O pomo está maduro
Colhei-o já, senão apodrece
“Pedro, o Brasil está como um vulcão {…}”. Dentre os tantos preâmbulos que já marcaram a história desse país em cartas, atos e discursos, talvez o que mais represente seu — quase permanente — status social seja esse: vulcânico.
De fato, esse é um período eruptivo, marcado por muita violência, tensão, revoltas e rebeliões. Mas, antes de tudo, é também uma época de mudanças, um tempo de esperança.
Naturalmente, falo do ano de 1822, em que ainda éramos um Reino Unido a Portugal e Algarves (1815–1822) e estávamos a um passo para seguirmos diferentes destinos enquanto nação.
Dois deles eram: um retorno ao status de Estado Colônia do reino português ou a eclosão de pequenas repúblicas independentes instauradas por rebeliões.
Ambas as opções resultariam, certamente, em revoluções sangrentas — ou, ao menos, em tentativas. Bem ou mal, nenhum dos dois aconteceu e o resultado você já sabe: “independência ou morte”.
Mas o que talvez poucos saibam ou se lembrem é da figura de uma pessoa — que não é o D. Pedro I — que exerceu um papel fundamental para o que viria a ser proclamado no dia 7 de setembro daquele ano.
A Imperatriz
Ela, que falava 11 idiomas, que estudava ciências naturais, filosofia, botânica e mineralogia; que tinha uma ampla visão política; é muitas vezes lembrada pela história como uma mera esposa e mãe dos dois imperadores do Brasil.
Todavia, “ela” tinha um nome. Para ser sincero, um extenso nome (confira na imagem acima). Mais conhecida como Leopoldina, a austríaca casou-se, por procuração, com o filho do rei D. João VI, o então príncipe Pedro, em 1817.
Nesse mesmo ano, a agora princesa se muda para o Brasil (sede da família real lusa desde 1808), trazendo consigo seu rico repertório para o “Novo Mundo”.
Mas voltemos à independência brasileira saltando cinco anos.
Em agosto de 1822, o então Príncipe Regente Pedro havia partido rumo a São Paulo com o intuito de apaziguar as tensões políticas lá presentes, nomeando, pois, sua esposa Leopoldina como Princesa Regente Interina.
No final daquele mesmo mês, Leopoldina recebe cartas com ordens para que o Príncipe e a Princesa retornassem imediatamente para Portugal, acusando-os de traição e — em resumo — trazendo o Brasil de volta ao status de colônia.
Após a leitura, a Princesa Regente convoca o Conselho de Estado para deliberar sobre a posição do Brasil em relação às decisões da corte lusa. É ela quem articula o Conselho a votar a favor do fim dos vínculos com Portugal.
Assim, no dia 2 de setembro, Leopoldina assina uma declaração de independência e escreve uma carta para seu esposo, informando-o sobre o estado vulcânico que o Brasil vivenciava.
É nesta fatídica carta que a Princesa Regente influencia e convence seu marido a referendar e ratificar sua decisão: “O pomo está maduro. Colhei-o já, senão apodrece” ¹.
A carta só chega ao futuro imperador no dia 7 de setembro, “às margens do Rio Ipiranga”, mas a independência brasileira já estava feita, cinco dias antes, pela futura Imperatriz do Brasil.
Por fim, a Leopoldina restou um desfecho trágico: uma morte no auge dos seus 29 anos, sofrendo inúmeras crueldades de seu nocivo marido; e seu devido papel na história muitas das vezes caído no esquecimento ou abreviado.
Já o Brasil havia enfim mudado, mas, para continuar igual: uma monarquia com base econômica escravocrata. Alguns historiadores chamam esse fenômeno de “Revolução Conservadora”. Um belo nome para definir nossas transformações, não é mesmo?
Mas não se engane. Houve sim derramamento de sangue, guerras, negros lutando por liberdade e outras mulheres que protagonizaram atos indispensáveis em nossa história, porém seguimos ocultando nossos 2 de setembro para gozarmos patriotismo no dia 7.
“O pomo está maduro. Colhei-o já, senão apodrece” ¹: trecho da carta que a Imperatriz Leopoldina escreveu para seu marido, Pedro. Após a leitura, o futuro imperador então referendava o fato consumado: a Independência. Leia a carta na íntegra clicando aqui.