Os avanços da Medicina em 2020

Como a ciência e a medicina superaram o crescente negacionismo e anti-intelectualismo em um ano como este

Isabela Siyao Chen
Revista Brado
5 min readDec 22, 2020

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Foto: Freepik

O ano de 2020 trouxe para a humanidade um desafio que pôs em evidência a nossa capacidade adaptação ao adverso e principalmente o nosso poder de sentir empatia e compaixão. Claramente, falhamos miseravelmente em alguns pontos, evidente pela quantidade de mortes que, embora às vezes esquecemos, são muito mais que números. No entanto, diante tantas desavenças, anti-intelectualismo, negacionismo e questionamentos da ciência, esse ano não deixou de ser marcado por inúmeros avanços no campo da saúde, sendo o maior exemplo a vacina imunizante contra o Sars-Cov-2.

Imagem: Reprodução

Na perspectiva de desenvolvimento da vacina, em maio de 2020, contabilizava-se mais de 47 projetos em fase inicial. Agora, no fim de dezembro, contamos com dados promissores para a aplicabilidade da imunização. Dentre as possibilidades, temos a CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac, anunciando uma eficácia de produção de anticorpos em 97% dos voluntários testados; além da Sputnik V; Pfizer; e Moderna, com eficácia acima de 90% em estudos publicados após a fase 3 dos testes, bem como a AstraZeneca de Oxford, Inglaterra, com eficácia de 90% entre os voluntários testados com meia dose e depois a dose completa e 62% entre aqueles que receberam as duas doses cheias.

Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Essas pesquisas buscaram diversas abordagens tecnológicas, contando com estudos de vacina à base de vírus atenuado, vírus inativado, vacinas recombinantes e vetorizadas, usando a biologia molecular para explorar as plataformas de mRNA e DNA, mesmo que não exista nenhuma vacina aprovada que use essa última via tecnológica. Ademais, o uso de peptídeos sintéticos, identificados por modelagem in sílicos específico do vírus causador da Covid-19, que possui maior espectro de reação cruzada, com apresentação em nanopartículas. A técnica usando os peptídeos é capaz de encurtar o tempo de desenvolvimento com baixo custo de produção, uma vez que foi descoberto o uso da espícula (spike) pelo vírus para infectar as células, em um mecanismo de chave e fechadura, ligando-se à enzima conversora de angiotensina 2 (ACE-2) presente nas células de tecidos humanos, como os pulmões, e ativando-as.

Imagem: Ministério da Saúde/Brasil

Outro fator que obteve enorme avanço em 2020 é a prática da telemedicina e a saúde on-demand autorizada pela Lei nº13.989, de 15 de abril de 2020, em todo o território nacional enquanto perdurar a pandemia. Apesar da autorização ser temporária, ela mostra o potencial de transformação e evolução da qualidade do atendimento à saúde através da tecnologia, podendo trazer benefícios como a paridade no custo-benefício e a otimização do tempo, captação e armazenamento eficaz e seguro de dados do paciente e seus procedimentos, além da agilidade no processo de tratamento e entrega de resultado de exames. Esses avanços da medicina, com a implementação da tecnologia, têm sido aprimorados pela criação das conexões 5G, que permitem a realização de procedimentos controlados à distância, permitindo, inclusive, que o exame físico seja viabilizado. Em países como a Suíça, a presença de aplicativos de telemedicina já são uma realidade, tendo como destaque a Stuward e Eedoctors, sendo a primeira responsável por conectar médicos com pacientes em busca de consultas online, ajudando os profissionais independentes a competir com grandes empresas, enquanto a segunda é o primeiro consultório virtual com acesso direto pelos smartphones, oferecendo a chance de elaborar diagnósticos formais em consultas no meio virtual. Ambas possuem a tecnologia 5G como responsável por manter a conexão estável e confiável entre os sujeitos.

Imagem: verbaska/DepositPhotos

Outra aplicação tecnológica que ganhou visibilidade é a realidade virtual nos tratamentos médicos, principalmente nas áreas de cuidado com as dores, transtorno bipolar e transtorno de estresse pós traumático, sendo uma aposta que países como os Estados Unidos fazem anualmente, alcançando 5,1 bilhões de dólares já em 2005. Essa tecnologia funciona à base da aplicabilidade dos conceitos de Machine Learning e Inteligência Artificial (IA), caracterizada pela possibilidade de processar informações e fornecer dados para as decisões de modo semelhante ao ser humano, podendo melhorar o procedimento de diagnóstico, quando avaliados os fatores de precisão e velocidade e, consequentemente, a identificação precoce de enfermidade. A adoção da Inteligência Artificial é uma realidade na área cirúrgica, tendo o Brasil como o país que mais faz cirurgia robótica em toda a América Latina, tendo realizado mais de 5 mil procedimentos até 2018.

Imagem: Reprodução/Twitter @NobelPrize

Um último destaque, mas não menos importante: o prêmio Nobel de Medicina 2020 foi concedido a Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice, por descobrirem o vírus da hepatite C, responsável por causar cirrose e câncer de fígado. No mundo são afetadas aproximadamente 71 milhões de pessoas com hepatite C, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse vírus, até então desconhecido, foi analisado por meio de estudos metódicos sobre hepatite associada a transfusões de sangue pelo norte-americano Harvey J. Alter e o estudo britânico por meio do isolamento de genoma do novo vírus, feito por Michael Houhgton, em conjunto com o estudo do norte-americano Charles M. Rice, que proporcionou a conclusão da pesquisa com a amostragem de que o vírus da hepatite C, sozinho, é capaz de causar a hepatite.

Imagem: JONATHAN NACKSTRAND/GETTY IMAGES

Apesar de 2020 não ter sido o melhor ano para a ciência diante a onda de negacionismo, o saber científico se mostrou resiliente diante dos desafios, superou adversidades que o colocaram como um dos protagonistas na luta contra a Covid-19 e salientou ao mundo que aqueles países com governos que não investem e não valorizam o conhecimento não vão ser capazes de entender o valor da vida, e por isso jamais serão capazes de atuar à altura do cargo que ocupam e fracassarão ao tentarem fazer o país avançar e melhorar.

Portanto, um brinde à ciência e à Medicina!

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Isabela Siyao Chen
Revista Brado

(爱)| Amarela | Paulista | Acadêmica de Medicina | Ambientalista | Voluntária | Colunista da Revista Brado | Um Mistério em Várias Línguas |