O que esperar da cultura em 2021

Após quase 10 meses sem eventos para o público, o que o próximo ano guarda para os profissionais da área?

Samara Elisa
Revista Brado
5 min readJan 1, 2021

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Apresentação da cantora Josyara. Foto: Reprodução/Cultura Em Casa/Vimeo

Com a expectativa de uma vacina cada dia mais próxima e o consequente controle da pandemia, aumenta também a expectativa do retorno para a antiga rotina: trabalhar, estudar, reencontrar amigos e parentes sem o medo da contaminação… As artes e o entretenimento fazem parte desses encontros e a saudade desses momentos compartilhados com o grande público são uma queixa constante por quem costumava frequentar esses espaços.

Desde setembro, alguns pequenos eventos foram liberados ao público. No Espírito Santo, no entanto, nenhum teatro retornou com suas atividades presenciais, somente o Museu de Artes do Espírito Santo (MAES). A explosão de lives que aconteceu no início do isolamento já não é tão forte. Certamente os eventos culturais não irão voltar de imediato com toda sua aglomeração de costume, assim como ocorreu com os centros comerciais. De longe, não é desejado que somente o ambiente virtual seja o disponível para o consumo de arte, tanto por suas privações quanto para a rentabilidade dos artistas. Porém, a mescla do espaço físico e virtual deve perdurar no próximo ano e talvez por mais tempo.

Trazendo como exemplo o estado de São Paulo, alguns teatros e museus já retomaram as atividades. O Teatro Municipal voltou com sua capacidade reduzida, mantendo, porém, a possibilidade de assistir à apresentação ao vivo online. Algumas novas formas de museu têm sido exploradas no estado também. No início de dezembro, houve a 10ª Mostra 3M de Arte, na qual as obras ficaram expostas ao redor de todo o Parque Ibirapuera e, pela primeira vez na história do evento, foi apresentado ao ar livre. A curadora do projeto disse que foi necessário “repensar os projetos conceitualmente para que fizessem sentido de existirem num mundo em pandemia”. É sempre importante pensar as artes com base no momento e no espaço que é ocupado.

Teatro Parque Arqueológico — Camila Sposati. Parte da 10ª Mostra 3M de Arte. Foto: Mostra 3M de Arte/Facebook

De fato, é muito menos complicado para que grandes espaços artísticos se reestruturem com as medidas de segurança necessárias para o momento do que espaços independentes. Além disso, o cenário para o próximo ano não é animador, já que a proposta de orçamento para 2021 do Ministério do Turismo (ao qual a Secretaria Especial da Cultura faz parte), enviada ao Congresso no final de agosto, prevê uma redução de recursos de R$ 11,6 bilhões em 2020 para R$ 2,5 bilhões em 2021 — um corte expressivo para um setor tão importante.

Apesar de notícias desanimadoras como essa, trabalhadores da cultura seguem pesquisando e se aprofundando em estudos sobre os meios virtuais e formas de se adequar. Um exemplo dessas experimentações de tecnologias aplicadas à arte foi a peça Caso Cabaré Privê, da companhia Pequeno Ato. Eles propuseram uma peça em que o espectador participa ativamente da apresentação, como detetive. A peça ocorreu pela plataforma Zoom, cada ator estava em um local diferente e mesmo assim conseguiram trazer a interação de elenco e público de uma forma muito interessante, quase como se não houvesse barreiras físicas entre os participantes.

Peça Cabaré Privê. Foto: Giulia Ghigonetto/Mulheres Jornalistas

Peças de teatro online ainda possuem os mesmos problemas de antes, agora potencializados. Se esse já é considerado um espaço elitista e a informação dos eventos que ocorrem nesses espaços é restrita a quem já acompanha o meio cultural, agora ainda temos o empecilho da disposição de aparelhos para estar presente na apresentação e também a qualidade da internet, que nem sempre é adequada para assistir apresentações online.

No meio do entretenimento, as plataformas de streaming aumentaram consideravelmente seus números de consumidores, além da ampliação das opções de empresas nesse segmento, que agora estão fazendo parcerias umas com as outras. De acordo com o Kantar, em 2020 houve um aumento no número de assinantes nessas plataformas, chegando a 36%, sendo que em 2019 o número foi de 29%. Há uma previsão de que o número se consolide e aumente nos próximos anos. O interessante é que as plataformas de streaming não estão restritas somente aos filmes e séries, mas também é possível encontrar alguns sites que disponibilizam peças de teatro para que os espectadores assistam a qualquer momento de casa. Esse recurso já estava presente em alguns outros países, mas agora no Brasil também já existem alguns, como a Cennarium, pioneira no país.

Também vale destacar um formato diferente dos streamings que ganhou destaque durante a pandemia e deve continuar no próximo ano. Mais parecido com o que eram as locadoras, são os sites de empréstimos de filmes, onde é possível alugar por somente um tempo, não sendo necessário pagar a mesma quantia todo mês. Esse tipo de plataforma é atraente quando se tem interesse em somente um filme, ainda mais levando em consideração que essas plataformas possuem uma curadoria para a exibição dos títulos, então em sua grande maioria são obras não encontradas facilmente nas grandes empresas de streaming. Além disso, os filmes são trocados com determinada frequência, não ficam lá por tempo indeterminado como na Netflix.

Por fim, certamente o próximo ano será repleto de produções artísticas que refletem o momento que passamos e ainda estamos passando, como já tem sido feito neste ano. A arte é uma forma de contar história de uma forma subjetiva. Mas é importante sairmos disso para analisarmos com outros olhos tudo que se passou. Tudo é muito incerto ainda; não podemos predizer nada, somente aguardar para que consigamos voltar para o “antigo normal’’. E que a arte ressignifique este momento ou então nos dê conforto para seguir resistindo.

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