Por que você é tão obcecado por mim?

Saiba como uma simples admiração pode se tornar perigosa

Alinemuniz
Revista Brado
3 min readNov 19, 2021

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Foto: Wendy Wei/Pexels

Em algum momento da sua vida você já foi um fã. Encheu a parede com pôsteres do seu cantor ou banda favorita, empilhou diversas revistas que estampavam o seu novo ídolo, preencheu diversos quizzes na internet pra saber “que tipo de fã você é”, ficou horas no telefone esperando que os radialistas dissessem uma frase — isso mesmo, UMA frase — entre duzentas músicas para ganhar um ingresso grátis para o show — alô geração Z, vocês perderam a melhor parte de ser um fã.

Admirar um cantor ou uma boyband norte-americana estava entre o “top 10 atitudes” de qualquer adolescente dos anos 2000. É um fato: sempre existirá um fã. Não deixamos de admirar coisas e pessoas só porque passamos da fase “aborrecente”. Com o tempo, nossos desejos, aspirações e ídolos mudam. Mas quando a admiração passa a ser algo perigoso?

A idolatria está presente desde as civilizações antigas, onde os povos cultuavam diversas divindades. Para entender melhor o significado de idolatria, o dicionário a define como “Excesso de amor; admiração demonstrada de maneira exagerada”. A idolatria começa com a contemplação, o desejo e, quando não controlada, pode resultar na obsessão.

A admiração nasce com o ideal do herói: um anônimo que sai de sua vida simples para se tornar um astro popularmente conhecido. Ficamos comovidos pela sua história de vida, acompanhamos todas as postagens sensacionalistas em sites de fofoca, defendendo-os vorazmente de qualquer acusação. Queremos nos vestir, andar, falar como nosso admirado. Tornamo-nos fanáticos pelo desconhecido.

Fanático significa “um entusiasmo exagerado por alguém ou por uma ideologia” . De acordo com Rocha, o fanático se considera superior e se fecha em suas próprias “verdades incontestáveis”. Um exemplo de fanatismo que não está muito longe da nossa realidade são os fanáticos por futebol. O grupo no qual estamos inseridos possui uma grande influência nas nossas atitudes. Nele, o indivíduo sente-se poderoso e ultrapassa o que antes era censurado em seu inconsciente, transformando em ato. Um exemplo disso seriam as brigas que ocorrem entre diferentes torcedores ao final dos jogos.

Uma verdade, talvez incontestável (não, não estou ficando fanática), é que nos movemos pelo desejo. De acordo com o psicanalista francês Jacques Lacan, o desejo sempre provém do outro. No caso do fanatismo, o indivíduo vê em seu ídolo, que pode ser um objeto ou o Outro, a concretização dos seus desejos mais profundos. De acordo com um estudo realizado por cientistas, existem três níveis de “admiração”: a de entretenimento; a intensa, na qual desenvolve-se sentimentos compulsivos; e a quase patológica, em que se fantasia uma relação com o seu ídolo.

O cantor John Lennon em trecho do clipe da música “Imagine”. Foto: Reprodução/YouTube

Um exemplo de como a admiração pode virar uma obsessão perigosa é o que aconteceu com John Lennon. O cantor, ex-vocalista da banda “The Beatles’’, foi assassinado a tiros, na saída de seu prédio, por um suposto fã. Bizarro, não?

Não há problema em ser fã, muito pelo contrário: nossa cultura e nossos artistas precisam disso. Temos que concordar numa coisa: mesmo em meio a situações no mínimo estranhas, os artistas possuem a capacidade de nos render obras estrondosas. Obsessed, hit chiclete da cantora Mariah Carey, foi uma resposta — e que resposta — a um suposto cantor de rap que afirmou possuir um caso com a cantora. Resultado: o clipe acumula mais de 173 milhões de visualizações. Incrível, não?

Trecho do clipe oficial de “Obsessed”. Foto: Reprodução/Youtube

Podemos colar nossos pôsteres, colecionar nossos discos, contemplar diversas artes. Mas devemos estar sempre atentos a quando esse tipo de relação pode deixar de ser algo saudável. Como diz o escritor gaúcho Sandro Kretus: “Não faça do amor uma obsessão, o amor é sensível demais para ser sufocado”.

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Alinemuniz
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Escrevendo poemas aleatórios sempre que possível