Mais que nunca é preciso cantar o que é nosso: Elis é arte que não se apaga

Em 19 de janeiro de 1982 o Brasil foi surpreendido com a morte de Elis Regina. Hoje, 40 anos depois, a artista continua mais viva que nunca através de seu canto atemporal

Mylena Ferro
Revista Brado
2 min readJan 19, 2022

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Acervo Globo

Cresci sabendo quem é Elis. Não lembro de quando me dei conta e comecei a ouvi-la, mas tenho recordações de, ainda criança, observar meu avô cozinhando ao som de “Como Nossos Pais” nas alturas, e eu, pequenininha, entendendo que aquela mulher estava falando algo importante — mesmo que não entendesse o que era. Fui crescendo e a Pimentinha se tornou, pra mim, aquela amiga dos nossos pais que está sempre junto nos feriados e fins de semana e acaba se tornando nossa amiga também, sabe? Assusto-me, no entanto, ao perceber que sua partida antecedeu o nascimento da minha mãe e de todos os meus tios. Parece que ela está aqui, em 2022, e que “Alô, alô marciano” e “Sinal Fechado” foram gravadas há poucos meses, para falar da atual política brasileira.

Elis era à frente do tempo e, aqui, não me refiro apenas à artista: enquanto cidadã e mulher, suas entrevistas, posicionamentos e produções artísticas escancaravam uma inteligência, consciência e articulação raras. Ainda na década de 80 ela nos alertou sobre o descaso com o nosso Velho Chico, sobre o machismo da indústria cultural, sobre as dores de ser uma mulher-mãe-profissional e sobre a hipocrisia da classe média brasileira. Deu a cara a tapa quando isso não era encorajado. Corajosa, brava, comprometida com seu povo e com ela mesma. Elis é absoluta.

Estive, outro dia, no Acervo Elis Regina, uma sala linda dedicada à cantora, na Casa de Cultura Mário Quintana, centro de Porto Alegre. Foi bonito e emocionante demais ver que, dentre todas as salas em que passei, essa era a mais cheia. Idosos, crianças, adolescentes, adultos, todos reunidos, ouvindo, vendo e reverenciando a força avassaladora de Elis. Força que se mantém intacta 40 anos depois de sua partida, resistindo na boca da noite um gosto de sol. Elis continua viva com uma arte que não há de se apagar, porque coisas sagradas permanecem e a potência da Pimentinha ultrapassa qualquer barreira de tempo.

Salve Elis Regina!

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