio da Covid-19 escancara a violência doméstica e a desigualdade entre os gêneros. Foto: Paulo Pinto/AGPT/Fotos Públicas

Somos livres para usarmos a maquiagem da forma que sentirmos vontade, entretanto, é necessário entendermos que a violência contra a mulher é uma crescente e não será reduzida maquiando seus efeitos, mas sim combatendo de fato a violência.

Segundo a edição de 2021 da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência. Atrelado a isso, de acordo com o Atlas da Violência, 14 estados apresentaram aumento no homicídio de mulheres entre 2009 e 2019.

Mulheres são a maioria das vítimas fatais da violência doméstica e tudo que atrapalha na identificação dessa violência precisa ser debatido, e um desses fatores é justamente o uso da maquiagem encobrindo os indícios. Apesar dos esforços, muito ainda há para ser feito, porque as agressões infelizmente só crescem, e com ela a preocupação que de que podemos amanhã ser mais uma vítima da violência doméstica.

Governador de São Paulo João Doria durante assinatura do Termo de Adesão do Programa Sinal Vermelho — Secretaria da Justiça, Combate à Violência Doméstica (20/08/2021). Foto: Governo do Estado de São Paulo

O medo, a vergonha e o receio de se expor são fatores chaves para o silenciamento das vítimas, que faz com que a maioria delas não procurem ajuda. Além disso, em pesquisa do JusBarômetro, encomendada pela Associação Paulista de Magistrados, apesar de muitas mulheres procurarem ajuda em órgãos oficiais como a Delegacia da Mulher, a ação fica quase nivelada com a procura de ajuda informal entre amigos e familiares.

Ações estatais são urgentes para garantir efetivamente maior sensibilidade e empatia daqueles que atenderão essas vítimas, para que outras possam ter coragem de denunciar, em vez de encobrir. É imprescindível que adotemos uma postura solícita para com as vítimas, mas também é importante que as marcas da violência não sejam disfarçadas com roupas e maquiagens.

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