Museu virtual homenageia o músico Itamar Assumpção

O MU.ITA reúne em seu acervo obras, fotografias e memórias de toda a carreira do artista

Samara Elisa
Revista Brado
4 min readDec 16, 2020

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Foto: Jairo Torres, 1987 / Museu Itamar Assumpção

Itamar Assumpção, nascido no final da década de 1940, foi cantor, compositor, instrumentista, ator e muito mais. Considerado um dos grandes nomes da vanguarda paulista, Itamar sempre se manteve convicto de seus ideais e firme na forma de produzir suas músicas. Não é à toa que a maioria de seus álbuns foram produzidos por gravadoras independentes.

A música esteve presente em sua vida desde cedo, quando tocava atabaque em reuniões religiosas junto de seu pai — o que veio a refletir em sua arte anos à frente. Suas músicas não seguem um gênero definido, mas uma mistura de referências, partindo desde sua ligação com as músicas afro-brasileiras, do samba, até suas trocas com os parceiros de vanguarda paulista, como Arrigo Barnabé, com quem foi baixista antes de lançar seu primeiro álbum.

Outro ponto marcante de Itamar eram suas performances ao vivo: sempre teatrais, contavam com um coro feminino que também participavam de seu espetáculo. Por esses e muitos outros motivos, é mais que necessário ter um museu dedicado a toda a obra e vida desse artista. É importante ressaltar também que é o primeiro dedicado a um artista negro no país.

Foto: Mara Fernandes, 1994 / Museu Itamar Assumpção

O museu estava previsto para ser inaugurado no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, no entanto, em respeito à memória de João Alberto, vítima de assassinato brutal na noite anterior, o museu foi ao ar apenas no dia 22.

O show de estreia do MU.ITA, porém, ocorreu no dia 20 mesmo, com apresentação da filha de Itamar, Anelis Assumpção, dirigida por Ava Rocha e com participação de Denise Assumpção, irmã do cantor. O espetáculo contou com a interpretação de várias músicas de Itamar, ao mesmo tempo em que diversas lembranças do artista eram projetadas na tela ao fundo do palco.

Anelis sempre demonstrou muito orgulho da trajetória de seu pai e faz de tudo pra preservar as memórias e suas obras. Ela assina a direção geral do museu e também a curadoria, junto com Frederico Teixeira, Rosa Couto e Ana Maria Gonçalves, além de uma imensa equipe de pesquisa e produção. Todo o projeto foi feito de uma forma muito cuidadosa, tendo tradução em libras em todo o site e também tradução para iorubá, língua nigero-congolesa, feita com o intuito de aproximar a memória de Itamar à sua ancestralidade africana.

Imagem: Reprodução/Museu Itamar Assumpção

O museu é dividido em algumas seções. O acervo é repleto de fotografias, recortes de jornais, anotações, documentos e outros objetos de Itamar. Também há o espaço Afro brasileiro Puro, que conta toda a trajetória de vida e obra do cantor. Essa parte é dividida por décadas e faz um paralelo com marcos históricos para os negros, incluindo diversos lançamentos artísticos e musicais de artistas negros do Brasil e do mundo. Além de mostrar a grandeza de Itamar por meio de sua história e por fotos, também foram escritos diversos textos exclusivos para o site, passando pela própria Anelis até a filósofa Djamila Ribeiro e Gilberto Gil.

Capa do álbum Ascensão, de Serena Assumpção. Foto: Reprodução

Há também um espaço dedicado somente à obra de sua outra filha, Serena Assumpção. Na sala é possível escutar seu álbum Ascensão enquanto percorre um espaço 3D com diversas fotos e elementos gráficos. Essa sala foi dedicada à valorização das religiões de matrizes africanas, já que seu disco segue essa temática. O museu também trará exposições de outros artistas; o primeiro convidado é Dalton Paula: suas obras trazem o corpo negro e a ancestralidade como destaque, assim como o trabalho de Itamar.

Por fim, é possível escutar toda sua discografia virtualmente, e consultar a ficha técnica completa de todas as obras, juntamente com as letras de sua música, além de uma loja com os produtos licenciados, desde camisetas e livros a vinis remasterizados e adesivos.

Itamar sempre ficou à margem da indústria musical. Apesar de seu incrível trabalho, ele não se encaixava em rótulos determinados pelas grandes gravadoras. Felizmente, seus contemporâneos na arte sabiam valorizar devidamente seu trabalho. Itamar chegou a fazer parcerias com Rita Lee, Tom Zé e Tetê Espíndola, por exemplo.

É fundamental que os artistas brasileiros tenham espaços como esse — físico ou não — e, indo além, é fundamental que se lute pela preservação da memória de grandes nomes da música e da arte brasileiras para que suas obras não caiam no esquecimento. Também é muito interessante que museus experimentem novos formatos de existência e busquem cada vez mais chegar nos públicos mais diversos.

Para acessar o museu, clique aqui.

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