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Entenda a relação entre poder e mídias socias.

Alinemuniz
Revista Brado
4 min readJul 12, 2022

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Imagem: George Pagan III/Unsplash

Para acessar o texto, você deverá criar um perfil. Isso mesmo, adicione todos os seus dados: nome, sobrenome, idade, endereço. Não, eles não precisam ser reais, afinal ninguém vai saber se não forem. Pensou no seu nickname? Beleza! Agora adicione uma foto. Não qualquer foto, tem que ser aquela foto: sensual, iluminada, com a pele 100% suave. Não se preocupe, em nossos anúncios, sugeriremos diversos aplicativos de edição de fotos para te inspirar. Conseguiu? Já estamos acabando. Antes disso, aceite nossos termos. Não, você não precisa ler para onde vão os seus dados, aqueles reais, e como (venderemos) utilizaremos* internamente. Aceitou? Pronto! Você acabou de criar uma nova identidade.

É notório que as mídias sociais vieram para tornar o mundo mais conectado, aproximar e otimizar processos. Nessas mídias circulam um turbilhão de informações por segundo, que navegam até atingirem o principal alvo: você!

Aposto que para chegar até aqui, neste texto, em algum momento foi necessário criar um usuário — afinal, por meio de qual rede social ou aplicativo você chegou até aqui? –, que será capaz de definir quem é você nesse mar de conexão. Quais são seus principais interesses, sites acessados, artistas favoritos. Mas, como já mencionado, muitas vezes não é necessário fornecer informações reais. Sites de interação social como Instagram, Facebook, Tinder e Twitter não solicitam comprovação de identidade. Como no início do texto, eles fornecem a você o poder para definir sua profissão, aparência, estilo, papel social, como um boneco “senhor cabeça de batata”, que podemos montar partes da personalidade. É possível ser um juiz e analisar provas com base em 15 segundos de story. É possível ser médico, biólogo, engenheiro, encontrar diagnósticos, o par perfeito ou qualquer informação ao clicar na lupa do Google. A internet tem a capacidade de dar ao homem o seu maior desejo: poder.

Este não é um texto para discutir como os algoritmos processam dados, mostram anúncios no feed sobre seus principais interesses ou lhe fornecem a falsa sensação de saber tudo — quando, na verdade, não se sabe nada. Não é o texto para questionar sobre onde está o senso crítico da humanidade quando se compartilha uma fake news alienante (lembra de Pabllo Vittar nas notas de 50 reais?). Este é o texto para instigá-lo sobre poder e como no final todas as coisas sobre as quais afirmei não discutir estão incluídas nele (também sei jogar fake news).

O poder está associado ao domínio, à força, ao deter, fazendo-se presente em todas as relações, sejam elas sociais ou econômicas. De acordo com o filósofo francês Foucault, o poder é a capacidade ou possibilidade de agir ou de produzir efeitos”, sendo algo que se transmite em diversas relações.

A internet oferece o poder de ver e ser visto. Queremos estar no topo, alcançar milhares de seguidores, ser influentes, possuir o sucesso que nos concede a falsa sensação de poder. Conectar-se com outras pessoas deixa de ser uma interação social básica para se tornar um vício, onde nos deixamos alienar por segundos de endorfina ao receber uma curtida numa foto. Nossas relações se tornaram tão superficiais quanto nosso conhecimento. No final, tudo gira em torno do poder.

Imagem: Daria Nepriakhina/Unsplash.

O homem de fato possui o espirito “Dora aventureira”. Queremos explorar, conhecer o novo, o outro, mesmo que isso exija ultrapassar nossos limites, custe nossa privacidade ou saúde. Queremos ser e acontecer, mostrar o que, quando, como fazemos o que fazemos. O importante é exibir e observar. Nós podemos isso, certo?

O poder é algo almejado e viciante, que pode ser vinculado à liberdade. Porém, muitas vezes essa liberdade não é tão real quanto se imagina. Quero que você pense numa prisão. Parece estranho, mas pense na estrutura. Salas abertas, rodeadas de grades, mas ainda assim se pode ver, observar tudo que se passa. Quem está dentro da cela é consciente de que pode ser visto, mas o poder se concentra nas mãos do que estão do lado de fora das grades. Foucault definiu essa relação de vigilância e poder como panoptismo.

Um exemplo de como é possível ser moldado pelas mídias sociais é o aumento nos casos de ortorexia e distorção de imagem. A mídia vende um corpo magro como algo bonito. Milhares de adolescentes na tentativa de alcançar esse padrão acabam por arriscar sua saúde.

Muito se tem discutido sobre as consequências que a conexão proporcionada pelas redes pode trazer para o ser humano. É importante estar atento para o uso excessivo. Como disse Don Vito Corleone em “O Poderoso Chefão”, vou lhe fazer uma oferta que você não poderá recusar: usar as redes sociais é algo muito bom; acompanhar amigos e familiares distantes, notícias e informações ao vivo é realmente excitante, mas vá com calma! Esteja atento ao uso excessivo, aos sintomas ansiosos e depressivos. Estipule um tempo para realizar atividades fora das redes. Preserve sua saúde. Você pode! Para encerrar, deixo a seguinte citação de Francis Bacon: “É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade”.

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Alinemuniz
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Escrevendo poemas aleatórios sempre que possível