Próteses artificiais ativas

Como recuperar um membro do corpo e melhorá-lo

Pedro Fabriz
Revista Brado
4 min readJul 28, 2021

--

Reprodução/TED

Uma área que está em constante crescimento na área da pesquisa é a de membros robóticos artificiais para amputados ou pessoas com deficiência motora. Segundo o DATASUS, o Brasil registrou 590.426 hospitalizações por amputação de membro inferior entre 1992 a 2019. Além disso, de acordo com dados do Equalize Health, há 969.060 amputados acima do joelho em países de baixa e média renda. Essas pessoas estão privadas de exercer atividades simples, como andar.

Exercícios cotidianos, para eles, tornam-se um fardo, uma vez que a biomecânica corporal é totalmente afetada pela falta de um membro. É preciso entender em nosso corpo os sistemas mecânicos e dinâmicos (conexão de músculos e estrutura óssea e como eles executam o movimento) devem seguir um padrão, e qualquer desalinhamento afeta consideravelmente a saúde do indivíduo.

Para tentar contornar o problema, a tecnologia entra em ação. Ainda assim, é impressionante o fato de que cada dia ela avança mais, aumentando a potência de nossos computadores, facilitando nossa vida com assistentes virtuais, aumentando nossa realidade com utilização de óculos especiais, mas ainda temos tênis e sapatos que nos dão bolha no pé e calos. O fato é que conectar objetos ao nosso corpo é um trabalho delicado e envolve muita tecnologia, ainda mais se esse objeto vai suprir a falta de um membro perdido.

Prótese de pé passiva — Reprodução/Blog da Saúde

Hoje, grande parte dos casos de amputados de membro inferior (vou me ater a membro inferior para facilitar, mas grande parte do que vou comentar também se aplica a outras partes do corpo) é tratado com uso de próteses passivas, isto é, não conseguem gerar nem dissipar energia durante a marcha, algo que acontece em membros saudáveis. O uso de tecnologia como essa pode recondicionar uma pessoa para andar, mas com muitos prejuízos, tendo uma sobrecarga enorme em outras partes do corpo, como quadril e coluna, e aumentando o nível de estresse no processo de reabilitação.

Outra opção é a prótese semiativa, que consegue dissipar energia durante a marcha de maneira controlada por meio de alguns dispositivos, porém não é possível gerar a energia necessária, fazendo-se uma melhor opção em relação à tecnologia passiva, porém ainda insuficiente para a reabilitação ideal do paciente.

A melhor abordagem é a da tecnologia chamada ativa, capaz de realizar o movimento para a pessoa, chegando mais próximo do membro saudável. Infelizmente, essa tecnologia ainda não é muito presente no mercado. Para o caso de um amputado transfemoral, ainda só existe uma prótese de joelho desse tipo no mercado (Power Knee, Össur) chegando a custar até 50 mil dólares — no caso de outros membros a presença no mercado também é limitada.

Para chegar em um modelo de prótese ativa, precisamos juntar algumas unidades: primeiro um atuador (motor, por exemplo) para reproduzir a função dos músculos; depois um computador embarcado para rodar algoritmos de controle e mandar comandos para o atuador (podemos pensar nele como o sistema nervoso do nosso corpo, que envia “comandos”); depois sensores embutidos, para que se possa entender em qual fase do movimento a pessoa está (sensores de toque, eletromiografia, etc.); e por último uma bateria para alimentar todo esse sistema.

Prótese de joelho ativa — Össur

Grande parte dessa tecnologia ainda está em laboratórios de pesquisa espalhados pelo mundo, onde grandes mentes trabalham para chegar em tecnologias cada vez melhores para reabilitação. O algoritmo de controle que roda no computador embarcado é uma parte muito importante e está em constante evolução. Todo ano surgem novas abordagens publicadas em artigos de grandes revistas. Há formas de capturar sinais musculares (eletromiografia) e utilizar como sinais de controle para a prótese. Dessa forma nos aproveitamos de um fenômeno chamado membro fantasma, no qual a pessoa consegue pensar em movimentar aquele membro que falta e controlar de fato o membro artificial.

Não importa como se crie o algoritmo de controle, o importante é fazer com que o membro artificial execute uma sequencia de estados definidos para cada atividade. Para acelerar o processo de prototipagem desse tipo de tecnologia, temos a iniciativa do laboratório da Universidade de Michigan: a Open Source Leg (OSL). Os pesquisadores criaram uma prótese de membro inferior completa (joelho e pé) e disponibilizaram o passo a passo de como reproduzi-la em laboratório, dessa forma acelerando o desenvolvimento de software para controle, uma vez que a parte mecânica já estaria resolvida.

Reprodução/Pinterest

Ainda falta muito para que se torne comum ver uma pessoa que sofreu amputação executando tarefas com pouco esforço, porém é muito interessante ver como sistemas de aço e silício estão tomando forma de sistemas biológicos. Quem sabe no futuro possamos nos inspirar em outros sistemas biológicos da natureza e reproduzir isso. Seria interessante ter um par de asas para facilitar nosso transporte no dia a dia… Mas isso é tema para um próximo texto.

--

--

Pedro Fabriz
Revista Brado

Estudante de Engenharia Elétrica. Cofundador e Programador da Atitude Ubuntu e apaixonado por Ciência e Tecnologia. Colunista e Editor da Revista Brado.