O consumo não precisa ser insustentável

É possível imaginar uma sociedade na qual a produção e o consumo não sejam sinônimos de devastação ambiental nem exploração do trabalho humano

Victória Pagani Samora Sousa
Revista Brado
4 min readSep 26, 2021

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Reprodução: ONU Brasil

“Prevemos um mundo em que cada país desfrute de um crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável e de trabalho decente para todos. Um mundo em que os padrões de consumo e produção e o uso de todos os recursos naturais — do ar à terra; dos rios, lagos e aquíferos aos oceanos e mares — são sustentáveis. Um mundo em que a democracia, a boa governança e o Estado de Direito, bem como um ambiente propício em níveis nacional e internacional, são essenciais para o desenvolvimento sustentável, incluindo crescimento econômico inclusivo e sustentado, desenvolvimento social, proteção ambiental e erradicação da pobreza e da fome. Um mundo em que o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia são sensíveis ao clima, respeitem a biodiversidade e são resilientes. Um mundo em que a humanidade viva em harmonia com a natureza e em que animais selvagens e outras espécies vivas estão protegidos”.

Essas são as expectativas do ODS 12 da agenda 2030 da ONU.

Mas para que isso aconteça, é preciso muito interesse por parte dos governos e dos órgãos normativos, haja vista que enquanto não houver pressão vinda de cima, não haverá mudança de padrões de produção, muito menos de consumo.

É possível observar que hoje o consumidor tem mais consciência sobre aquilo que está consumindo, visto que ao ir às compras podemos observar mais produtos com embalagens recicláveis e feitas com material reciclado; produtos veganos e sem crueldade; assim como produtos que em seu processo de fabricação se comprometem não somente com a preservação ambiental, mas também com as condições de trabalho dos seus funcionários. Isso porque muitos consumidores e produtores cansaram de seguir as regras da indústria e começaram a ditar novos rumos, os quais atendiam uma porção qualitativa dos seus compradores. Contudo, apenas isso não é suficiente, haja vista que, por mais que esses novos produtos sejam mais acessíveis do que já foram, ainda assim não chegam a toda a população, ficando restritos muitas vezes às classes mais altas. Dessa forma, para que isso se torne uma realidade universal de consumo, é preciso que esse modelo passe a ser uma regra, não a exceção.

“Comprometemo-nos a fazer mudanças fundamentais na maneira como nossas sociedades produzem e consomem bens e serviços. Governos, organizações internacionais, setor empresarial e outros atores não estatais e indivíduos devem contribuir para a mudança de consumo e produção não sustentáveis, inclusive via mobilização, de todas as fontes, de assistência financeira e técnica para fortalecer as capacidades científicas, tecnológicas e de inovação dos países em desenvolvimento para avançar rumo a padrões mais sustentáveis de consumo e produção. Nós encorajamos a implementação do Quadro de Programas sobre Consumo e Produção Sustentáveis, previsto para o prazo de 10 anos. Todos os países tomam medidas, com os países desenvolvidos assumindo a liderança, levando em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países em desenvolvimento”. (Promessas do ODS 12 da agenda 2030 da ONU).

No Brasil, o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) foi lançado em 23 de novembro de 2011 e representa um esforço para coordenar as ações de governo, do setor produtivo e da sociedade para que o país atinja as metas de padrões mais sustentáveis de produção e consumo. O Plano decenal busca fortalecer a cooperação internacional com vistas a acelerar a mudança para padrões sustentáveis de produção e de consumo nos países desenvolvidos e em desenvolvimento e pressupõe a coordenação e monitoramento por parte do governo, mas contempla fortemente a participação de todas as partes interessadas, articulando as principais políticas ambientais e de desenvolvimento do país, em especial as Políticas Nacionais de Mudança do Clima e de Resíduos Sólidos, além de muitas outras.

É importante também realçar a vinculação do Plano com os princípios da Economia Verde, que, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), é o modelo que trará maior bem-estar e equidade social, enquanto reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez de recursos naturais. Desta forma, esses princípios gerais estão refletidos no Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, que se torna um instrumento da transição para esse novo modelo. Em seu primeiro ciclo, de 2011 a 2014, o PPCS teve seus esforços focados nas seguintes áreas: Educação para o Consumo Sustentável, Varejo e Consumo Sustentável, Aumento da reciclagem, Compras Públicas Sustentáveis, Construções Sustentáveis e Agenda Ambiental na Administração Pública — A3P.

Foto: Nick Fewings/Unsplash

Sendo assim, é importante ressaltar como todos os ODSs estão relacionados entre si, e que para o sucesso de cada um deles individualmente faz-se necessário o investimento conjunto, nas mais diversas frentes. Além disso, o ODS 12 é essencial para a manutenção dos demais, haja vista que nossa sociedade é pautada no consumo e na produção. Dessa forma, para termos uma sociedade mais sustentável, mais consciente e mais justa, isso também precisa ser refletido no processo produtivo.

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