O que você sabe sobre o câncer de pele?

Mesmo durante a pandemia, as praias estão lotadas, e alguns cuidados acabam sendo negligenciados

Carolina Miôtto Castro
Revista Brado
5 min readJan 14, 2021

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Foto: Ethan Robertson/ Unsplash

A pandemia causada pelo novo coronavírus está longe de acabar e as vacinas ainda não chegaram. Entretanto, durante este verão, o que mais vemos são as praias lotadas e a população em busca da tão famigerada vitamina D, muitas vezes deixando de lado certas precauções, como utilizar protetor solar e evitar exposição exagerada nos horários de maior incidência de raios ultravioletas (UV).

Esses simples cuidados, apesar de serem bem conhecidos, devem continuar a ser lembrados, visto que um dos cânceres mais incidentes em nosso país é o câncer de pele, causado pela multiplicação anormal e descontrolada das células desse órgão.

A manifestação dessa neoplasia maligna depende do seu tipo: melanoma ou não melanoma (incluídos nesse grupo o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular).

O tipo melanoma é o menos incidente, porém é o que apresenta mais alta letalidade devido à sua grande chance de causar metástases. Ele localiza-se principalmente no tronco e membros inferiores. E, além disso, é capaz de se originar de pintas pré-existentes.

O carcinoma basocelular (CBC) é o mais frequente de todos os tipos. Comumente localizado nos 2/3 superiores da face, tem crescimento lento e apresenta baixo potencial de metástase, apresentando, portanto, o melhor desfecho clínico dentre as neoplasias da pele.

O carcinoma espinocelular (CEC), por sua vez, é o segundo tipo mais prevalente. Ele habitualmente desenvolve-se de uma lesão pré-maligna da pele e localiza-se no terço inferior da face (principalmente lábio inferior e orelhas), mas também pode surgir no dorso das mãos, mucosa bucal e genitália externa.

Tipos de câncer de pele. Da esquerda para a direita: Carcinoma basocelular, normalmente manifesta-se como nódulo de coloração perolada com telangiectasias (vasos bem finos) e ulceração central. Carcinoma espinocelular, sua lesão consiste em uma placa ou nódulo com graus variáveis de queratinização no nódulo e/ou na superfície. Melanoma maligno, sua forma depende do tipo clínico, porém, o mais comum é caracterizado por uma mancha de cor escura, com borda denteada e irregular. Montagem: Carolina Miôtto

Quais são os principais fatores de risco?

Os fatores de risco estão relacionados com idade avançada (principalmente acima de 40–50 anos), indivíduos de pele mais clara (lembrando que independente da cor da pele, qualquer pessoa pode apresentar o câncer), história de câncer de pele na família e exposição prolongada ao sol, principalmente nos horários entre 10h e 16h.

Esse horário específico se deve aos raios UVB, que incidem mais intensamente nesse período e são os principais responsáveis pela formação do câncer de pele. Entretanto, vale lembrar que, apesar desse e outros efeitos negativos (como vermelhidão e queimadura solar), os raios UVB também apresentam a função de síntese de vitamina D, sendo, portanto, necessário o contato com esses, porém de forma cuidadosa e consciente.

É importante também citar que não são apenas os raios UVB perigosos para nossa pele. Os raios UVA, diferentes dos primeiros, penetram em camadas mais profundas da pele, podendo alterar estruturas da derme, além de fibras colágenas, elásticas e reticulares. Logo, seus principais efeitos são o fotoenvelhecimento da pele e a formação de rugas e manchas.

O que pode ser feito para prevenir esses impactos negativos?

Regra da Colher de Chá. Refere-se à quantidade de protetor que idealmente deve ser aplicada em cada parte do corpo. A aplicação inicial deve ser feita minutos antes da exposição, deve haver uniformidade na aplicação, e deve ser aplicado com a menor quantidade de roupa possível. A reaplicação deve ser realizada a cada 2 horas. Dependendo da formulação a reaplicação pode ser mais espaçada. Não existe filtro solar que resiste à água. Imagem: Reprodução

Apesar de serem bem conhecidos, devemos sempre ter em mente alguns cuidados como: utilizar protetor solar que proteja contra os raios UVA e UVB e reaplica-lo após toda vez que entrar na água (lembrando que quanto maior o FPS, por mais tempo sua pele estará protegida, e o PPD do protetor deve corresponder a no mínimo um terço do FPS); utilizar chapéus, óculos escuros e roupas compridas; evitar exposição excessiva entre os horários de 10h e 16h (principalmente no verão, quando o UVB tem maior incidência); preferir ficar em áreas cobertas com sombra.

É importante ressaltar que os efeitos das radiações UV são cumulativos, ou seja, a sua exposição desde criança vem acumulando os efeitos negativos causados por elas, de modo que aquela radiação pode ser responsável pela formação de um câncer no futuro. Isso ocorre porque em torno de 25% a 50% de toda radiação solar que recebemos durante a vida ocorre nos primeiros 18 anos de idade, sendo, portanto, fundamental a realização da fotoproteção desde cedo.

Outro ponto fundamental é que a intensidade da incidência solar é determinante na radiação UV, logo, independente da temperatura e da presença de nuvens (mesmo se for um dia nublado e frio), caso a intensidade estiver elevada, ainda existem riscos, e, portanto, são necessárias medidas de proteção.

O autoexame ABCDE

Podemos realizar um exame de triagem na presença de pintas suspeitas de serem melanomas.

Essa regra avalia a assimetria (A), as bordas (B), a cor (C), o diâmetro (D) e a evolução (E) da lesão. Por se tratar de uma neoplasia com grande letalidade, a detecção e atuação precoce contribuem para uma melhor evolução clínica.

Normalmente numa lesão maligna todos esses sinais ou a maior parte deles estão presentes em conjunto. Além disso, vale lembrar que esse autoexame, apesar de muito importante para avaliação da lesão, não substitui uma análise do dermatologista. Portanto, na presença de pelo menos dois dos sinais abaixo, é sempre importante se dirigir ao médico para uma investigação mais precisa.

O método ABCDE. Com ele, é possível analisar alguma características de uma lesão suspeita. Uma pinta assimétrica diz respeito à malignidade, enquanto uma simétrica, à benignidade. A presença de bordas regulares é mais comum em pintas benignas, e irregulares em pintas malignas. Pintas malignas normalmente apresentam 2 ou mais cores e comumente tem diâmetro maior que 5mm. Na evolução de uma lesão maligna normalmente muda-se a aparência com aumento de seu tamanho, número de cores, presença de sangramento. Imagem: Reprodução

É comum no período de férias reduzirmos os cuidados e aumentarmos a exposição ao sol. Mesmo que se utilize protetor solar para ir à praia, é fácil nos esquecermos dos cuidados ao fazer uma caminhada ao ar livre nos horários de alta incidência ou mesmo ao sentar na varanda para ler um livro com o sol incidindo diretamente sobre nós. Entretanto, é sempre bom lembrar que o câncer de pele não tem lugar ou atividade específica. Mesmo sem banho de mar é importante tomar os devidos cuidados, sobretudo nos horários de alta incidência solar.

Além disso, não podemos nos esquecer que ainda estamos em uma pandemia e que todo cuidado é pouco. Evite aglomerações e aproveite o verão com cuidado e responsabilidade.

Referência

  1. Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti.
  2. Consenso de Fotoproteção.

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Carolina Miôtto Castro
Revista Brado

Estudante de Medicina pela Universidade Vila Velha | Colunista da Revista Brado